EDUCAÇÃO VS INSTRUÇÃO, PAULA SOUSA LIMA

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Aqui vai, AMIGOS, a crónica deste sábado:
Acerca das palavras XLIV – educação vs instrução
Nem todas as palavras encerram em si uma completa precisão, isto todos o sabemos; algumas há, todavia, cuja imprecisão é excessiva – ou poderá acontecer que sejamos nós, utentes das palavras, que lhes acrescentemos contornos inalienáveis de imprecisão. Tal acontece, parece-me, com a palavra “educação”, entre nós confundida com “instrução”. Segundo o parco dicionário do meu computador, “educação” é sinónimo de educação, ensino, polidez, delicadeza. Também segundo este mesmo dicionário, “instrução” é sinónimo de ensino, ensinamento, educação, alfabetização, formação. Não é, portanto, o dicionário que nos elucida.
E não nos elucida porque o dicionário, este do computador, básico e pouco desenvolvido, muitas vezes impreciso, ou outro qualquer, é uma construção humana, e o ser humano está sempre, de uma forma ou de outra, condicionado pelo que vê, pelo que ouve, pelo que lhe ensinam, por aquelas que são as suas circunstâncias. De facto, nos dias que correm, a palavra “instrução” quase caiu em desuso, e tudo é “educação” – desde os princípios basilares do socialmente aceitável até às aprendizagens que se fazem nas escolas e mesmo nas universidades. Lembro-me bem, todavia, dos tempos em que a chamada, à altura, escola primária também tomava a designação de instrução primária. Isto mudam-se os tempos, igualmente se mudam não só vontades, como disse o Poeta, mas também palavras – e ficamos deselucidados.
Elucida-nos, provavelmente, o nosso bom senso e aquilo que associamos a cada uma das palavras em apreço. De facto, todos reconhecemos que “educação” tem a ver com comportamento(s), enquanto “instrução” se associa a conhecimento(s), esse(s) que nos advém (advêm) do estudo, seja ele formal, seja ele informal ou autodidático. No entanto, temos o Ministério da Educação, e este diz respeito às instituições de ensino – note-se, porém, que se diz instituições de ensino e não instituições de educação, o que já marca o rumo correto, quanto a mim, da palavra. Também se vai dizendo e ouvindo dizer, nestes nossos tempos carentes de bons valores, de polidez, de delicadeza, que “a educação vem de casa, e o professor ensina, não educa.” Sábias palavras estas, com as quais, imagino, nem todos concordam.
Ora a “instrução” será, de acordo com uma aceção elucidada da palavra, aquilo que diz respeito ao ensino, sendo o que dele advém, ou seja, aquilo que se aprende (ou apreende) na escola e que irá formar as pessoas em termos intelectuais. Por outro lado, e paralelamente, temos a educação, que se reporta às boas maneiras – e não só, pois uma pessoa realmente bem-educada é aquela que lida com as outras de forma correta e delicada, não aquela que sabe, tão-só, pegar bem nos talheres e colocar o guardanapo sobre os joelhos quando degusta a refeição – ou coisas afins. Os predicados da boa educação pouco têm a ver com os conhecimentos académicos, como cada vez mais se vai notando, e também se destacam de regras e etiquetas que podem ser assimiladas facilmente em qualquer fase da vida. De facto, como bem se diz, a boa educação vem do berço, isto porque se reporta aos valores que ditam a forma como cada um se relaciona com os seus semelhantes – começando, exatamente, pela consciência de que os outros, independentemente de qualquer circunstância económica, cultural, racial, etc. são nossos semelhantes, tendo, pois, direito à nossa delicadeza.
Cabe à escola ensinar, tal cabe à família educar. A invasão de um dos domínios pelo outro não é, porém, descabida: pode a família participar da instrução, pode a escola auxiliar no processo educativo, cimentado valores e princípios da boa formação.
Ana Isabel D’Arruda, Henrique Levy and 15 others
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