desacreditar o virólogo

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Pedro Simas, o virologista “vaidoso” e “precipitado” que todos conhecem
A pandemia trouxe-o de forma regular para a frente das câmaras. Alunos lembram-no como um bom professor e “descontraído”. Colegas de profissão lamentam a vontade de comentar tudo. Há dias uma publicidade onde aparece foi suspensa por ter informações “enganosas”.
A pandemia de covid-19 trouxe os cientistas e médicos para a ribalta mediática. Habituámo-nos a ver epidemiologistas, médicos de saúde pública e especialistas em doenças tropicais nas nossas televisões, mas também virologistas. E entre esta classe de médicos, ninguém terá aparecido mais vezes do que Pedro Simas.
João Pedro Simas tem 55 anos e vive em Lisboa. O pai é dos Açores e é neste arquipélago que o médico pratica um dos seus desportos favoritos (mas longe de ser o único): a caça submarina. Também gosta de cozinhar e tem dois filhos. Deu aulas na Universidade de Lisboa – em breve vai começar um novo desafio académico na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa – e pelo meio investigava vírus e falou extensamente sobre a covid-19, alguns consideram até que demais.
Com a pele sempre bronzeada e com ar descontraído, o virologista tornou-se famoso à conta das suas participações sobre o vírus em jornais, revistas e programas de rádio, mas também devido às várias aparições em programas de entretenimento, onde revelou a sua personalidade, mais do que qualquer um dos seus colegas que também ganharam nova visibilidade.
Pedro Simas concluiu o doutoramento na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e foi investigador no Instituto Gulbenkian de Ciência até 1999. Há 20 anos entrou para a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e para o Instituto de Medicina Molecular (iMM), onde se dedicou a estudar dezenas de vírus, em investigações a nível nacional e internacional.
Os alunos contam à SÁBADO que Simas é um professor “dedicado e capaz” e elogiam a forma como leciona as suas aulas, bem como a disponibilidade para esclarecer dúvidas e debater. No entanto, referem ainda que por vezes é intransigente, no entanto, a avaliação é bastante positiva. Os alunos apreciam também a sua descontração que contrastava com o estilo de muitos dos professores da Faculdade de Medicina.
Mas esse mesmo à vontade incomoda alguns colegas que preferiram não falar em on sobre o virologista. “É precipitado e muitas vezes afirma coisas sobre as quais não é possível ter já a certeza”, assegura um médico, referindo-se à declaração de que já se pode largar a máscara no espaço público. “Já não há o risco de doença severa porque a população já tem imunidade”, afirmou Simas em declarações à SIC Notícias, afirmação que colocou alguns colegas em alerta.
Outro médico diz à SÁBADO que Simas pode ser “um excelente virologista”, mas que isso não o habilita a falar de todos os assuntos relacionados com medicina ou com a pandemia e que já houve situações em que “prejudicou mais do que beneficiou” os portugueses pela forma como comunicou certas situações.
Mas a vida de Simas vai muito além da medicina e dos telejornais. No último ano e meio tornou-se figura assídua dos programas matinais, especialmente o de Cristina Ferreira (enquanto esta estava na SIC). No Programa da Cristina, Simas revelou que tinha uma grande vontade de ser convidado daquele programa para cozinhar. Bem dito, bem feito, meses depois foi até aos estúdios da SIC para cozinhar lulas com noodles no programa da apresentadora, onde admitiu ser vaidoso com as suas criações.
Mas esta não foi a primeira vez que cozinhou para outros. Aos 50 anos, Simas abriu uma gelataria, a Sorbettino, no Chiado e criou um sabor único dedicado ao iMM, nata com esferas de menta. Entretanto a gelataria fechou e Simas voltou aos auditórios da universidade, mas sem nunca deixar de se dedicar à sua paixão pelos ingredientes, sem nunca descuidar a parte física.
Porque a verdade é que além da investigação e da cozinha, umas das grandes paixões de Simas é o desporto. Revelam os alunos que é normal vê-lo com uma mochila desportiva. Entre os desportos que prefere contam-se mountain biking, caça submarina, windsurf, surf e parapente.
A polémica da publicidade
Mas nem tudo é um mar de rosas na vida paralela de Simas. Além da cozinha e do desporto, descobriu também a publicidade, mas a aventura trouxe-lhe dissabores, recentemente.
A Auto Regulação Publicitária obrigou a empresa Zeiss a suspender uma campanha publicitária a envolver o virologista por considerar que a publicidade a uma lente que “elimina 99,9% dos vírus e bactérias potencialmente nocivos da superfície”, pode levar a influenciar “de forma abusiva o consumidor”, dado que estas alegações são “enganosas”.
Esta publicidade na qual é utilizada a imagem da apresentadora Catarina Furtado, foi suspensa depois de uma queixa da concorrente da Zeiss na área dos produtos óticos, a Essilor. Ao lado da apresentadora de televisão aparecia o médico.
A entidade da regulação publicitária considerou a campanha ilegal, dado que o uso da imagem do médico viola a alínea f) do artigo 46 do código da publicidade, que impede que se “faça referência a uma recomendação emanada por cientistas, profissionais de saúde ou outra pessoa que, pela sua celebridade, possa incitar ao consumo de dispositivos médicos”.
Em reação à notícia de que se estava a proceder à retirada dos cartazes com Simas por “alegações enganosas que influenciam de forma abusiva o consumidor”, a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa veio desmarcar-se do professor através de um comunicado, afirmando que o médico não pertence aos quadros da instituição desde o dia 13 de julho de 2021. O virologista era investigador do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, da Universidade de Lisboa.
A saída de Pedro Simas estará relacionada com a sua ida para a Faculdade de Medicina da Universidade Católica. Durante mais de 20 anos, Simas lecionou na Faculdade de Medicina de Lisboa.
A política
Recentemente, também se descobriu que Simas é um apoiante de Moedas e do PSD à Câmara Municipal de Lisboa e que está a fervilhar de ideias para a capital.
Fonte da campanha de Carlos Moedas recusou-se a comentar o caso concreto da publicidade, mas assegurou que a candidatura mantém a confiança no médico que surge em oitavo lugar na lista para a Câmara Municipal de Lisboa na mega coligação à direita.
“Ajudou com propostas e é de confiança”, afirmou apenas a fonte da candidatura.
Pedro Simas foi convidado em março para colaborar no seu programa para a Câmara de Lisboa e elaborar um plano que preparasse a cidade de Lisboa para futuras pandemias. Ao antigo comissário europeu, Simas entregou um documento onde propunha mais consultas, acesso à Internet, e outras propostas que extravasavam do que lhe havia sido pedido.
Simas não é o único médico que surge na lista de Moedas depois de ganhar visibilidade com a pandemia. Também Ricardo Mexia, Presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, está a apoiar Moedas, como diretor de campanha.
(Diogo Barreto – Sábado de 26/08/2021)
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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