CONTRA A GUERRA (COLONIAL) 1972 CHRYS C

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398.2. jogos de portuguerra (a erich maria remarque). abr 1, 1972

 

aves de fogo nas asas

vómitos de morte

buscam-se homens

abrem-se corpos

jorra sangue inocente

escamoteado

 

balas de ódios suicidas

heróis à força

pequenos deuses

repetindo (é inútil!)

a vida

sobras de gente

alvos fáceis

na geometria do espaço

olhos de bruma

silêncios por incendiar

 

insigne canto sem sorte

cativeiro

desterro

diáspora

heréticos cadáveres da chuva

 

clandestina voz imolada

gruta suspensa na boca do espanto

e a trégua por instantes morou

no repouso dos sangues tumulares

e a cauda do cometa se fez canção

em mil gargantas renascidas

 

na margem do poema a falsa pátria

agoniza

a ciência é esta

erguemos a forca

e nos crucificámos

tranquilos nos despedimos

menos um barco na raiz do tempo

liberto espaço do universal canto).

 

 

opacas avenidas da grande ilusão

anónima gente na formigante pressa

estas as douradas gaiolas de cimento

bem sei como é doloroso

atravessar luzidios corpos

cobardes máscaras

aqui imaginámos abjetas sevícias

confortante desamor

palavroso deleite

predestinados entes sobrevivos

sacro dever da morte

e o povo fossando

a vala-comum-da-pompa-abissal

 

decadentes

prostrados

não se masturbem!

senhores deste mundo

 

desorbitados astros nos vigiam

no violino de teus lábios

nasce a vingança

a senha e o passe

deste cântico sem povo

 

 

(inventado o abismo imaturo

cavaleiros do sonho se vão

da lei sem pátria libertando

guerrilheiros de si e dos outros

palavras lhes faltam atávicas

benzidos pelo fogo de sacrários

sideram a genealogia do mito.)

 

 

aqui e agora se medita

inaudito espetáculo

revolucionários-ministros-de-guerra

em corpo-a-corpo

nações beligerantes

evitariam gratuito sangue

 

o povo pagaria imposto

para morrer desfastiado

passaria fome para ter governantes bélicos

a geografia da velhice sobreviveria em paz.