ENSAIO SOBRE O CABRÃO

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A CAUSA DAS COISAS
ENSAIO SOBRE O CABRÃO
Há cabrões por todo o lado. Na política, no cinema, na literatura, na construção civil, nos panificadores, nos camionistas, nos jornalistas, nos palhaços, nos canalizadores, nos mineiros, nos operários, nos sovinas e nos ardinas. Há cabrões por todo o lado. Se Portugal quiser sair da crise, tem de apostar fortemente na exportação do cabrão: levar o nosso cabrão além-fronteiras. Temos, não tenho dúvidas, os melhores (e maiores) cabrões do mundo. É uma pena que não se rentabilize devidamente essa mais-valia. Teríamos, no cabrão, uma fonte inesgotável de receita. Mas somos demasiado cabrões para vender aquilo que de melhor temos.
O cabrão é a hiena das selvas de pedra. Aquela criatura que nada faz para comer – a não ser esperar que os outros façam alguma coisa para comerem. E para ele – a hiena – poder comer. Feio, feroz e fétido, o cabrão sabe que para sobreviver tem de sobre-viver: de viver por cima da vivência dos outros: por cima do mérito dos outros. É esse, para si, o seu grande mérito.
O cabrão é o predador dos predadores: o execrável ser que come o que os outros tiveram de trabalhar dias, meses ou anos para estarem em condições de comer. O cabrão é, por isso, uma espécie de upgrade do chulo. O que faz com que seja, claro está, menos chulo do que o chulo. E ainda mais cabrão.
Um cabrão esfomeado é capaz de tudo para comer. Um cabrão saciado é capaz de tudo para comer. Um cabrão é, em suma, capaz de tudo para comer. E, mais do que isso, come de tudo para comer. O mais importante, para o cabrão, é comer. Come o que for preciso, come o que não for preciso. Come para comer, come por comer. Para o cabrão, a vida é como uma guerra: ou comes ou és comido. É, aliás, essa a forma que encontra para discernir o que é comestível ou não: se comeu isto, é porque isto é comestível; se comeu aquilo, é porque aquilo é comestível. O cabrão é, então, especialista naquilo que ele mesmo denomina de pós-decisão: primeiro faz, depois decide se deve ou não fazer o que acabou de fazer. E chega à conclusão de que, se fez, é porque o deveria ter feito. E toma, feliz, a decisão de fazer o que já está feito. É por isso que o cabrão, ao contrário dos restantes mortais (e imortais), nunca está feito.
O cabrão ganha sempre. Seja um jogo, uma aposta. O cabrão ganha sempre. O cabrão ganha mais quando perde do que quando ganha. Porque, quando perde, o cabrão ganha o álibi perfeito para ser verdadeiramente o verdadeiro cabrão que é. E rouba, e faz batota, e envenena o adversário, e sabota o carro de quem ousou desafiá-lo. O cabrão só se sente vencedor quando é cabrão: quando tem de ser cabrão. A derrota é a felicidade por vir do cabrão. O cabrão ganha sempre. O cabrão – seja qual o resultado – ganha sempre. Ai o cabrão!

ENSAIO SOBRE O CABRÃO
Há cabrões por todo o lado. Na política, no cinema, na literatura, na construção civil, nos panificadores, nos camionistas, nos jornalistas, nos palhaços, nos canalizadores, nos mineiros, nos operários, nos sovinas e nos ardinas. Há cabrões por todo o lado. Se Portugal quiser sair da crise, tem de apostar fortemente na exportação do cabrão: levar o nosso cabrão além-fronteiras. Temos, não tenho dúvidas, os melhores (e maiores) cabrões do mundo. É uma pena que não se rentabilize devidamente essa mais-valia. Teríamos, no cabrão, uma fonte inesgotável de receita. Mas somos demasiado cabrões para vender aquilo que de melhor temos.
O cabrão é a hiena das selvas de pedra. Aquela criatura que nada faz para comer – a não ser esperar que os outros façam alguma coisa para comerem. E para ele – a hiena – poder comer. Feio, feroz e fétido, o cabrão sabe que para sobreviver tem de sobre-viver: de viver por cima da vivência dos outros: por cima do mérito dos outros. É esse, para si, o seu grande mérito.
O cabrão é o predador dos predadores: o execrável ser que come o que os outros tiveram de trabalhar dias, meses ou anos para estarem em condições de comer. O cabrão é, por isso, uma espécie de upgrade do chulo. O que faz com que seja, claro está, menos chulo do que o chulo. E ainda mais cabrão.
Um cabrão esfomeado é capaz de tudo para comer. Um cabrão saciado é capaz de tudo para comer. Um cabrão é, em suma, capaz de tudo para comer. E, mais do que isso, come de tudo para comer. O mais importante, para o cabrão, é comer. Come o que for preciso, come o que não for preciso. Come para comer, come por comer. Para o cabrão, a vida é como uma guerra: ou comes ou és comido. É, aliás, essa a forma que encontra para discernir o que é comestível ou não: se comeu isto, é porque isto é comestível; se comeu aquilo, é porque aquilo é comestível. O cabrão é, então, especialista naquilo que ele mesmo denomina de pós-decisão: primeiro faz, depois decide se deve ou não fazer o que acabou de fazer. E chega à conclusão de que, se fez, é porque o deveria ter feito. E toma, feliz, a decisão de fazer o que já está feito. É por isso que o cabrão, ao contrário dos restantes mortais (e imortais), nunca está feito.
O cabrão ganha sempre. Seja um jogo, uma aposta. O cabrão ganha sempre. O cabrão ganha mais quando perde do que quando ganha. Porque, quando perde, o cabrão ganha o álibi perfeito para ser verdadeiramente o verdadeiro cabrão que é. E rouba, e faz batota, e envenena o adversário, e sabota o carro de quem ousou desafiá-lo. O cabrão só se sente vencedor quando é cabrão: quando tem de ser cabrão. A derrota é a felicidade por vir do cabrão. O cabrão ganha sempre. O cabrão – seja qual o resultado – ganha sempre. Ai o cabrão!
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