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  • 1932 ANARQUISTAS-DEPORTADOS-PARA-TIMOR-FUNDAM-ALIANCA-LIBERTARIA-EM-DILI/

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    http://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/06/12/memoria-libertaria-anarquistas-deportados-para-timor-fundam-alianca-libertaria-em-dili/

    (Memória Libertária) Anarquistas deportados para Timor fundam Aliança Libertária em Dili

    colectivolibertarioevora.wordpress.com

    Leitura matinal na residência e sede da Aliança Libertária em Dili (Timor) -1932 Há alguns dias atrás, durante a Feira do Livro de Évora esteve aqui a professora e investigadora universitária, Luí…
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    Leitura matinal na residência e sede da Aliança Libertária em Dili (Timor) -1932

    Há alguns dias atrás, durante a Feira do Livro de Évora esteve aqui a professora e investigadora universitária, Luísa Tiago de Oliveira, a apresentar e a contextualizar historicamente o livro do timorense Luís Cardoso, recentemente editado, “O ano em que Pigafetta completou a circum-navegação”. Trata-se de um romance a que a historiadora fez um enquadramento global, atravessando as grandes linhas da história do território timorense.

    A dado passo, Luísa Tiago de Oliveira, salientou a dimensão que teve durante, sobretudo, a década de 30 do século passado, a deportação de presos de índole social e política para aquelas terras distantes. Disse que, em Timor, chegaram a estar cerca de 500 deportados, a maior parte anarquistas e anarcosindicalistas da CGT, vítimas de repressão que se seguiu à instauração do regime ditatorial pós 1926. 500 deportados em Timor era muita gente, tantos como os brancos que integravam a administração da ilha, o que levantava, só por si, problemas de segurança.

    Entre os anarquistas que estiveram em Timor há nomes como Arnaldo Simões Januário, de Coimbra, que depois veio a morrer no Tarrafal ou Manuel Viegas Carrascalão, nascido em S. Brás de Alportel, tipógrafo, secretário-geral das Juventudes Sindicalistas, por várias vezes preso, a última das quais em 1925, sendo condenado a 6 anos de degredo pelo Tribunal Militar e despachado para Timor em 1927, de onde nunca mais voltou. Este Manuel Viegas Carrascalão seria o fundador do clã Carrascalão (de que há ainda vários elementos ligados à actividade política timorense) e criou a fazenda “Algarve”, uma das mais prósperas (na altura) de Timor. Conduziu também a resistência à invasão japonesa nos anos 40.

    Segundo Luisa Tiago de Oliveira a forma de encarar os deportados também variou de governador para governador. Muitos foram espalhados pela ilha de forma a não poderem criar laços fortes, numas vezes. Vezes houve, no entanto que os governadores tentaram integrar os deportados, incentivando-os a participarem na actividade económica e social da ilha e a desenvolverem as actividades que eram as suas. Terá havido mesmo uma padaria em Dili criada por anarquistas que fornecia o pão à população branca. Nessa altura, de maior distensão social, foi mesmo constituída uma Aliança Libertária de Timor, com sede e tudo, possuíndo um boletim informativo que teve pelo menos três números (aqui).

    Nesta sua passagem por Évora, Luísa Tiago de Oliveira falou-me duma foto desta altura. Encontrei uma semelhante agora no arquivo Mosca (foto no início do texto). Alguns destes anarquistas fixaram-se em Timor Leste (como o Carrascalão). Outros regressaram a Portugal. Outros ainda foram morrer ao Tarrafal, como Simões Januário. Foi, no entanto, uma geração que lutou e foi fortemente reprimida, deportada e, por fim, em muitos casos, barbaramente assasinada. Foram largas dezenas os anarquistas mortos nas prisões, nas fugas, nas greves, nos atentados e nas acções contra o fascismo que se começava a impôr em Portugal e por toda a Europa. Hoje começa a recuperar-se essa memória. De uma geração que lutou até ao fim, mas cujos ecos só hoje começam a fazer-se ouvir junto das gerações mais jovens, mantendo viva a chama do ideal libertário.

    e.m.

    avo_marcelina_e_avo_manel_com_a_tia_dora_Marcelina Guterres e Manuel Viegas Carrascalão (aqui)

  • aristides sousa mendes – filme O Cônsul de Bordéus (2011

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    O CÔNSUL DE BORDÉUS

    É um filme Português que retrata a vida de ARISTIDES SOUSA MENDES

    https://www.youtube.com/watch?v=aLaNX8877Z4
    Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus (2011)

    www.youtube.com

    Com a invasão de França pelas tropas nazis, dezenas de milhares de refugiados começam a
  • ROSALIA DE CASTRO, GALIZA Adeus, rios; adeus, fontes

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    Adeus, rios; adeus, fontes

    adeus, rios; adeus, fontes;
    adeus, regatos pequenos;
    adeus, vista dos meus olhos;
    não sei quando nos veremos.

    minha terra, minha terra,
    terra onde me eu criei,
    hortinha que quero tanto,
    figueirinhas que plantei,

    prados, rios, arvoredos,
    pinhares que move o vento,
    passarinhos piadores,
    casinha do meu contento,

    moinho dos castanhais,
    noites claras de luar,
    campainhas timbradoras
    da igrejinha do lugar,

    amorinhas das silveiras
    que eu lhe dava ao meu amor,
    caminhinhos entre o milho,
    adeus para sempre a vós!

    adeus, glória! adeus, contento!
    deixo a casa onde nasci,
    deixo a aldeia que conheço
    por um mundo que não vi!

    deixo amigos por estranhos,
    deixo a veiga pelo mar,
    deixo, enfim, quanto bem quero…
    quem pudera o não deixar!…

    mas sou pobre e, malpecado!
    a minha terra n’é minha,
    que até lhe dão prestado
    a beira por que caminha
    ao que nasceu desditado.

    tenho-vos, pois, que deixar,
    hortinha que tanto amei,
    fogueirinha do meu lar,
    arvorinhas que plantei,
    fontinha do cabanal.

    adeus, adeus, que me vou,
    ervinhas do campo-santo,
    onde meu pai se enterrou,
    ervinhas que biquei tanto,
    terrinha que nos criou.

    adeus, Virgem da Assunção,
    branca como um serafim;
    levo-vos no coração;
    vós pedi-lhe a Deus por mim,
    minha Virgem da Assunção.

    já se ouvem longe, mui longe,
    as campanas do Pomar;
    para mim, ai!, coitadinho,
    nunca mais hão de tocar.

    já se ouvem longe, mais longe…
    cada bad’lada uma dor;
    vou-me só e sem arrimo…
    minha terra, adeus me vou!

    adeus também, queridinha…
    adeus por sempre quiçá!…
    digo-che este adeus chorando
    desde a beirinha do mar.

    não me olvides, queridinha,
    se morro de solidão…
    tantas léguas mar adentro…
    minha casinha!, meu lar!

    (Rosalia de Castro, poeta galega 1837-1885)

    Edições da Galiza/AGLP, pelo ilustre filólogo galego, Professor Dr. Higino Martins Esteves, segundo o Acordo Ortográfico da LP de 1990.

  • relembrar entrevista a Natália Carrascalão embaixadora de Timor em Lisboa

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    Cláudia Semedo entrevista Natália Carrascalão – embaixadora de Timor-Leste em Portugal – parte 2
    https://www.youtube.com/watch?v=MndgCcMRDOM

    www.youtube.com

    Timor-Leste é o país da Lusofonia com a comunidade migrante mais pequena residente em
  • mia couto e o “may be man”

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    Assim é a “Máfia Política”…….
    O “May be man” – Por Mia Couto <Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
    O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim­plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.
    A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.
    Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên­cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo­gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na­ção muito gaseificada.
    Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua­dra-se no combate contra a pobreza.
    Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi­nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.
    O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu­guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.
    O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup­to: em nome da lei, assalta o cidadão.
    Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau­tela, os do chefe do chefe.
    O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen­te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no­meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.
    Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for­tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.
    O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de-conta. Para um país a sério não serve.

     

     

     

  • judeus portugueses na América-Portuguesa

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    From: mlmedeiros[ saudades-sefarad] partilhou :


    Judeus Portugueses na América-Portuguesa

    http://vozdnacao.blogspot.com/2010/11/judeus-portugueses-e-america-portuguesa.html
    América Portuguesa

    Em sua diáspora pelo mundo, os conversos portugueses, encontraram um porto seguro nas colônias ultramarinas Portuguesas, em especialmente no Brasil: A América Lusitana.

    Entre os séculos XVI à XVIII, a grande maioria dos conversos que saíram de Portugal escolheram o Brasil como destino.

    Isso se deveu não só as facilidades, já que as colônias nada mais eram que os quintais da metrópole, mas também a possibilidade de crescimento econômico e ascensão social.

    Todavia, dois grupos distintos de Cristão-novos podiam ser observados entre os que decidiram cruzar o Atlântico:

    • Os que optaram pelo exílio por motivos religiosos.
    • Os que optaram pelo exílio, e assim, fugir da marginalização social imposta pela genere et moribus, que os impediam de ocupar um lugar digno na sociedade lusitana.
    Deveras complexo separar um grupo do outro, pois mesmo os que buscavam lugares onde as leis de segregação eram frouxas, também almejavam uma posição digna na sociedade.
    Interrogatórios do Sto. Ofício

    As notícias de prosperidade dos conversos portugueses no Brasil, não tardaram a chegar em Portugal, que logo cuidou de despachar visitadores do Sto. Oficio as capitanias mais prosperas do Brasil.

    A primeira Visitação do Sto. Ofício ao Brasil aconteceu entre de 1591 – 1595. Em 1624, nada menos que 245 Conversos já haviam sido processados.

    Engenho Camaragib

    Entre os anos de 1649 – 1748, entre os processados, encontramos 18 brasileiros de origem conversa executados no Largo do Róssio em Lisboa.

    O Judaísmo, na maior parte do tempo, esteve presente na vida dos conversos portugueses de forma oculta no Brasil.

    Em 1580 já se tinham notícias de várias Esnogas que funcionavam em Engenhos pertencentes a Conversos Portugueses.

    Entre as primeiras Esnogas Secretas do Brasil, encontramos a do Engenho Camaragibe, Engenho Muribeca, ambos em Pernambuco, e a do Engenho Matoim na Bahia.

    Um momento impa para os judeus conversos no Brasil, ocorreu durante a ocupação do Nordeste Setentrional pela Companhia das Índias Ocidentais.

    Invasão Holandesa do Nordeste do Brasil
    Com a liberdade religiosa posta como alicerce básico da nova possessão Holandesa nas América, a vida judaica prosperou.O continuo fluxo de Judeus da Nação Portuguesa de Amsterdam para o Brasil, somado aos Judeus conversos Luso-brasileiros que assumiram publicamente a sua fé, logo exigiu a edificação de uma vida comunitária organizada.

    Assim duas qehilôth foram levantadas:
    • A Qahal Sur Israel, (primeira Esnoga das Américas), liderada pelo erudito Hakham Isaac Aboab da Fonseca,
    • A Maguen Abraham, liderada pelo Gramático e Hakham Rafael Moses de Aguilar.
    Ambas foram unificadas na segunda metade de 600.
    Com a expulsão dos Holandeses no Brasil, em 1654, a vida judaica ruiu. Porém, quatro foram os destinos tomados pelos Judeus Portugueses:
    • Os que voltaram a Europa;
    • Os que foram em direção a outras possessões holandesas na América do Sul, como Suriname e Curaçao;
    • Os que foram para Colônia holandesa na América do Norte, onde hoje se situa Nova Iorque nos EUA.
    • Os que voltaram à condição de criptojudeus e se refugiaram nos sertões do Brasil.

    in diálogos lusófonos

  • poema de Gabriela Carrascalão

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    Este poema faz parte do curriculo do 12 ano da Escolas Portuguesas de TL. Foram escolhidos tres poemas sobre Timor : este, um de Rui Cinatty e um do Padre Barros Duarte. …

    Poema :
    Titulo : Menino Abandonado
    autora; MGabriela Carrascalao

    01-12-2006

    Menino…. Abandonado,
    rejeitado!
    chorando!…
    nas ruas de Dili!…
    Secas! Poeirentas!
    Menino magoado!
    Perdido…
    Angustiado!
    Geme!
    Garoto inocente!
    triste, mal amado!
    Menino esfomeado!
    inocência violada !
    criança usada!
    rosto massacrado,
    lágrimas !
    de sangue jorrando!
    nas ruas de Dili!…
    Secas! Poeirentas!
    Criança chorando!
    Meu Menino,
    garoto magoado!
    Triste !…
    abandonado!…

    MGabriela Carrascalão
    1-12-2006

    MGabriela

  • Quando os Bobos Uivam LIVRO DE ONÉSIMO T ALMEIDA

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    Fogo, espionagem e outros mistérios q.b. são alguns dos ingredientes do novo livro do grande contador de estórias que é Onésimo T. Almeida. E também há presidentes e ex-presidentes da República, poetas, escritores e pensadores, tudo entretecido em conversas com textos clássicos e reflexões oportunas.
    Quando os Bobos Uivam compõe-se de quatro estórias mirabolantes de realismo magicamente real a demonstrar que a arte, muitas vezes, não vai além da imagem pálida que a vida é capaz de inventar.

    “ Quando os Bobos Uivam”, Onésimo Teotónio Almeida, Ed. Clube do Autor, 2013.

  • e agora josé (drummond de andrade)

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    Carlos Drummond de Andrade – E Agora Jose

    Drummond na voz de Drummond

    poema “José” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado originalmente em 1942, na coletâneaPoesias. Ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.

    José

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?

    E agora, José?
    Sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio — e agora?

    Com a chave na mão
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?

    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse…
    Mas você não morre,
    você é duro, José!

    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    Análise e interpretação do poema

    Na composição, o poeta assume influências modernistas, como verso livre, ausência de um padrão métrico nos versos e uso de linguagem popular e cenários cotidianos.

    Primeira estrofe

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

    Começa por colocar uma questão que se repete ao longo de todo o poema, se tornando uma espécie de refrão e assumindo cada vez mais força: “E agora, José?”. Agora, que os bons momentos terminaram, que “a festa acabou”, “a luz apagou”, “o povo sumiu”, o que resta? O que fazer?

    Esta indagação é o mote e o motor do poema, a procura de um caminho, de um sentido possível. José, um nome muito comum na língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito coletivo, metonímia de um povo. Quando o autor repete a questão, e logo depois substitui “José” por “você”, podemos assumir que está se dirigindo ao leitor, como se todos nós fossemos também o interlocutor.

    É um homem banal, “que é sem nome”, mas “faz versos”, “ama, protesta”, existe e resiste na sua vida trivial. Ao mencionar que este homem é também um poeta, Drummond abre a possibilidade de identificarmos José com o próprio autor. Coloca também um questionamento muito em voga na época: para que serve a poesia ou a palavra escrita num tempo de guerra, miséria e destruição?

    Segunda estrofe

    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?

    Reforça a ideia de vazio, de ausência e carência de tudo: está sem “mulher”, “discurso” e “carinho”. Também refere que já não pode “beber”, “fumar” e “cuspir”, como se seus instintos e comportamentos estivessem sendo vigiados e tolhidos, como se não tivesse liberdade para fazer aquilo que tem vontade.

    Repete que “a noite esfriou”, numa nota disfórica, e acrescenta que “o dia não veio”, como também não veio “o bonde”, “o riso” e “a utopia”. Todos os eventuais escapes, todas as possibilidades de contornar o desespero e a realidade não chegaram, nem mesmo o sonho, nem mesmo a esperança de um recomeço. Tudo “acabou”, “fugiu”, “mofou”, como se o tempo deteriorasse todas as coisas boas.

    Terceira estrofe

    E agora, José?
    Sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio — e agora?

    Lista aquilo que é imaterial, próprio do sujeito (“sua doce palavra”, “seu instante de febre”, “sua gula e jejum”, “sua incoerência”, “seu ódio”) e, em oposição direta, aquilo que é material e palpável (“sua biblioteca”, “sua lavra de ouro”, “seu terno de vidro”). Nada permaneceu, nada restou, sobrou apenas a pergunta incansável: “E agora, José?”.

    Quarta estrofe

    Com a chave na mão
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?

    O sujeito lírico não sabe como agir, não encontra solução face ao desencantamento com a vida, como se torna visível nos versos “Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe porta”. José não tem propósito, saída, lugar no mundo.

    Não existe nem mesmo a possibilidade da morte como último recurso – “quer morrer no mar, / mas o mar secou” – ideia que é reforçada mais adiante. José é obrigado a viver.

    Com os versos “quer ir para Minas, / Minas não há mais”, o autor cria outro indício da possível identificação entre José e Drummond, pois Minas é a sua cidade natal. Já não é possível voltar ao local de origem, Minas da sua infância já não é igual, não existe mais. Nem o passado é um refúgio.

    Quinta estrofe

    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse…
    Mas você não morre,
    você é duro, José!

    Coloca hipóteses, através de formas verbais no pretérito imperfeito do subjuntivo, de possíveis escapatórias ou distrações ( “gritasse”, “gemesse”, “tocasse a valsa vienense”, “morresse”) que nunca se concretizam, são interrompidas, ficam em suspenso, o que é marcado pelo uso das reticências.

    Mais uma vez, é destacada a ideia de que nem mesmo a morte é uma resolução plausível, nos versos: “Mas você não morre / Você é duro, José!”. O reconhecimento da própria força, a resiliência e a capacidade de sobreviver parecem fazer parte da natureza deste sujeito, para quem desistir da vida não pode ser opção.

    Sexta estrofe

    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    É evidente o seu isolamento total (“Sozinho no escuro / Qual bicho-do-mato”), ” sem teogonia” (não há Deus, não existe fé nem auxílio divino), “sem parede nua / para se encostar” (sem o apoio de nada nem de ninguém), “sem cavalo preto / que fuja a galope” (sem nenhum meio de fugir da situação em que se encontra).

    Ainda assim, “você marcha, José!”. O poema termina com uma nova questão: “José, para onde?”. O autor explicita a noção de que este indivíduo segue em frente, mesmo sem saber com que objetivo ou em que direção, apenas podendo contar consigo mesmo, com o seu próprio corpo.

    O verbo “marchar”, uma das últimas imagens que Drummond imprime no poema, parece ser muito significativo na própria composição, pelo movimento repetitivo, quase automático. José é um homem preso à sua rotina, às suas obrigações, afogado em questões existenciais que o angustiam. Faz parte da máquina, das engrenagens do sistema, tem que continuar suas ações cotidianas, como um soldado nas suas batalhas diárias.

    Mesmo assim, e perante uma mundividência pessimista, de vazio existencial, os versos finais do poema podem surgir como um vestígio de luz, uma réstia de esperança ou, pelo menos, de força: José não sabe para onde vai, qual o seu destino ou lugar no mundo, mas “marcha”, segue, sobrevive, resiste.

    Leia também a análise do poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade.

    Contexto histórico: Segunda Guerra Mundial e Estado Novo

    Para compreender o poema na sua plenitude é essencial termos em vista o contexto histórico no qual Drummond viveu e escreveu. Em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o Brasil também tinha entrado num regime ditatorial, o Estado Novo de Getúlio Vargas.

    O clima era de medo, repressão política, incerteza perante o futuro. O espírito da época transparece, conferindo preocupações políticas ao poema e expressando as inquietações cotidianas do povo brasileiro. Também as condições de trabalho precárias, a modernização das indústrias e a necessidade de migrar para as metrópoles tornavam a vida do brasileiro comum numa luta constante.

    Carlos Drummond de Andrade e o Modernismo brasileiro

    O Modernismo brasileiro, que surgiu durante a Semana de Arte Moderna de 1922, foi um movimento cultural que pretendia quebrar os padrões e modelos clássicos e eurocêntricos, heranças do colonialismo. Na poesia, queria abolir as normas que restringiam a liberdade criativa do autor: as formas poéticas mais convencionais, o uso de rimas, o sistema métrico dos versos ou os temas considerados, até então, líricos.

    A proposta era abandonar o pedantismo e os artifícios poéticos da época, adotando uma linguagem mais corrente e abordando temas da realidade brasileira, como modo de valorizar a cultura e a identidade nacional.

    Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Autor de obras literárias de vários gêneros (conto, crônica, história infantil e poesia), é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

    Integrou a segunda geração modernista (1930 – 1945) que abraçou as influências dos poetas anteriores, e se focou largamente nos problemas sociopolíticos do país e do mundo: desigualdades, guerras, ditaduras, surgimento da bomba atômica. A poética do autor também revela um forte questionamento existencial, pensando no propósito da vida humana e no lugar do homem no mundo, como podemos ver no poema em análise.

    Em 1942, data de publicação do poema, Drummond estava de acordo com o espírito da época, produzindo uma poesia política que expressava as dificuldades diárias do brasileiro comum e as suas dúvidas e angústias, assim como a solidão do homem do interior perdido na cidade grande.

    Drummond morreu no Rio de Janeiro, dia 17 de agosto de 1987, na sequência de um infarto do miocárdio, deixando um vasto legado literário.

  • UBERABA – A CATEDRAL por Eduarda Fagundes

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    Nome Atual: Catedral do Sagrado Coração de Jesus
    Nome Anterior: Igreja Matriz

    Fonte:
    Autor Fotógrafo: Marise Romano
    Autor Restauração:
    Referência: Catedral de Uberaba
    Data: 2006


    Foto:
    Catedral do Sagrado Coração de Jesus – Praça Rui Barbosa (Centro – 2006/2007)

    Histórico – Catedral do Sagrado Coração de Jesus

    “A primeira Capela construída na região de Uberaba data de 1807, nas Cabeceiras do Córrego do Lajeado, Arraial da Capelinha, nas terras de propriedade de José Francisco de Azevedo. Em 1812, as imagens de Santo Antônio e São Sebastião, os padroeiros, foram entronizadas.

    Com a mudança, em 1815, dos moradores do Arraial da Capelinha para o novo Arraial da Farinha Podre, Uberaba atual, o Sargento-Mor, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira (Major Eustáquio), construiu uma nova Capela, na Praça Frei Eugênio, com a mesma invocação de Santo Antônio e São Sebastião, sendo benzida e liberada para as cerimônias religiosas, em 01 de dezembro de 1818. Em 02 de Março de 1820, com a instalação da Freguesia, esta Capela foi elevada à Categoria de Paróquia, e constituída em primeira Matriz.

    A capela foi demolida e uma outra construída no mesmo lugar, pelo Vigário Silva. Foi inaugurada em 20 de janeiro de 1828, e serviu ao culto até 1856. A atual Igreja Matriz teve as obras iniciadas em 1827. Com a morte do Major Eustáquio, em 1832, as obras ficaram paralisadas por vários anos.

    Vindo residir em Uberaba, em 1847, Antônio Borges Sampaio encontrou a Matriz nova inacabada, tendo apenas o telhado sobre os esteios e baldrames de aroeira, sem paredes nem assoalhos. Em 1848, o Cap. Joaquim Antônio Rosa retomou a sua construção cujas obras prosseguiram até 1856, sendo já celebrados na mesma, os ofícios religiosos. Esta Igreja passou por várias reformas e melhorias:

    • 1857 – Frei Eugênio construiu a Sacristia e o Adro.
    • 1859 – Joaquim Francisco Ananias construiu as duas torres, o coro, o arco-cruzeiro e o altar-mor.
    • 1868 – As torres foram revestidas de tijolos, argamassa e óleo.
    • 1874 – O relojoeiro Florêncio Forneri assentou o relógio em uma das torres.
    • 1880 – Foram colocados dois sinos, fundidos em Uberaba, por José Carlos Onofre.
    • 1889 – Vigário Carlos José dos Santos ordenou uma pintura externa na Igreja.
    • 1896 – As duas torres foram demolidas e edificada uma única torre, projetada pelo engenheiro Ataliba Vale, com características neogóticas.
    • 1899 – Com a transferência da sede do Bispado de Goiás para Uberaba, a Igreja Matriz alcançou as prerrogativas de Catedral.
    • 1907 – Com a inauguração da Igreja Sagrado Coração de Jesus (hoje Adoração Perpétua), para ser a Catedral, ela voltou a ser Matriz de Santo Antônio e São Sebastião.
    • 1926 – Dom Almeida Lustosa, 2º Bispo de Uberaba, transladou a Igreja Catedral para a Matriz de Santo Antônio e São Sebastião, com seu título de Sagrado Coração de Jesus, passando os Santos da primitiva Capela à Igreja da Adoração Perpétua.
    • 1933 – A matriz passou por sua última reforma total, permanecendo como está até os dias atuais. Foram acrescentados um transepto, capelas laterais e modificações no frontespício. O arquiteto responsável pelas obras foi Emanuel Giani.

    Atualmente é cercada por grades de ferro, tendo à frente a Imagem de Cristo e nas laterais as imagens de Santo Antônio e São Sebastião.”
    (ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA)