E se o Natal puder fazer mal?

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Filipe Fernandes* diário dos açores 14.12.25

O sapatinho e o luto…
E se o Natal puder fazer mal?

 

 

 

 

Com a chegada do mês de Dezembro, entramos na quadra natalícia. É seguro afirmar que iremos
relembrar, vezes demais, a Mariah Carey, que a publicidade passa a conter mais referência a
brinquedos e que emerge um grande entusiasmo em muitas pessoas, miúdas e graúdas. É, contudo,
também seguro afirmar que, noutras pessoas, emerge a melancolia ou uma tristeza profunda. Ao
contrário do que possa parecer, e transparecer, o Na- tal é uma época difícil para muitos de nós e
a vivência das ausências que se constatam na mesa de Natal, na lista de prendas ou nas visitas que
se fazem muito contribui para tal. A aproximação do Natal é uma boa oportunidade para falar de
lutos e para pensarmos sobre alguns dos seus mitos.
É um erro pensar que só a morte de alguém leva ao luto. O luto é uma reação normal à perda de
alguém ou de algo significativo. Assim, pode ser desencadeado pela morte de uma pessoa ou de um
animal de estimação importante para nós, mas também por um divórcio ou uma separação, por uma
doença que conduza à perda de capacidades ou de autonomia, entre muitas outras situações.
É certo que o processo de luto pode implicar algumas fases, contudo a ideia que há uma sequência
definida é um mito. Ao longo do tempo, vários autores identificaram diferentes fases nos processos
de luto (por exemplo, negação, choque, tristeza, aceitação). No entanto, a ideia de que um luto
saudável implica um conjunto de fases, numa determinada sequência está ultrapassada. Não existe um
“mapa” único para o processo de luto.
Durante muito tempo, persistiu o costume, de usar cores escuras duran- te o luto. Não existe uma
forma “certa” ou “errada” de se vestir durante o

 

 

 

 

 

luto. Por exemplo, usar roupa colorida durante o luto não é sinal de falta de respeito.
O luto e a depressão são condições distintas, apesar de algumas mani- festações poderem ser
semelhantes. O luto não patológico é uma reacção expectável diante de uma perda, enquanto a
depressão é um problema de Saúde Psicológica. Apesar de algumas situações de luto podem
prolongar-se no tempo e podem evoluir para estados depressivos, a vivência do luto não implica
estar deprimido.
Reconhecer que nos sentimos melhor, não significa que esquecemos aqui- lo ou aquela pessoa que
perdemos. Muitas pessoas em luto sentem-se culpa- das quando têm momentos de alegria e
descontração. O propósito do luto não significa esquecimento. Pelo contrário, pode significar a
criação de uma ligação interna com a pessoa que morreu (com quem podemos e devemos continuar a
relacionar-nos, mas de uma outra forma) e de um novo signifi- cado para a vida, que continua. A
relação não termina: é transformada.
Para mais informação sobre este tema, consulte o Portal Eu Sinto.me da Ordem dos Psicólogos
Portugueses.
Fique bem pela sua saúde e a de todos os açorianos.
Um conselho da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

*Psicólogo Clínico e da Saúde e Vogal da Direcção da DRA/OPP

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