Categoria: AICL Lusofonia Chrys Nini diversos

  • joel neto nas correntes d’escrita

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    publicado por JN em 24/2/13

    Julgo que se pode dizer que a literatura sempre teve, para mim, algum tipo de serventia em particular. Tomei contacto com ela aos quatro/cinco anos, soletrando de dedo esticado as palavras da Bíblia Sagrada, e logo ela assumiu a sua primeira utilidade prática. Nós éramos protestantes, manuseávamos “O Livro” – e era através d’“O Livro” que começávamos por manifestarmo-nos gente.

    Mal se insinuava no horizonte a entrada para a escola, recebíamos do nosso avô um relógio e dos nossos pais um exemplar das Escrituras, tradução de João Ferreira de Almeida, Velho e Novo Testamento num volume só – e era com esse volume debaixo do braço, transportado numa pastinha de napa, sublinhado a marcadores fluorescentes e decorado nos seus versículos essenciais (João 3:16, todo o Salmo 23, o “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho”, do Evangelho Segundo Marcos) – era com esse volume debaixo do braço que nos tornávamos, por assim dizer, gregários.

    Depois, aos catorze/quinze anos (talvez dezasseis, embora eu goste de acreditar que foi mais cedo), eu percebi, enfim, que a literatura existia [não foi só a literatura, mas tudo o resto que se descobre aos catorze anos é inconfessável]. Dei numa montra com um exemplar de “Um Deus à Beira da Loucura”, de Daniel de Sá [há aqui vários amigos e admiradores de Daniel de Sá], e, da primeira vez que alguém me pôs dinheiro no bolso, peguei em quinhentos escudos e fui comprá-lo.

    Eu alinhava razoavelmente as frases na disciplina de Português, mas não fazia sequer ideia de para que servia um livro que não a Bíblia. Na verdade, era aquele qualificativo, “À Beira da Loucura”, atribuído ao Criador de todas as coisas, que me interessava. Eu julgava ter descoberto que o Deus que me cativara a infância era, afinal, invejoso e castigador, repleto de proibições e de cólera – e ter aquele livro sobre a mesa de cabeceira assumia duas serventias em simultâneo: não apenas me fazia sentir profundamente subversivo, como também menos só na posse desse segredo de que Deus, na verdade, era mau.

    Depois, sim, depois li essa pequena novela de Daniel de Sá. E depois um romance. E outro, e outro – uma série deles, açorianos e do mundo. E ler livros tornou-se uma bandeira: aquilo que me distinguia no meio do marasmo de uma ilha triste e enfadonha. E depois a ideia de que escrevia bem tornou-se outra bandeira ainda: o meu melhor recurso para aplacar a menoridade social.

    Nada disto, até aqui, é distinto daquilo que aconteceu convosco. E estamos de acordo: esta é, muito provavelmente, a serventia mais frívola que os livros e a literatura podem ter nos nossos percursos de vida: primeiro colocam-nos numa posição um nadinha mais a salvo das crueldades da adolescência (do tipo: “Deixa lá estar esse, que lê livros e deve ser meio maluco”) e depois até nos arranjam namoradas, nos tempos da faculdade, onde qualquer vago aforismo parece capaz de mobilizar a raiva, ou pelo menos de enternecer um coração.

    Quem nunca precisou dos livros para prevalecer sobre a inaceitação, qualquer que ela seja, provavelmente nunca precisou dos livros como os livros devem ser precisados.

    E depois, finalmente, veio a utilidade da idade adulta. Lidos ou mesmo escritos por mim, os livros passaram a servir-me para regressar a casa. Eu vivia em Lisboa há cinco, há dez, há quinze anos – e só os livros conseguiam devolver-me à ilha, inclusive à ilha que já nem sequer existia, e que aliás agora já não me parecia tão triste e enfadonha, mas alegre e exuberante e autêntica e minha. Também nisto coincidiremos, muito provavelmente: escrever, como ler, continua a ser sobretudo um modo de voltar. De voltar à infância. De voltar a casa. De voltar, até, a onde nunca sequer se esteve, se me permitem o paradoxo fácil. Um modo de fazer as pazes. E um modo de continuar.

    Julgo que, se não tivessem sido os livros, eu nunca teria conseguido viver vinte anos em Lisboa, penando com a ausência da terra-mãe. E tenho a certeza de que, se não tivessem sido eles, não teria conseguido regressar em definitivo a ela, como fiz recentemente, instalando os meus modos e os meus gestos e os meus cheiros e as minhas rotinas e os meus objectos lisboetas na freguesia rural da Terra Chã, ilha Terceira, na casa onde os meus avós viveram os últimos cinquenta anos das respectivas vidas, e assim dizendo o meu próprio: “Para sempre. Aqui estou.”

    Mas: para que me vão servir os livros agora? Eis a dúvida por que me deixei assaltar aqui há umas semanas, quando peguei nas cento e poucas páginas já escritas do romance em curso, as reli pela duocentésima vez e cheguei à conclusão de que estavam, afinal, “uma merda” – de que, em suma, eu não tinha a mínima ideia do que estava a fazer.

    Para que vou eu precisar dos livros agora? Tenho as pazes feitas com Deus, de cuja música e de cuja arquitectura gosto tanto. Os vizinhos colhem batatas ou matam um porco ou fazem uma pipa de aguardente de néveda e vêm dependurar-me na porta um bocado, para eu provar. De namoradas, já tive mais do que merecia: duas – e, aliás, ou muito me engano, ou já casei vezes suficientes [casei com as duas].

    E, entretanto, regressei de facto a casa. Regressei a casa e sento-me a ler o jornal da terra naquela mesma cozinha onde o meu avô, José Guilherme, se sentava a ler o jornal da terra – e às vezes vem o meu pai e senta-se comigo, e às vezes vem o Zé Maria e senta-se connosco, embora só eu o possa ver porque é um fantasma – e a certa altura já estamos à mesa todos, eu e aqueles a quem dediquei livros, sobre quem escrevi, cujo amor quis conservar, e pergunto-me: “Escrever o quê, agora?” E o que estou a perguntar é: “Escrever para quê? Terão alguma serventia, a partir daqui, os meus textos?”

    Afinal, sem serventia, neste tempo, é que já não dá mesmo. John Banville está a reescrever Philip Marlowe e William Boyd a reescrever James Bond – talvez com a serventia de enriquecerem, talvez com a serventia de submeterem a literatura às regras do cinema comercial. Cada vez mais de nós estão a escrever segundo uma estranha corruptela desta língua, “exceção” sem P, “hei de” sem hífen, “para!” sem acento – talvez com a serventia de ajudarem a tornar a língua num mercado, talvez com a serventia apenas de agradarem a nem sabem bem quem.

    E eu, não sendo capaz de reescrever Elias Santana, nem sequer João Garcia, e menos ainda Calisto Elói, escreverei agora para quê? “Apenas” para tentar reinventar ligações entre as palavras, na presunção de que poderei ser eu a iluminar-lhes novas utilidades e, por conseguinte, a abrir-nos a todos novos modos de pensar?

    Logo eu, que vivo subjugado pelos computadores, dependente da Internet, submetido à ditadura dos iPhones e dos iPads – poderei ser eu a oferecer à literatura uma nova superação da sua subalternidade, a permitir-lhe vingar-se, mais uma vez, da urgência de uma serventia, a encontrar-lhe nova e superior serventia? E logo neste tempo em que se deixou, em definitivo, de ouvir as palavras “Este livro mudou a minha vida”? Logo agora, que até se convencionou que as elites se podem dispensar de uma cultura literária e serem simplesmente cretinas – e dizerem, inclusive, que se um sem-abrigo aguenta, temos todos nós mas é de aguentar também?

    Resta-me, pois, juntar-me a Daniel de Sá e escrever para aquela montra de Angra do Heroísmo onde talvez passe um jovem de dezasseis anos e queira distinguir-se entrando. Resta-me, provavelmente, juntar-me a Daniel de Sá e a Álamo Oliveira e a Dias de Melo e a Madalena Férin e a Urbano Bettencourt e a Emanuel Jorge Botelho e a Vamberto Freitas e a Onésimo Teotónio de Almeida e a João de Melo – a João de Melo também, sim –, e aliás a tantos outros, e tentar oferecer aos meus livros a serventia de tocarem um rapaz de dezasseis anos e, quem sabe, deixá-lo para sempre obcecado com a ideia de voltar a casa.

    Interessa-me pouco o debate académico em torno da existência ou não de uma literatura açoriana, em que tantos dos escritores da geração anterior à minha se desgastaram. Mas interessa-me que a literatura tenha sido, ao longo destes quase quarenta anos de autonomia política e administrativa dos Açores, uma das mais importantes ferramentas para a consolidação de uma identidade comum àqueles nove (e tão distintos) pedaços de terra dispersos pelo mar.

    Por isso, se me dão licença, eu vou ficar ainda um pouco mais chato com os Açores. Os meus livros vão tornar-se mais açorianos ainda e as minhas conversas mais açorianas ainda e eu mais insistente ainda nas tentativas de despertar os lisboetas e os portugueses para a opressão silenciosa – para a opressão sorridente – de que a minha gente e as suas possibilidades estão a ser alvo.

    Será essa, a partir de agora, e em definitivo, a minha serventia. “A serventia dos meus textos”, como diz o poeta. Também eu quero, enfim, tornar-me naquilo que sempre fui: um escritor de fronteira, atento à fúria dos elementos e atento à fúria dos homens.

    E, pelo meio, talvez os meus livros venham a ser capazes de sugerir que, no fundo, nunca se regressa verdadeiramente a casa. Que, na verdade, a infância é irrepetível – e que, muito provavelmente, a maior tragédia de todas é mesmo essa.

    Talvez eles possam, enfim, continuar a ser literatura. Ou mesmo serem-no finalmente.

     

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    “Estamos demasiado portugueses. Temos de tornar-nos novamente um pouco mais açorianos e um pouco menos portugueses.” Digo-o a meio de um raciocínio mais ou menos tortuoso sobre literatura açoriana, feito em resposta a uma pergunta da audiência. Não me soa tão mal quanto isso, e o incómodo com que alguns dos presentes reagem agrada-me. A dirimir.

     

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    Muito me agradaria se me convidassem todos os anos, para este ou para outro festival. Um festival literário a cada doze meses seria uma boa maneira de, face às fronteiras da ilha, me reposicionar perante a coisa literária, o seu universo, a sua magia. O vereador que preside à cerimónia de encerramento elogia-me a intervenção e convida-me a voltar em 2014. Talvez tenham sido palavras de circunstância. Mas fico satisfeito.

     

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    É, para além de um milagre e um exemplo de organização, o certame. Esta tarde vinha caminhando na rua com o Marmelo e logo apareceu um carro oficial, com um diligente motorista oferecendo-nos transporte para alguma parte. Inspirador.

     

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    Na última noite de copos, volta a cantar-se o “Grândola”, meio a brincar e meio a sério. Alguns dos mais zangados olham para mim, a conferir se tenho coragem. Já algum tempo que sou o conservador de serviço, e não se pode dizer que a ideia me desagrade. Mas canto com eles, naturalmente. Sou um democrata e não apenas respeito, como admiro (mais do que admirar: venero) o 25 de Abril. Exactamente como eles. E que possam questionar-se sobre isso é outro sinal da esquizofrenia em que neste momento vivemos.

     

    ***

     

     

    De resto, até para isso este festival serviu: para confirmar a hipótese de os intelectuais não estarem a desempenhar devidamente o seu papel nesta crise. Identifica-se o problema, mas não se propõe alternativa – e, pelo meio, tudo se resume a um maniqueísmo ritualista muito mais próximo (de novo) do comportamento de uma claque de futebol, ou do dos adolescentes carregados de hormonas em dia de aula de Educação Física, do que do pensamento. É normal um intelectual comportar-se como um soldado, num certo instante ou durante um determinado período de tempo. Mas, se todos os intelectuais se comportam como soldados ao longo de um mesmo período de tempo, a quem poderemos recorrer como intelectuais?

     

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    Mas não, este não é um tempo especialmente auspicioso para um moderado. De facto, não é.

  • a autonomia muda Manuel Leal

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    A autonomia muda

    Manuel Leal

    Para publicação no Expresso das Nove

     

    A autonomia está sob um ataque matreiro, subtil e silencioso. É o prosseguimento da política de contenção iniciada ainda em 1975 pelo general Altino de Magalhães, um militar ardiloso como uma raposa. Desde então, todas as chamadas conquistas autonómicas não passaram de concessões táticas da República. O governo central beneficia ainda da conspiração de interesses internacionais que o dominam.

    Seria de esperar, todavia, que os órgãos do Governo Regional reagissem a esta nova investida. Não há uma estratégia credível das chamadas hostes autonómicas para resistir como em termos históricos antes ocorreu. Porque é preciso colocar o Governo da República perante um nó górdio. Ou respeitaria a autonomia, ou teria de acabar com ela, forçosamente. Mas seria preciso coragem, e lealdade aos Açores, para se colocar a justiça desta posição, sistematicamente e de modo insistente, à avaliação do povo açoriano. Por isso a TV regional, independente e isenta de cordelinhos prosélitos, é mais necessária do que os «melhoramentos» de fachada com propostos publicitários.

    A oposição a este assédio cada vez mais apertado tem de fazer-se através da voz popular. De maneira que o governo central se veja forçado a intervir diretamente ou a respeitar a vontade açoriana. A primeira seria recebida no mundo, e sobretudo onde a diáspora açoriana possui uma presença numerosa, com um vozeirão de protesto. A segunda, porém, não enfraqueceria a integridade da nação. Não está em disputa o gestalt nacional, mas o processo neocolonialista no exercício do poder central.

    Independentemente dos erros que o governo de Carlos César cometeu ao longo dos anos, em alguns dos momentos mais graves ele identificou-se, pelo menos de modo simbólico, com a defesa da autonomia. Mas o governo do seu sucessor, Vasco Cordeiro, parece manifestar uma timidez incómoda, evocativa dos últimos anos, anémicos, da governação de Mota Amaral.

    Nenhum dos partidos no Governo Regional soube ainda lutar pela autonomia numa aliança inequívoca com o povo, após o período inicial do entendimento entre o PPD/ PSD e a FLA. Por isso caiu a administração social-democrata de Mota Amaral, que abandonou o governo apadrinhado pelo seu partido nacional. O atual elenco socialista, tanto no Executivo como na Assembleia, de que muito se esperava, prefere funcionar no silêncio no relacionamento com a metrópole . Fora da observação popular, francamente, ninguém sabe o que faz.

    Os partidos com assento nos órgãos do governo do Arquipélago são extensões dos partidos nacionais, como as vacas à corda. Só assim se explicam as verbas eleitorais e outros privilégios que os reizetes regionais recebem dos sobas nacionais. Naturalmente, presume-se que têm de obedecer à estratégia eleitoralista, e não só, das estruturas centrais sedeadas em Lisboa.

    Por outro lado, os açorianistas ainda não souberam trazer para as eleições líderes relevantes e geralmente respeitados como tal, e populares, a fim de conquistarem a confiança dos eleitores. Nem possuem os meios financeiros e a organização para competirem com as associações nacionais. A legislação portuguesa, como todos os sistemas centralizados e neocoloniais depois da doutrina de Woodrow Wilson, criou uma organização enganosa e legalista que favorece os chefes partidários e os grupos de interesses apostados na minimização do poder regional.

    A autonomia perdeu credibilidade. Não alimenta a esperança, nem oferece uma alternativa, de que as instituições açorianas se possam opor ao centralismo da metrópole. O Governo Açoriano, e o partido que o mantém, caminha para um fiasco sem uma postura claramente autonómica.

  • JUDEUS NOS AÇORES nos primórdios da ocupação da ilha do Faial

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    Os judeus nos primórdios da ocupação da ilha do Faial

    Terra periférica, o Arquipélago dos Açores nos tempos iniciais do povoamento também foi local escolhido por famílias cristãs-novas para fugir às perseguições de que eram vítimas. Segundo pesquisa de Isaías da Rosa Pereira, em seu trabalho “Alguns açorianos na Inquisição de Lisboa” ( O FAIAL e a periferia açoriana nos séculos XV a XIX- Núcleo Cultural da Horta), existe um relato documentado na Biblioteca da Ajuda ( Symicta Lusitana ) de uma pequena revolta de judeus, na Ilha do Faial, contra os demais habitantes da Ilha que os hostilizavam. Datado de 06 de janeiro de 1532, o episódio descreve a encenação que fizeram na Praça da então Vila da Horta. Armaram uma tribuna onde havia uma criança, um mascarado fingindo ser judeu e um boneco de palha . Acenderam uma fogueira e disseram à criança que mandasse queimar aquele judeu que havia cometido pecado contra a fé. Em seguida jogaram o boneco de palha na fogueira para ser queimado. Por falta de documentos, não se sabe mais acerca de outros acontecimentos.
    O episódio demonstra que , claramente, havia judeus na ilha e uma repressão psicológica sobre eles. Acredita-se que a maioria tenha assumido a religião católica por toda essa situação conflituosa e pelos casamentos que sucederam entre os cristãos-novos e os velhos. Porém, percebe-se em certas família açorianas ( portuguesa), comportamentos e costumes que fazem suspeitar a influência judaica sobre elas. Como o habito de, antigamente, se eleger o sábado como o dia da higiene, do banho geral, de vestir roupa lavada, de colocar velas ardendo até o final do dia; o costume de sangrar o animal antes de prepará-lo para comê-lo, a preferência, na alimentação, pelos peixes de escamas ( os de couro não são aceitos pelas leis dos judeus), o atributo feminino na educação dos filhos, o dualismo na maneira de ser, isto é, dizer ou mostrar uma coisa na aparência e pensar ou ser outra por dentro, jurar pela alma de alguém ( rito judaico), pagar a siza ( Sizah do hebraico ), o emprego de palavras que fazem lembrar a história judaica, como judiar e massada ( fortaleza de Massada onde pereceram 800 judeus). Muitos são os hábitos e costumes que nos recordam que, em tempos passados, também tivemos a contribuição marcante da presença judaica na formação da nação portuguesa.
    Maria Eduarda
    Uberaba, 05/02/13
  • AGUALUSA Luanda agora 2013

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  • escultor mariense – homenagem a Couto Viana

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    a AICL divulga escultor mariense:

    ‎:)

    Escultor mariense radicado em Lisboa inaugura mais uma obra

    O escultor mariense Carlos Matos inaugurou, recentemente, no norte do país, mais uma obra da sua autoria.
    Desta feita, um busto de António Manuel Couto Viana, a homenagear este dramaturgo, poeta e ensaísta desaparecido em 8 de Junho de 2010. A sua inauguração teve lugar na cidade de Viana do Castelo, na terra natal do escritor.
    Carlos Matos nasceu no dia 24 de dezembro de 1955 na ilha de Santa Maria. Em 1962 vai para Lisboa, onde tem lugar todo o seu processo escolar, até concluir a licenciatura em Artes Plásticas – ESCULTURA – pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa ( E.S.B.A.L. ) e durante o qual lhe é atribuído um prémio na cadeira de Modelo Vivo – 1978 . (
    Ao longo da sua interessante e reconhecida carreira, Carlos Matos colaborou com diversos teatros, onde se salientam o teatro de S. Luiz em Lisboa, o Teatro São Carlos, participa no espectáculo “As Bacantes” – Fundação Calouste Gulbenkian – Encenação de Fernanda Lapa – Adereços, participa no espectáculo “O Leão no Inverno” – encenação de Carlos Avilez – Teatro Experimental de Cascais – Adereços, em 2002 Participa no espectáculo “a Viagem de Pedro o Afortunado” – Esculturas de Cena – Encenação de Fernanda Lapa – Teatro Nacional D. Maria II bem como diversos Teatros de Revista.
    Carlos Matos honra deste modo a memória do seu pai, o Sr. Fernando Matos, personalidade sobejamente conhecida em Santa Maria, onde foi funcionário do aeroporto (ANA) desde os últimos anos da década de 40 e onde permaneceu até à década de 60. O Sr. Fernando Matos foi o autor dos cenários e dos figurinos da revista “Estás-te Consolando”, dos retratos a carvão que até há pouco tempo estiveram expostos na parede do “lounge” do cinema do aeroporto “Atlântida Cine”, da decoração do bar do Clube Asas do Atlântico (em estilo “americano” – tecto, sofás, mesas, candeeiros, painel de parede preto com parras douradas – e que se manteve desde os anos 60 até há poucos anos atrás), dos puxadores com o logotipo do CAA que ainda hoje existem na porta principal do Clube Asas do Atlântico (cujas matrizes ainda se encontram guardadas pelo seu filho Carlos Matos), e pelos elementos marinhos feitos em arame zincado pintado de preto e branco que faziam a decoração da parede da sala interior da antiga Pousada da Praia Formosa. Estes são alguns dos trabalhos que se destacaram em Santa Maria. Em Lisboa também desenvolveu a sua arte onde teve um atelier em conjunto com o artista Sam.
    Uma vez mais podemos constatar que “filho de peixe, sabe nadar” e que Santa Maria tem tesouros que ela própria desconhece.

    Outros trabalhos e prémios do escultor mariense Carlos Matos:
    Em 1978 foi-lhe atribuída uma Menção Honrosa, no concurso de Medalha da CASA DA MOEDA. Ao longo sa sua carreira conquistou diversos prémios e a partir daí não têm parado os sucessos. Destes, destacam-se inúmeras participações em exposições (1ª. Bienal de Vila Nova de Cerveira, “Novos Escultores”- Sociedade Nacional de Belas Artes, “Artes Plásticas” Teatro Ibérico – Lisboa, Homenagem ao Prof. Reynaldo dos Santos – Vila Franca de Xira, Homenagem dos Artistas Portugueses a Almada Negreiros – Lisboa, Colectiva de Pintura e Escultura – Mercado Ferreira Borges – Porto, Exposição de Artes Plásticas de Sesimbra, V Bienal de Artes Plásticas – Festa do Avante,
    “Mulher é o Tema” Museu Municipal de Loures, Escultura Portuguesa Contemporânea – Vila Franca de Xira, Exposição de Medalhas do 25 de Abril – Loures, Exposição “Jovens Escultores” – Fátima (recebe Menção Honrosa por este trabalho), ”Colectiva de Pintura – Escultura 13+6” – Galeria da Cervejaria Trindade, ”Colectiva de Escultura – Pintura” – Galeria Santa Justa, ”VII Bienal de Artes Plásticas – Festa do Avante”, ”Colectiva de Escultura e Desenho” – Convento do Beato – Lisboa, ”1ª Exposição de Medalhística da Amadora” – Amadora, ”Pintura Escultura e Fotografia de Artistas Açorianos residentes no Continente” – Câmara Municipal da Amadora, ”Exposição Colectiva “Arte contra o Racismo” – Casa da Imprensa, .”Colectiva de Escultura e Desenho” – Convento do Beato – Lisboa, ”1ª Exposição de Medalhística da Amadora” – Amadora, ”Pintura Escultura e Fotografia de Artistas Açorianos residentes no Continente” – Câmara Municipal da Amadora, ”Exposição Colectiva “Arte contra o Racismo” – Casa da Imprensa).
    Destaca-se, em 1996 , quando prepara Exposição Individual “Escultura e Desenho de Carlos Matos” – Casa dos Açores – Lisboa.
    Seguem-se outras exposições tais como a exposição de Artes Plásticas “Grupo Oriente” – Olivais Sul – Lisboa, II Exposição “Grupo Oriente” – Olivais Sul – Lisboa, I Bienal de Medalha do Concelho do Seixal, .Exposição Colectiva “Pintura Escultura e Cerâmica” – Galeria Quadrante – Odivelas, Exposição Colectiva “Pintura Escultura 2000” – Escola Vasco da Gama, ”6ª Exposição Internacional de Artes Plásticas de Vendas Novas”, participa na Exposição “O Figura – Homenagem a Cruzeiro Seixas – Câmara Municipal da Amadora, participa na Exposição “Laranjeira Santos – Vida e obra em Exposição” Câmara Municipal da Amadora.
    No seu trabalho diversificado entre o Teatro, o Teatro de Revista (adereços e cenografia e elementos escultóricos), a medalhística e outras áreas da escultura, é convidado e participa como membro do júri em eventos como as Marchas Populares de Setúbal (cenografia).
    De Carlos Matos é também a autoria das seguintes obras:
    .A convite do Artista Plástico Juan Soutullo, foram-lhe encomendadas várias esculturas e a medalha comemorativa da inauguração do 1º Museu de Cera em Portugal – Fátima.
    .Executa logotipo para “Estalagem D. Gonçalo” – Fátima.
    .Executa peça escultórica para exposição “Depois do Modernismo”- Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa.
    . Em 1987 eecebe encomenda de “Relevo” para o Museu de Cera de Fátima.
    . Executa peças de Escultura para a Igreja de S. José – Olivais Sul –( Imagens de S. José e Cristo
    . Em 1989 é convidado a executar a Medalha Comemorativa do 15º Aniversário do 25 de Abril.
    . Em 1998 executa “Monumento à Solidariedade” – Fundação C.E.B.I. – Alverca do Ribatejo.
    . Executa Esculturas ( Cristo e Nª Sra. da Misericórdia ) – Santuário de Nª Sra. da Misericórdia – Coimbra
    . Em 2010 são-lhe solicitados os Retratos (escultura) de António Manuel Couto Viana e Maria Manuela Couto Viana – Homenagem a Couto Viana – Viana do Castelo
    Em 1991 é convidado a dar um Curso de Modelação na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (E.S.B.A.L.)
    Carlos Matos conta com diversos prémios para além dos já mencionados, tais como:
    1985 – Foi-lhe atribuído o 1º prémio de Medalha na “Homenagem dos Artistas Portugueses a Almada Negreiros”
    1986 – Recebe Menção Honrosa no concurso de Medalha “TOTOBOLA”
    1991 – Recebe o 2º prémio no Concurso de Medalha do “Totoloto”
    1992 – Participa e recebe Menção Honrosa na Exposição “Jovens Escultores” – Fátima

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  • BAILADO DA GARÇA ZECA MEDEIROS

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    AÇORES 🙂

    https://www.youtube.com/watch?v=39s7gm9FP8w
    Bailado da Garça

    www.youtube.com

    Bailado da Garça do programa “Deixem Passar a Música” – Toadas do Vento Ilhéu Realização: José Medeiros Ano: 1986 Direção Musical: Luís Gil Bettencourt Grav…
  • ONÉSIMO, PROGRESSO E RELIGIÃO POR DANIEL DE SÁ

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    Minha gente

    A propósito do livro do Onésimo “Utopias em Dói Menor”, eu tinha-lhe prometido dar o meu ponto de vista a respeito de uma ideia feita de que a Europa protestante se desenvolveu mais do que a católica. Mas, como talvez interesse a mais alguém, envio-o por este meio. O Onésimo, tal como eu, não defende aquela visão viciada pela simples constatação de que, nos países de maioria protestante, o progresso foi maior do que nos de maioria católica, o que se deveria à repressão católica, sobretudo por intermédio da Inquisição, contra as ideias novas que iam surgindo. Ora esta repressão acontece no campo do pensamento religioso – principalmente teológico e moral – raramente interferindo com o pensamento científico. O caso de Galileu é uma questão excepcional, e motivado principalmente pela inveja dos seus rivais ou invejosos colegas cientistas. Sem eles, seus delatores, Galileu dificilmente teria chegado ao tribunal da Inquisição.
    Ora, sendo a repressão do Santo Ofício uma tentativa de vasculhar as ideias teológicas e morais, e de condená-las quando lhe parecessem merecedoras de tal, é muito difícil provar que isso tenha tido implicações no avanço científico. Alguns dos nomes que o Onésimo cita entre os cientistas de maior vulto em Portugal na época da expansão marítima, estão por exemplo Pedro Nunes, Garcia de Orta e D. João de Castro, que fizeram as suas investigações em plena época da Inquisição, se bem que os primeiros tenham sido perseguidos depois de mortos! E foram descendentes seus que sofreram os rigores estúpidos da Inquisição. A perseguição religiosa, sobretudo à conta de reis que não queriam ver em perigo a unidade nacional (como os “santos” Reis Católicos” de Espanha ou os “beatos” D. Manuel e D. João III), foi prejudicial nesse caso. O Onésimo fala de havermos perdido Espinosa, e eu acrescento agora, em Espanha, o caso de Miguel Servet. Este é mesmo um exemplo perfeito de que, a havê-lo, não teria sido só catolicismo o responsável por um hipotético menor desenvolvimento nos países onde era dominante. E isto porque, tendo de fugir de Espanha, Servet desenvolveu no estrangeiro o seu pensamento teológico e estudou a circulação do sangue nos pulmões. E como acabou ele? Condenado à morte na Suíça por insistência de Calvino! Porque, se a Igreja Católica, por intermédio da Inquisição de raízes mais políticas (ou pelo menos tanto quanto) que religiosas, condenava “hereges”, os protestantes não o fizeram menos nem com menor crueza, sendo que normalmente até fingiam menos o julgamento do que a Inquisição.
    Além disso, a Igreja Católica não conseguia impor-se tanto quanto se imagina em questões morais. Lembre-se que os católicos não eram grandes cumpridores das orientações religiosas, tendo em reis, cardeais, bispos e padres exemplos de deboche moral e de ilimitadas ambições materiais. Aliás, a confissão foi sempre mal entendida pela maioria esmagadora dos católicos, que viam naquele sacramento uma maneira de serem perdoados os seus pecado quando quisessem, e, em último caso, na hora da morte, desconhecedores de que assim caíam nos chamados pecados contra o Espírito Santo, pelo que o sentido religioso do pecado por ambição material era pouco tido em conta. Já os protestantes, mormente os luteranos, que negavam o valor a confissão, viam no julgamento divino uma apreciação da totalidade da vida humana, pelo que, para eles, o pecado teria uma implicação que de certo modo se projectava mais na eternidade do que segundo a noção (errada, repito) dos católicos.

  • ONÉSIMO VISTO POR V RUI DORES

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    sexta, 14

  • PRÉMIO PESSOA 2012 RICHARD ZENITH

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    IN DIÁLOGOS LUSÓFONOS

    Biblioteca Nacional Portugal

    Prémio Pessoa 2012: Richard Zenith

    MOSTRA | 14 janeiro – 28 fevereiro | Sala de Referência | Entrada livre

    zenithRichard Zenith, Prémio Pessoa 2012, nasceu em Washington DC, em 1956.
    Na ata da reunião do júri que lhe atribuiu o prémio, salienta-se o facto do autor – leitor BNP n.º 14475 – ter “posto o conhecimento acumulado ao longo de décadas ao serviço disciplinado e metódico de uma paixão”. “Com lucidez, Richard Zenith é, não apenas um editor da obra pessoana, um explicador da heteronímia, mas também o grande tradutor da sua poética para a língua inglesa”.
    É editor literário de diversas obras pessoanas, de que destacamos:Livro do Desassossego (Lisboa: Assírio & Alvim, 1998; São Paulo: Companhia das Letras, 1999); A Educação do Estóico: O único manuscrito do Barão de Teive (Lisboa: Assírio & Alvim, 1999; São Paulo: A Girafa Ed., 2006); Heróstrato e a busca da imortalidade(Lisboa: Assírio & Alvim, 2000); Poesia de Alberto Caeiro (Lisboa: Assírio & Alvim, 2001; São Paulo: Companhia das Letras, 2001), organizada juntamente com Fernando Cabral Martins; Escritos autobiográficos, automáticos e de reflexão pessoal (Lisboa: Assírio & Alvim, 2003; São Paulo: A Girafa Ed., 2006); Aforismos e afins (Lisboa: Assírio & Alvim, 2003; São Paulo: zenith_pessoaCompanhia das Letras, 2006), Obra essencial(Lisboa: Círculo de Leitores: Assírio & Alvim, 2006-2007, em sete volumes; e Teoria da heteronímia (Lisboa: Assírio & Alvim, 2012), organizada juntamente com Fernando Cabral Martins.
    Tem uma vasta obra como tradutor, tendo dado a conhecer aos leitores de língua inglesa muitos autores de língua portuguesa. Mencionemos: The Feeling of Immortality, ensaios de Antero de Quental (Dublin: Mermaid Turbulence, 1998); An Explanation of the Birds, de António Lobo Antunes (New York: Grove Press, 1991, 1995; London: Secker & Warburg, 1992); Act of the Damned, de António Lobo Antunes (London: Secker & Warburg, 1993; New York: Grove Press, 1995); The Natural Order of Things, de António Lobo Antunes (New York: Grove, 2000); The Inquisitors’ Manual, de António Lobo Antunes (New York: Grove, 2003); The Loves of João Vêncio, de Luandino Vieira (New York: Harcourt Brace, 1991; 113 Galician-Portuguese Troubadour Poems, edição bilingue, com notas e introdução (Manchester: Carcanet, 1995; Meditation on Ruins, poesia de Nuno Júdice, com introdução (Praha: London: Archangel Books, zenith_melo_neto1997); Log Book: Selected Poems, de Sophia de Mello Breyner (Manchester: Carcanet, 1997); The Book of Disquiet, de Fernando Pessoa (UK: Peguin, 2001; USA: Penguin 2003); The Selected Prose of Fernando Pessoa, com notas e introdução (New York: Grove Press, 2001);Fernando Pessoa & Co.: Selected Poems, com introdução (New York: Grove Press, 1998; The Education of the Stoic, de Fernando Pessoa (Barão de Teive), com posfácio (Boston: Exact Change Press, 2005);Education by Stone: Selected Poems of João Cabral de Melo Neto, com posfácio (New York: Archipelago Books, 2005); A Little Larger Than Entire Univers: Selected Poems of Fernando Pessoa, com introdução. USA; UK: Penguin, 2006); Blank Gaze, de José Luís Peixoto (London: Bloomsbury 2007); Message, de Fernando Pessoa, com prefácio (Lisboa: Oficina do Livro, 2008); Sonnets and Other Poems, de Luís de Camões, com prefácio (Univ. of Mass. Press, 2007); e The feeling of a Westerner, de Cesário Verde (University of Massachusetts at Dartmouth, 2012).
    É ainda autor de diversas obras e artigos sobre literatura portuguesa e brasileira, desde as cantigas galego-portuguesas até Pessoa ou João Cabral de Melo Neto. Refira-se a Fotobiografia de Fernando Pessoa (Lisboa: Círculo de Leitores, 2007; São Paulo: Companhia das Letras, 2011), em coautoria com zenith_pessoa2Joaquim Vieira; a organização de Fernando Pessoa: o editor, o escritor e os seus leitores (Lisboa: Fundação Gulbenkian, 2012); e o seu livro de contos Terceiras Pessoas (Famalicão: Quasi, 2003).
    Foi curador de duas exposições: Casa-Poema, na Casa Fernando Pessoa (Lisboa, set.-dez. 2009) e Fernando Pessoa: Plural como o Universo (Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, ago. 2010-jan. 2011; Centro Cultural dos Correios, Rio de Janeiro, mar.-jun. 2011; Fundação Gulbenkian, Lisboa, fev.-abr. 2012). Esta exposição contou com milhares de visitantes.
    Richard Zenith tinha já sido distinguido com os seguintes prémios: PEN Award for Poetry in Translation (1999) por Fernando Pessoa & C: Selected Poems, Calouste Gulbenkian Translation Prize (2002) porThe Book of Disquiet e Harold Morton Translation Prize da Academy of American Poets (2006) por Education by Stone: Selected Poems of João Cabral de Melo.

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  • os retornados

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    in diálogos lusófonos

    Apontamentos sobre os “Retornados”, os portugueses que saíram de África quando da descolonização e vieram para Portugal em 1075

     Ainda hoje não se sabe ao certo qual o número dos portugueses que, desfeito o império colonial na sequência de 25 de Abril de 1974, saíram de África. Algumas estatísticas referem oitocentos mil, outras um milhão. Vieram – o eco do seu êxodo condoeu então o mundo – de Angola, Moçambique, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, golfados em caudais intermináveis de espanto e desolação.

    Disse o humanista Agostinho da Silva em 1975 sobre os Retornados que vieram para Portugal, embora muitos tenham ido para outras latitudes, como o Brasil, Canadá.
    A emigração, a guerra e o exílio despovoaram Portugal. Aldeias inteiras apenas albergavam velhos e crianças, povoações havia que não tinham sequer um habitante. Era um país de deserções e decrepitudes a viver das remessas dos emigrantes e dos militares – e da passagem dos turistas.

           Os chamado “Retornados” repetiram aqui o que há decénios faziam lá. ”Portugal foi reconstruído pela energia dos retornados”, exclamará Agostinho da Silva. “Eles lançaram mão a tudo, usaram com as pessoas de cá os mesmos métodos que usaram com as de lá. Não trouxeram divisas, como os emigrantes, mas construíram coisas”
    (in Artigo de Fernando DacostaIn o “PÚBLICO” de 26, Abril,1995
    http://www.espoliadosultramar.com/n4.html)

    http://www.slideshare.net/tedesign2011/os-retornados-esto-a-mudar-portugal

    http://books.google.pt/books/about/Os_retornados_est%C3%A3o_a_mudar_Portugal.html?id=jBBFAQAAIAAJ&redir_esc=y

    Fernando Dacosta – em entrevista a Página da Educação
    http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=108&doc=8602&mid=2


    Fernando Dacosta nasceu a 12 de Dezembro de 1945, em Luanda. Passou a infância e a adolescência no Alto Douro, frequentando o Liceu de Lamego. Fixado em Lisboa (depois de uma breve passagem por Coimbra), estuda Filologia Românica, inicia-se no jornalismo, em 1967, e (depois do 25 de Abril) na literatura. Passou por diversos órgãos de informação, como Europa-Press, Flama, Comércio do Funchal, Vida Mundial, DL, DN, A Luta, JL, o Jornal, o Público . Actualmente pertence aos quadros da Visão. Foi director dos Cadernos de Reportagem e co-editor da Relógio d’Água. Na RTP1 teve uma rubrica sobre livros entre 1991-92.

    Foi galardoado com 10 prémios: G.P. de Teatro RTP, da Associação Portuguesa de Críticos, da Casa da Imprensa (por Um jeep em segunda mão, 1978), G.P. de Reportagem (À Descoberta de Portugal, 1982), Jornalista do Ano Nova Gente (1982), G.P. de Reportagem do Clube Português de Imprensa (Os Retornados estão a mudar Portugal, 1984), G.P. de Litertura Círculo de Leitores (O Viúvo, 1986), P. Fernando Pessoa do jornalismo e P. Gazeta do Clube dos Jornalistas (Moçambique, Todo o Sofrimento do Mundo, 1991), P. Gazeta do Clube dos Jornalistas (O Despertar dos Idosos, 1994).

    Tem mais de vinte livros publicados em diferentes géneros – reportagem, teatro, romance, narrativa e conto. O seu último, Nascido no Estado Novo, acaba de ser lançado.

    Paixão de Marrocos é uma edição trilingue, uma das quais em árabe. É, no entanto, um livro que fala muito de Portugal…
    Marrocos explica Portugal. Quando se dá o 25 de Abril percebi que estávamos a assistir ao fecho do ciclo imperial que nos marcou durante cinco séculos, para o bem e para o mal, ao nível do imaginário individual e colectivo. Ora tudo começou por Marrocos, conquistas, esclavagismos, colonialismos, retornos…

    O seu interesse por África é muito forte nas suas obras. Os Retornados, Moçambique, Todo o Sofrimento do Mundo….
    Pois é. A narrativa que escrevi sobre Moçambique fi-la quando o novo país comemorou 15 anos de independência. Nessa altura não se sabia nada do que estava a passar-se lá. O Maputo era uma espécie de ilha porque ninguém saía da cidade para o resto doterritório. Eu fui com o repórter fotográfico Luis de Vasconcelos. Andámos pelo interior, pelas zonas onde estavam os desalojados, os fugitivos da guerra, e descobrimos um universo de horror. As Nações Unidas tinham, aliás, declarado Moçambique como a zona de maior sofrimento humano do mundo. Chegaram a essa conclusão fazendo o somatório dos sofrimentos humanos, como a fome, as violações, as doenças, a guerra. Isso, que era completamente desconhecido, mesmo em Maputo, teve um grande impacto. Foi antes de se ter assinado o tratado de paz que, para surpresa da maior parte das pessoas, deu resultado, permitindo que o país começasse a organizar-se. O contrário verificava-se, entretanto, em Angola que sofria uma das guerras mais devastadoras de toda a sua história, em 1992. Hoje, Luanda é uma cidade em ruínas.
    Em 1974 ela estava no auge, era uma capital em vários aspectos muito mais desenvolvida do que Lisboa, ombreando com várias cidades europeias. Os chefes da guerrilha, que tinham fugido muito cedo para o mato – como o Agostinho Neto ou o Samora Machel – quando voltaram a Luanda e a Lourenço Marques ficaram estupefactos com o seu desenvolvimento. Não eram mais as urbes um pouco toscas e primitivas que conheceram 20 anos antes. Em relação à política que Portugal seguia, então, em África há a destacar a interenção de um homem que teve um papel fundamental: o Marechal Costa Gomes. Revelou-se um dirigente sumamente inteligente e maleável que se foi adaptando às circunstâncias, estando quase sempre na mó de cima. Era um militar, um político, um diplomata muito competente, muito lúcido que tentou inflectir, por dentro do regime, as coisas. A história de que os salazaristas não passavam todos de saloios e arrogantes é um disparate. O próprio Salazar era um homem cultíssimo, tinha era uma cultura clássica, e de uma grande intuição. O cardeal Cerejeira, por exemplo, gostava de Herberto Herder e de Camus.

    A figura de Salazar tem sido para si uma atracção especial…
    O meu interesse por Salazar resulta do interesse que sinto pelas figuras que exprimem a natureza humana em situação limite, o poder limite no caso dele. O chamado Estado Novo foi uma época com características muito próprias que devem ser conhecidas. Como já passaram 30 anos sobre o seu desaparecimento, já não há o perigo de Salazar ressuscitar nem do seu regime voltar ao poder. Por isso achei que devia fixá-los. Até porque, e como dizia a Natália Correia, “ser-se revolucionário hoje é preservar a memória”. É o que tento fazer dentro do meu estilo e das minhas características. Vivi a circunstância de conhecer a ditadura, de conhecer Salazar, de conhecer o 25 de Abril, de conhecer a democracia, de ter essas experiências todas o que me foi muito enriquecedor . Por outro lado, comecei a notar que a maior parte dos historiadores portugueses, com raras excepções, cometiam um erro crasso: faziam a história do Estado Novo baseados nos jornais. Ora os jornais do Estado Novo traduziam um país amputado, limitado, muito redutor. A história do Estado Novo tem que ser feita sobretudo, com testemunhos dos que o protagonizaram, enquanto estão vivos.Tornava-se-me, assim, urgente ouvir essas pessoas. Foi o que fiz, pessoalmente, isoladamente durante trinta anos. E que devia ter sido feito por algumas dessas inúmeras fundações que há para aí e que só servem para lavar dinheiro e fugir aos impostos. Que, apesar de se dizerem culturais, não fazem nada culturalmente. Nunca ninguém teve a ideia de ouvir pessoas como o barbeiro do Salazar, que é um homem fabuloso, ou a sua governanta, que só morreu em 1986, e que me contou coisas extraordinárias. Ela foi a “primeira-dama” que mais poder teve neste país, pois Salazar foi o português que mais poder deteve, durante mais tempo em Portugal.

    O Fernando Dacosta faz uma síntese bastante eficaz no cruzamento do jornalismo com a literatura. Eu acho que isso explica as dez edições de Máscaras de Salazar
    Para mim o jornalismo é apenas uma disciplina da literatura, como é o romance, como é a história. Durante séculos os jornais foram, aliás, povoados por grandes escritores. O Fialho, que hoje é um nome cimeiro da literatura portuguesa, não publicou um livro em vida, apenas publicou crónicas em jornais que depois foram reunidas em livros e o tornaram num autor notável. O Raúl Brandão, que para mim é também um dos grandes escritores do século XX, publicava tudo primeiro em jornais. Essa divisão de que há uma escrita de segunda para os jornais e uma escrita de primeira para os livros é artificial, inculcada para tentar controlar o jornalista. Para mim é completamente indiferente saber se as crónicas de Fernão Lopes, por exemplo, ou se as crónicas da história trágico-marítima são literatura ou jornalismo. Não é fácil, porém, vencer as mentalidades que separam as coisas… no campo da literatura o José Cardoso Pires fazia a experiência ao contrário, escrevia romances que eram reportagens, como. A Balada da Praia dos Cães. O jornalismo é importante porque permite contactar o ser humano em situações extremas, boas e más, as que dão notícia e matéria de reflexão.

    O Baptista-Bastos fala de si dizendo “Grande jornalista, porventura o maior repórter da sua geração; trouxe, para a letra de imprensa, a sensibilidade, o colorido, o lado humano, secreto, porventura quase insondável dos factos quotidianos.”
    É a generosidade dele… quando estou a escrever não estou a pensar se estou a escrever para páginas de jornal ou para páginas de livro. O que me determina é o tema que abordo

    Você é uma das poucas pessoas que tem analisado muito bem o que é isto de ser português, “povo pobre mas não miserável, velho mas não decadente, apaixonado mas não violento, a sua vocação de cigarra vai fazê-lo apetecido ao mundo” Acredita neste relançamento de Portugal?
    O último encontro que tive com Jorge de Sena foi muito interessante: ele vinha do Norte da Europa, com escala em Lisboa. Eu e mais alguns amigos fomos ao aeroporto para o saudar. Ele abraçou-nos e disse: “felizmente que entro na civilização!”. Espantado, respondi-lhe: “Então você entra nesta piolheira, vindo do Norte da Europa, e diz que isto é que é a civilização… ?” Rápido, respondeu-me: “Ora, lá só sabem trabalhar, ver televisão e beber cerveja. Desconfie sempre dos povos que não gostam de vinho.” A primeira coisa com que nos deveríamos preocupar era conhecer o povo em que estamos e a que pertencemos, para não importar fórmulas estranhas. A maior parte dos políticos e dos intelectuais portugueses não o conhecem, são uns deslumbrados, uns pacóvios com o estrangeiro. Ora nós temos uma cultura, uma identidade, uma afectuosidade muito próprias. A Agustina Bessa-Luís diz que temos a cultura da afectuosidade como outros povos têm a cultura das ciências, das matemáticas, das filosofias. Isso, que agora não vale nada, talvez no futuro possa merecer importância.
    A questão de Portugal poder ter um papel importante, ou não, depende da posição que cada um tiver em relação a ele. Dois homens extremamente catastrofistas, um de direita, outro de esquerda, o Franco Nogueira e o Miguel Torga, morreram convencidos que Portugal não iria sobreviver. O primeiro dizia que Portugal não iria sobreviver sem as ex-colónias, o segundo que Portugal não iria sobreviver ante o embate económico e cultural da Europa. Jamais esquecerei, aliás, a última vez que estive com o Miguel Torga: fui visitá-lo com a Natália Correia, a sua casa, foi na fase final da sua vida, estava deitado qual Camões depois de Alcácer Quibir. Há essas duas visões catastrofistas, mas eu não compartilho delas

    Conviveu com os grandes nomes da nossa cultura
    Tive a sorte de me ter dado com os grandes vultos deste país. Havia nessa altura uma coisa extraordinária em Lisboa, que eram as tertúlias que eles frequentavam, animavam. Tratava-se de gente de uma simplicidade extraordinária, sobretudo com os jovens… eu entrava na Brasileira e eles falavam-me como se fosse um igual a eles, com toda a paciência… conhecia já o Aquilino Ribeiro que tinha sido amigo do meu avô, andaram os dois fugidos à polícia.O Jorge de Sena, que era um homem muito irónico, dizia com muita graça que as únicas universidades interessantes do país eram os cafés. Era neles que se aprendia, porque nas outras, nas verdadeiras, só se perdia tempo. E citava o exemplo do Fernando Pessoa que, matriculado em Letras, só lá esteve uma semana. O contacto que tive com essa gente é um tema do meu novo livro que se chama precisamenteNascido no Estado Novo.

    Entrevista conduzida por Luís Souta com Andreia Lobo

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    Disse Agostinho da Silva:
    A emigração, a guerra e o exílio tinham despovoado Portugal. Aldeias inteiras apenas albergavam velhos e crianças, povoações havia que não tinham sequer um habitante. Era um país de deserções e decrepitudes a viver das remessas dos emigrantes e dos militares – e da passagem dos turistas.

           Então repetiram aqui o que há decénios faziam lá”Portugal foi reconstruído pela energia dos retornados”, exclamará Agostinho da Silva. “Eles lançaram mão a tudo, usaram com as pessoas de cá os mesmos métodos que usaram com as de lá. Não trouxeram divisas, como os emigrantes, mas construíram coisas”.
    (http://www.espoliadosultramar.com/n4.html)

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