ELOGIO DA TRISTEZA DANIEL GONÇALVES

PARA QUE TUDO VALHA A PENA

se a barriga, se os pulmões, se os pés estão bem, que dizer da cabeça, gozando dos sentidos, que dizer do coração, conduzindo a poesia, e destas mãos, que dizer destas mãos que te amaram,

dentro e fora deste peito, que dizer desta virtude, chorando o sangue em excesso, poupando nas memórias e nos augúrios, nada fará mais por esta fortuna, que se mantém a pão e água,

nada mais nos faltará, nem tão pouco a ideia de ir mais além, onde o futuro nos come a pensão, cantando pelos girassóis, inundando a única

estrela que aceita, girar em torno deste mundo, tão raro e excessivo, e sempre tão miúdo, para esta sede ingrata, que não pára de beber.