Categoria: AICL Lusofonia Chrys Nini diversos

  • EVITE-AS, AS Tautologias

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    TAUTOLOGIA

    E já agora sabe o que é tautologia?

    É o termo usado para definir um dos vícios, e erros, mais comuns de linguagem. Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.
    O exemplo clássico é o famoso ‘ subir para cima ‘ ou o ‘ descer para baixo ‘. Mas há outros, como pode ver na lista a seguir:
    elode ligação
    acabamentofinal
    certezaabsoluta
    quantiaexacta
    – nos dias 8, 9 e 10,inclusive
    juntamentecom
    expressamenteproibido
    – em duas
    metadesiguais
    sintomasindicativos
    – há anosatrás
    vereadorda cidade
    outraalternativa
    detalhesminuciosos
    – a razão éporque
    anexojuntoà carta
    – de
    sualivreescolha
    superávitpositivo
    todosforam unânimes
    conviverjunto
    factoreal
    encararde frente
    multidãode pessoas
    amanhecero dia
    criaçãonova
    retornarde novo
    empréstimotemporário
    surpresainesperada
    escolhaopcional
    planearantecipadamente
    aberturainaugural
    continua apermanecer
    aúltimaversão definitiva
    possivelmentepoderá ocorrer
    – comparecer
    em pessoa
    gritarbem alto
    propriedadecaracterística
    demasiadamenteexcessivo
    – a seu
    critériopessoal
    – excederem muito.

    Note que todas essas repetições são dispensáveis.
    Por exemplo, ‘ surpresa inesperada ‘ . Existe alguma surpresa esperada? É óbvio que não.
    Devemos evitar o uso das repetições desnecessárias. Fique atento às expressões que utiliza no seu dia-a-dia.

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  • MIA COUTO-“Melhor de Moçambique”

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    IN DIÁLOGOS LUSÓFONOS

    Mia Couto

    Intervenção na Gala da STV para a atribuição do galardão do “Melhor de Moçambique”

    Pensei bastante se estaria ou não presente nesta cerimónia. A razão para essa dúvida era a seguinte: há três dias a minha família foi alvo de várias e insistentes ameaças de morte. Essas ameaças persistiram e trouxeram para toda a nossa família um clima de medo e insegurança. A intenção foi-se revelando clara, depois de muitos telefonemas anónimos: a extorsão de dinheiro. A mesma criminosa ameaça, soubemos depois, já bateu à porta de muitos cidadãos de Maputo.

    Poderíamos pensar que essas intimidações se reproduzem a tal escala que acabam por se desacreditar. Mas não é possível desvalorizar este fenómeno. Porque ele sucede num momento em que, na capital do país, pessoas são raptadas a um ritmo que não pára de crescer. Esses crimes reforçam um sentimento de desamparo e desprotecção como nunca tivemos nos últimos vinte anos da nossa história.

    Esses que são raptados não são os outros, são moçambicanos como qualquer outro cidadão. De cada vez que um moçambicano é raptado, é Moçambique inteiro que é raptado. E de todas as vezes, há uma parte da nossa casa que deixa de ser nossa e vai ficando nas mãos do crime. Neste confronto com forças sem rosto nem nome, todos perdemos confiança em nós mesmos, e Moçambique perde a credibilidade dos outros.
    Esses sequestros estão nos cercando por dentro como se houvesse uma outra guerra civil, uma guerra que cria tanta instabilidade como uma qualquer outra acção militar, qualquer outra acção terrorista.

    Este é um fenómeno que atinge uma camada socialmente diferenciada do nosso país. Mas o mesmo sentimento de medo percorre hoje, sem excepção, todos os habitantes de Maputo, pobres e ricos, homens e mulheres, velhos e crianças que são vítimas quotidianas de crimes e assaltos.

    Eu falo disto, aqui e agora, porque uma cerimónia destas nos poderia desviar do que é vital na nossa nação. Não podemos esquecer que o nosso destino colectivo se decide hoje sobretudo no centro do País, nessa fronteira que separa o diálogo do belicismo. E todos nós queremos defender essa que é a conquista maior depois da independência nacional: a Paz, a Paz em todo o país, a Paz no lar de cada moçambicano.
    Se invoquei a situação que se vive hoje em Maputo é porque outras guerras, mais subtis e silenciosas, podem estar a agredir Moçambique e a roubar-nos a estabilidade e que tanto nos custou conquistar.

    Caros amigos

    Estamos celebrando nesta Gala algo que, certamente, possui a intenção positiva de valorizar o nosso país. Mas para usufruirmos o que aqui está a ser exaltado, as melhores praias, os melhores destinos turísticos, precisamos de saber o ver o que nos cerca. Na realidade, e em rigor, o melhor de Moçambique não pode ser seleccionado em concurso. O melhor de Moçambique são os moçambicanos de todas etnias, todas as raças, todas as opções políticas e religiosas. O melhor de Moçambique é a gente trabalhadora anónima que, todos os dias, atravessa a cidade em viaturas transportados em condições que são uma ofensa à vida e à dignidade humanas.

    O melhor de Moçambique são os camponeses que embalam à pressa os seus haveres para fugirem das balas. O melhor de Moçambique são os que, mesmo não tendo dinheiro, pagam subornos para não serem incomodados por agentes da ordem cuja única autoridade nasce da arrogância.

    O melhor de Moçambique são os que anonimamente constroem a nação moçambicana sem tirar vantagem de serem de um partido, de uma família, de uma farda.

    Os melhores de Moçambique não precisam sequer que os outros digam que são os melhores. Basta-lhe serem moçambicanos, inteiros e íntegros, basta-lhes não sujarem a sua honra com a pressa de se tornarem ricos e poderosos.

    Os melhores de Moçambique não precisam de grandes discursos para acreditarem numa pátria onde se possa viver sem medo, sem guerra, sem mentira e sem ódio. Precisam, sim, de acções claras que eliminem o crime e a corrupção. Porque a par deste galardão que distingue o melhor de Moçambique há um outro galardão, invisível mas permanente, que premeia o pior de Moçambique. Todos os dias, o pior de Moçambique é premiado pela impunidade, pela cumplicidade e pelo silêncio.

    Caros amigos,

    Disse, no início, que hesitei em estar presente nesta gala. Mas pensei que me competia, junto com todos vocês, a obrigação de construir um evento que fosse para além das luzes e das mediáticas aparências. Nós queremos certamente que esta festa tenha uma intenção e produza uma diferença. E esta celebração só terá sentido se ela for um marco na luta pela afirmação de valores morais e princípios colectivos. Para que a nossa vida seja nossa e não do medo, para que as nossas cidades sejam nossas e não dos ladrões, para que no nosso campo se cultive comida e não a guerra, para que a riqueza do país sirva o país inteiro.

    MIA COUTO

    25-10-2013

     

     

  • TODA A obra de Fernando Pessoa

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    https://www.revistabula.com/790-toda-a-obra-poetica-de-fernando-pessoa-para-download/?fb_action_ids=618449971508757&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%7B%22618449971508757%22%3A285706598234968%7D&action_type_map=%7B%22618449971508757%22%3A%22og.likes%22%7D&action_ref_map=%5B%5D

     

  • olivença por alexandre banhos

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    in comunidade lusófona

    Uma opinião oportuna de um galego sobre a presença da língua portuguesa no norte da Extremadura e a situação vivida em Olivença («se empregaram a fundo os espanhois com -jugo e vara- para apagar…»).
    AMarques

    «O Português de Castela
    São infelizmente poucos os portugueses que conhecem que a raia leste de Portugal não é exatamente uma fronteira linguística, que a fronteira política deixou em Espanha territórios bem portugueses onde a nossa fala vive em estado de depauperação.
    Estou-me referindo aos concelhos espanhois de Olivença <http://olivenca.org/> e Tálega (a Olivença portuguesa) ocupados por Espanha em 1801, e que a pesar de ser mandato do tratado de Viena de 1815, o seu retorno à pátria, seguem ocupados e o português neles perseguido. Os territórios de Valência de Alcântara, Ferreira de Alcântara e Cedilho que cantou Pessoa, – e que bem se lembrou deles Afonso V ao assinar Portugal um tratado secreto com Filipe de Anjou, (neto de Luis XIV da França), intervindo Portugal a troca desses territórios, na longa guerra de sucessão em apoio do Bourbon, frente ao aspirante austríaco-; porém, obtida a vitória polo Bourbon (Filipe V da Espanha) este negou-se a cumprir o tratado –não tornando esses territórios bem portugueses a Portugal-, comportando-se assim dum jeito muito espanhol. Estão logo os territórios do vale do Xalma- concelhos espanhois de Valverde do Freixo, Sam Martim de Trevejo, e Eljas. Mais ao norte estão os concelhos de Almedilha e Calabor. Todos esses territórios são contíguos de Portugal e afastados geograficamente das falas galegas do português, ainda que a pressão do castelhano e a sua imposição, dá a estas falas uma farda muito galaica <http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1906:o-galego-ou-a-caminhada-do-portugues-para-o-castelhano&catid=8:cronicas&Itemid=69>.
    Um grupo de professores galegos membros do coletivo glu glu, realizaram um interessante filme sobre esta realidade, que pode ser adquirido na Loja on-line imperdível <http://imperdivel.net/documentarios/60-entrelinguas.html>, e que estou seguro vai ser todo um descobrimento para o público português em geral, e para entender de jeito muito mais claro que as falas galegas são parte da sua própria língua.
    O documental é acompanhado com outro DVD com dados, inclui uma entrevista -de muito interesse- com um professor da universidade de Vigo – Henrique Costas-, que seguindo as teses espanholas, defende que as falas galegas não são português e por tanto algumas das falas portuguesas da raia leste e pela mesma razão -são galegas- é dizer espanholas (e não portuguesas)
    A obra é uma pequena joia que vai servir para os portugueses recuperarmos algum aspecto da complexidade da nossa formação nacional, pois a fronteira do tratado de Alcanhizes não é exatamente uma fronteira linguística.
    Só mais uma cousa, se o português destes territórios vive uma dura situação, onde pior está, é no mais recente território roubado de Portugal –Olivença-, onde se empregaram a fundo os espanhois com -jugo e vara- para apagar a nossa língua.
    A Banhos»

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  • chá nos Açores SÃO MIGUEL 1878

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    • Imagem

      1878, Ilha de São Miguel

      – Contrato entre o Conselheiro Carlos Eugénio Correia da Silva, representante do presidente da Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense, e o chinês Lau-a-Teng, para serviço e preparação da cultura do chá em S. Miguel

      A história da cultura do chá em S. Miguel, nos Açores, remonta ao século XIX, com a importação da planta, no primeiro quartel de 1800. O passo seguinte foi o arranque da indústria de transformação da folha a partir de 1878, ano em que a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense levou à ilha dois chineses de origem macaense para ensinar os rudimentos daquela arte. – Por Margarida Machado

      https://www.snpcultura.org/ilha_sao_miguel_baluarte_industria_cha_europa.html

      In Exposição “Chá em São Miguel, Cultura e Vivências” – Museu Carlos Machado; Texto:Margarida Machado; Fonte:http://www.snpcultura.org/ilha_sao_miguel_baluarte_industria_cha_europa.html
      (FF) — with Apolinario Tomaz Freitas.

  • as mukandas do kota kandimba e a mulemba

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    retirado de diálogos lusófonos

     

    Em memória do grande jornalista angolano huambino, Sebastião Coelho, passo parte de uma matéria que os amigos carinhosamente definem como as mukandas do kota kandimba
    Quem nos conta a história é Sebastião Coelho, famoso jornalista huambino que nasceu em 1931 e morreu em 2002. Conta-a num texto datado de 2000, «A Mulemba da maldição».
     A mulemba da maldição
    SEBASTIÃO COELHO,1931-2002
    “…quando a mulemba secar, o Huambo vai desaparecer,
     destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas
     do solo não serão para ninguém…”
     MULEMBEIRA
     DA MALDIÇÃO DE ALBANO CANTO DOS SANTOS, dos anos 20
    Nasci noutro bairro, mas, durante certo tempo da minha adolescência, vivi ao lado do campo de futebol do Sporting do Huambo. A minha rua estava coberta de jacarandás.
    Quando floresciam, lançavam sobre o pavimento um manto de flores lilazes, que amanheciam orvalhadas e estalavam, fofas, debaixo dos pés. Gostava de ver os jacarandás vestidos de flor, quando perdiam todas as folhas e as pétalas chuviscavam sobre as nossas cabeças, abanadas pelo vento suave do entardecer. Depois, já murchas,
    aninhavam-se ao longo dos muros em extensos cordões, deixando lugar para as flores novas. Eram milhões de flores que caiam em cada dia, as árvores envaidecidas a mostrar, cada uma delas, a sua pujança de vida.
    Do outro lado da rua e além do aterro por onde passa o combóio, seguro de si e do seu caminho, estava o roseiral, acompanhando a via, encaixado entre esta e os cedros da sebe. Ultrapassado o muro verde, estendia-se, interminável, no sentido este-oeste, a avenida do Colete. Do colete, porque todas as casas estavam só de um lado. Incluindo a
    Igreja Catedral, que estava em construção. As árvores da avenida eram acácias, que também brincavam de primavera, mas não perdiam as folhas, que pareciam mais verdes quando os ramos de flores brancas, amarelas, vermelhas ou alaranjadas, espreitavam pelo meio, a encher o ambiente de cores e olores.
    O festival das rosas desafiantes de orgulho e de perfume, acompanhava a avenida para um lado e para o outro. A caminho da alta, logo depois da passagem de nível, havia um pequeno bosque e a seguir, os olhos embrenhavam-se no mundo dos cosmos, espectacular mancha de cores amontoadas de flores garridas que nem paleta de Matisse.
    Sem perfume, mas de grande beleza. A avenida 5 de Outubro, a tal do colete, nascia na baixa, na continuação da estrada da Pauling e São João e terminava na alta, no cruzamento próximo das casas do Samacaca, onde se dividia em duas.
    Quem tomasse pelo lado esquerdo, desfilando ao longo das casas do Samacaca ,desembocava nos anéis concentricos do jardim da alta. Continuando para a direita, ali perto estava o edificio do velho Teatro Peairo, que o tempo transformou na “Fábrica de Moagem”, onde tinha início a avenida Ferreira Viana, ladeada de casuarinas. Mas
    abaixo desenrolava-se o projecto de avenida, sem nome e sem casas que terminava cruzando para o outro lado da linha do CFB, para transformar-se na estrada da Caála. Também era o caminho do Matadouro e o caminho do Cemitério.
    Foi aqui, entre o Matadouro e o Cemitério, que eu nasci, numa pequena chitaca  dos arredores da cidade. Era longe para irmos ao “Ambo”, como diziamos, embora nesse tempo já se chamasse Nova Lisboa. Durante anos fiz esse percurso de muitos quilómetros, a pé ou em bicicleta. A alternativa era usar a berma da linha do combóio, que estava proibida para bicicletas. Ou, então, a pé, por um carreiro de gentio, atravessar a sanzala do Karilongue e descer e subir as empinadas encostas do rio, que se cruzava a vau. Ir e voltar do “Ambo” era uma viagem longa e cansadora de três a quatro horas, segundo a pressa e as pernas de cada um.
    Nova Lisboa foi o nome com que a rebatizou o coronel Vicente Ferreira, ao decidir que a capital de Angola devia situar-se nesse ponto estratégico do Planalto Central. A lei ou portaria com a transferência de nome e da capital surgiu no Boletim Oficial no dia 21 de Setembro de 1927. Desde aí, esta data tornou-se o dia da cidade que só foi capital no papel, mas sempre foi cidade, porque nasceu cidade, a 12 de Agosto de 1912, por decisão do Alto Comissário da República Portuguesa, general Norton de Matos.
    Acabava de chegar ao lugar o que seria o grande impulsor do progresso da região, o Caminho de Ferro de Benguela. Para celebrar o acontecimento, o general deslocou-se ao Huambo a fim de anunciar, pessoalmente, “in loco”, a fundação da nova cidade. Ele mesmo, de pé, sobre a tarimba montada frente ao barracão pomposamente designado
    gare ferroviária, leu o auto fundacional, na presença dos primeiros habitantes europeus da cidade, dois homens e uma mulher. Logo a seguir e ali mesmo, o Alto Comissário lhes entregou, em mão, o rascunho da planta da nova urbe, traçado pelo seu próprio punho.
    Dados geográficos, orográficos e hidrográficos de notavel precisão documentavam o projecto. A cidade seria implantada a sul da ferrovia, alcandorada sobre a linha divisória de águas da região. Não registava nenhum povoado nesse lugar e apenas dava conta da existência de uma incipiente mina de diamantes. As sanzalas importantes,pertencentes ao forte sobado do Huambo, estavam anotadas e dispersas pelos arredores.
    Havia a embalada do soba grande da Kissala, a duas léguas a ocidente, a do sobeta Sanjepele, três léguas ao norte e a do Sumi, a umas cinco léguas a sul.
    As sanzalas do Kalumanda, Karilongue, Kanhé, Kakeléua, Sakaála, Mukolokolo, Bomba e outras por aí, apareceram depois e foram bairros periféricos com entidade própria e nenhum aspecto de musseque. Os deterioros e a expansão incontenivel, são posteriores a esse tempo de que vos falo, quando o Paulino leiteiro ainda ia de casa em casa para entregar as bilhas de leite fresco. A lenha e o carvão chegavam na carroça do Sô Domingo, avisando: -“Toc, toc, toc.Cravão,Cravão-mé sióra ! “O rio da Granja era rio de água cristalina, que regava as hortas do Figueiredo e dava nome à única via alternativa entre a alta e a baixa. O grande “boulevard”, de duzentos metros de largura, era tão amplo que a vista curta das autoridades não suportou o desafio e o reduziu a um quarto.
    Quem nos conta a história é Sebastião Coelho, famoso jornalista huambino que nasceu em 1931 e morreu em 2002. Conta-a num texto datado de 2000, «A Mulemba da maldição».
    Um velho branco, Albano Canto dos Santos, provavelmente pioneiro da instalação dos portugueses nas terras do Wambo, casou-se com a filha do soba local. Esperava encontrar muitos diamantes e que um dia o seu filho se tornasse também soba. Plantou uma mulemba para o dia em que ele o fosse, pois à sua sombra reina também o soba. A mulemba cresceu, tornou-se frondosa e, portanto, tudo indicava que a sua esperança iria realizar-se. Os amigos, porém, combinados, puseram uns vidros no rio onde ele mandara escavar um buraco (junto à fonte) à procura dos diamantes. Convencido de que os tinha encontrado, foi confirmar tudo com o farmacêutico que, fazendo parte da tramóia, lhe disse que eram mesmo diamantes o que ele encontrara. O velho colono convocou uma grande festa, com refeição e tudo, para comemorar com os amigos. No final da refeição alguém lhe conta a verdade. Condoído, isolou-se, ficou doido, subia aos ramos da mulemba contemplando a mina e um dia enforcou-se.
    Deixou uma carta e vale a pena transcrever esta parte do testemunho de Sebastião Coelho:
    Na carta, delirante e profética, que escreveu e que teria sido encontrada junto ao tronco da árvore, pedia para ser enterrado ali, ao lado da mulemba, pois, se assim não acontecesse, a sua alma, inquieta, voltaria para vingar-se: … e quero o meu corpo a alimentar as raízes da árvore que eu plantei, quero que os meus sumos penetrem nesta terra e se juntem, lá embaixo, com as riquezas que não encontrei, mas que existem.
    Com elas sonhei transformar este país rico e de gente pobre, num rico país para toda a gente. Sonhei ver o meu filho mulato Pedro Evango, feito soba do Huambo, sentado à sombra deste pau sagrado, criar uma nação próspera e feliz, mistura de várias raças.
    Fui atraiçoado pela pior traição, a traição dos amigos e da confiança. Se me atraiçoarem de novo, saibam que esta mulemba vai secar e quando a mulemba secar, o Huambo vai desaparecer, destruído pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém… tudo será ruína e desolação!
    Infelizmente, Sebastião Coelho não regressou ao Huambo,em Angola, para ver se a mulemba secou. Lembrou-se ele, na falta disso, da destruição que a cidade sofreu com a guerra civil, sobretudo no início de 1993, na famosa batalha dos 55 dias e depois na recuperação da cidade pelas forças governamentais. Mas os acontecimentos que nos narra se deram em um tempo recuado o suficiente para a lenda de Albano Canto dos Santos circular pela cidade. O próprio Sebastião Coelho a ouvira na sua meninice. Da meninice do Huambo, a estória podia espalhar-se para mais cidades, nada inédito em Angola.
    Mulembeira em Angola é a “árvore da sabedoria”, o lugar tradicional da iniciação dos mais novos na sabedoria dos mais velhos
    Árvore frondosa muito comum em Angola
    Mulemba, Ficus Psicolopoga Welw. ex Warb, Ficus Sicomurus, Phyllantus stuhlmannii Pax, Ficus thoningii Bleim. Nos Dicionários de Kimbundu – Português, Mulêmba, pl. Milêmba, com o sinónimo de Incendeira. No Dicionário Cokwe – Português~, existem várias entradas para o radical Lemba – «uma árvore frondosa de que se extrai o visco para apanhar pássaros(Ficus Welwitschii); Lemba- oração, prece, súplica e ainda Lemba – antepassado, maior, avô, ancião. Com a grafia mulemba mas o sinónimo de Ensandeira ocorre em Cadornega, Tomo I, p. 818 – «É a árvore chamada em Luanda e seu interior ensandeira. Esta árvore é chamada no Congo nsanda; desta palavra fizeram os portugueses no Congo a palavra ensandeira, a qual palavra transitou para Luanda e ali se continuou a usar». Para as regiões do antigo reino do Ndongo « a permanência e a união dos grupos de parentesco e a sua ligação com os antepassados múndòngò passaram a ser asseguradas pela árvore mulèmbà, que passou a ser plantada no centro de cada nova aglomeração», Cf. Virgílio Coelho, Em Busca de Kábàsá…, p.143 . Carvalho, Ethnographia ,p. 93, atribuição do título Capenda- cá-Mulemba, deveu-se à grande abundância de árvores Mulemba (Ficus elástica) na região. Sesinado Marques, companheiro de viagem de Henrique de Carvalho, no seu Os Climas e as Produções de Malange à Lunda, também a considera e classifica, sublinhando a sua importância, a seu ver injustificada, como panaceia para múltiplas doenças, p. 45. Múlê : mb «simboliza a perpetuação do título político… para os Lunda e para os Lwena também, os dois termos para árvores Lannea – muyomb e mulemba – diferem na medida em que a primeira é predominantemente um símbolo ligado aos ancestrais, enquanto que a segunda se liga directamente à chefia», Hoover, Seduction, p. 575. «Árvore sagrada da maioria das etnias do ‘nordeste’. O lugar desta árvore na cultura tsokwé e Lunda é muito importante.
    Todas ou quase todas aldeias têm uma mulemba que normalmente assinala o lugar da fundação. É debaixo dos seu ramos que frequentemente se discutem os grandes problemas, se faz justiça, se recebem os visitantes de honra, se dança, etc. Foi sob uma mulemba que Lweji recebeu pela primeira vez o seu futuro esposo, o grande caçador Tshibinda Ilunga», Mesquitela Lima, Fonctions, p. 305, 306. Areia, Les Symboles…,p. 395, afirma que no nordeste a mulemba é por excelência a árvore ligada ao culto dos antepassados. Citando um dos seus informadores, quando apontava a figurinha Kuku do cesto de adivinhação, diz: “Isto é o Lemba, uma pessoa de outro tempo, a mulemba é para lembrar o Kuku. Outro dos informadores apontando as árvores alinhadas ao lado de sua casa afirma ali residirem os antepassados e daí a existência de duas árvores, uma dos homens e uma das mulheres. Vancina em How Societies…, pp.239, 240, e nota 98, sublinha a importância da mulemba como árvore ancestral, sem relação, do ponto de vista das raízes linguísticas com lemba- lémbà- o mais velho de todos os residentes irmãos da mãe.

     

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  • mais um belo poema da Joana Félix

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    ESTE MAR NÃO É O MEU

    Este mar não é o meu,
    é o que não preferi

    O meu mar é revolto,
    inquieto e vivo, muito vivo.

    Este mar não é o meu,
    é calmo,
    e não tem o cheiro
    da cinza nem das rochas
    negras.

    Este mar não traz
    os náufragos tranquilos.

    Joana Félix

    Buon giovedi **
    Buon giovedi ** — with Marta Di Maggio and Gyöngy Igaz.
    U
  • quem é Joana Félix a poeta, poetisa e musa

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    485841_357474217621577_2022723692_n lagoa2012 03abr caloura rolf (40) ???????????????????????????????retirado de Diário Insular 15 setembro 2013

     

    reportagemHélio Vieira
    Fotografia António Araújo

    A arte de Joana Félix

    Escrita
    de emoções

     

    Joana Félix desde o berço que se habituou aos serões culturais em casa. Filha de Emanuel Félix, um dos mais importantes poetas açorianos, segue os trilhos da poesia.Quando ainda era criança, Joana Félix apreciava a azáfama que regularmente existia em sua casa durante os serões, em que eram convidadas figuras da cultura da Terceira ou com visitantes como Adriano Correia de Oliveira ou Carlos Paredes.
    Recorda-se, também, quando o pai – Emanuel Félix, um dos maiores poetas açorianos de sempre – a cativava lendo poesia como quem conta uma história para dormir.
    Com toda a ambiência cultural que fervilhava na casa da família Félix em Angra do Heroísmo, o encontro de Joana Félix com a escrita foi inevitável.
    “Comecei a escrever muito cedo, tinha seis anos de idade. O meu pai encontrava coisas escritas por mim escondidas dentro de livros. No meu primeiro livro estão várias coisas que escrevi quando era criança e que foram publicadas exatamente como tinham sido feitas nessa altura”, referiu.
    Os primeiros poemas de Joana Félix foram publicados em jornais como o extinto “Directo”, cuja redação ficava na mesma rua onde residida.
    Desde cedo que começou a habituar-se a conviver com as comparações entre a sua escrita e a do pai, situação que, segundo confessa, nunca a incomodou.
    “Sempre tive consciência da responsabilidade de escrever poesia, sendo filha de Emanuel Félix que foi um grande escritor, mas sempre procurei percorrer o meu caminho sem nunca deixar de ter em conta esse facto. Desde cedo que dei a conhecer aquilo que escrevo porque concordo com quem diz que a poesia, ou outra forma de arte, não deve estar escondida numa gaveta”, afirmou.
    Apesar de a realidade em termos afetivos e geográficos da ilha estar patente na sua poesia, Joana Félix assegura que não existem limites para a sua escrita.
    “Tal como acontecia com o meu pai, por vezes levanto-me a meio da noite para escrever ou fazer apontamentos de coisas que me ocorrem. Sinto necessidade de registar essas ideias que surgem de um momento para o outro”, disse.
    Quando lhe perguntamos se a obra poética de Emanuel Félix não tem sido esquecida desde a sua morte em 2004, Joana Félix responde afirmativamente sem hesitar.
    “Custa-me que a sua obra esteja um bocado esquecida. É óbvio que ainda existem pessoas interessadas em mantê-la viva, mas é um facto que hoje ouve-se falar pouco dela e isso entristece-me um bocadinho”, adiantou.
    Numa altura em que se edita cada vez menos livros de poesia e os textos de novos autores açorianos são pouco divulgados, recorda que é importante não desistir porque “a palavra escrita é muito importante”.
    Nesse sentido, Joana Félix refere que é fundamental que as pessoas que têm gosto pela escrita publiquem os seus trabalhos, até porque hoje existem muitos recursos para isso com as potencialidades que a internet tem para oferecer.
    “Não me importo que ‘usem e abusem’ dos meus textos porque a arte deve ser partilhada”, referiu.
    Aponta como lacuna o facto de não haver, presentemente, na Terceira, muitos espaços onde se possam realizar recitais de poesia, uma vez que poderia ser uma via para despertar o interesse das pessoas por essa e outras formas de expressão escrita.
    Depois de ter editado o seu primeiro livro com o título “Palavras que eu disse”, integrou uma antologia de poesia da Chiado Editora e prepara uma nova publicação de textos.PAUSA NA PINTURA
    Para além da escrita, Joana Félix tem dedicado algum do seu tempo à pintura, outra vertente da arte que também mereceu interesse do seu pai, que exerceu a sua atividade durante muitos anos na área do restauro de obras de arte.
    “Tal como aconteceu com a escrita, comecei a fazer desenhos muito nova porque tinha acesso aos materiais que me pai me arranjava para pintar. O meu irmão (Emanuel Félix Júnior) era muito melhor do que eu nessa área, mas lá em casa quase toda a gente gostava de pintar”, referiu.
    No entanto, confessa que nos últimos tempos a pintura tem ficado um pouco de lado, ao contrário do que acontece com a escrita.
    “No desenho e na pintura, quando se fica muito tempo parado, perde-se o jeito, por isso espero voltar a essa atividade em breve até porque começo a ter saudades dos pinceis e das tintas”, afirmou.
    Joana Félix admite que na sua poesia existe muito do que faz na pintura através do jogo de cores e das imagens e que as duas formas de expressão de artes se podem complementar.

     

    A JOANA (VER CADERNO AÇORIANO Nº 20 EM

    http://www.lusofonias.net/doc_download/1654-caderno-20-joana-felix.html

    FOI UMA DAS AUTORAS SELECIONADAS PARA A NOVA ANTOLOGIA NO FEMININO “9 ILHAS NOVE ESCRITORAS” QUE A AAICL ESTÁ A PREPARAR PELA MÃO DE HELEMNA CHRYSTELLO E ROSÁRIO GIRÃO)

     

    ESTEVE PRESENTE NO 117º COLÓQUIO DA LUSOFONIA LAGOA 2012 E VOLTARÁ A MARCAR PRESENÇA NO 21º EM ABRIL 2014….

     

  • livro sobre judeus portugueses

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    Livro – História dos Judeus Portugueses
    AutorCarsten L. Wilke(1)
    Classificação AutorAutor
    EditoraAlmedina
    ISBN9789724415789
    Páginas247
    Livro - Historia dos Judeus Portuguesesin diálogos lusófonos

    Portugal tem um olhar único sobre a história judaica.

    No imaginário nacional, o judaísmo pertence não apenas à sua tradição cultural, mas também à sua genealogia. Na época medieval, os monarcas portugueses garantiram aos judeus mais proteção e segurança do que qualquer outro país europeu. A entrada de Portugal na era moderna fez-se, porém, no decurso de um processo de cristianização violenta de toda a sua vasta comunidade judaica, e os descendentes desta, quando não puderam, ou quiseram, sobreviver como judeus no exílio, misturaram-se em grande número ao resto da população.

    Os que se exilaram e vieram a fundar, ou desenvolver, dezenas das mais dinâmicas comunidades judaicas do mundo moderno, nem por isso deixaram de reivindicar além-fronteiras a identidade contraditória de judeus do desterro de Portugal. Há mais de um século que esta história complexa e absolutamente singular apaixona estudiosos dos mais variados ramos do saber, dentro e fora de Portugal. E se hoje os aspectos parcelares de dois milênios de civilização judeo-portuguesa estão amplamente estudados, são também dos mais mal resumidos, o que explica que sejam tão mal conhecidos fora dos círculos especializados.

    (1) Carsten L. Wilke é doutor em Estudos Judaicos pela Universidade de Colónia e estudou na Escola Prática de Altos Estudos de Paris. Foi professor nas universidades de Heidelberg, Düsseldorf e Bruxelas, e é actualmente investigador no Instituto Steinheim de História Judaica Alemã, em Duisburg. Autor de numerosos livros e artigos, Carsten Wilke tem-se dedicado ao estudo das transformações vividas pelo judaísmo europeu, desde o criptojudaísmo do Renascimento ibérico até o modernismo rabínico do século XIX.
  • as lições do Urbano

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    Há uma linha que separa
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    traz – trás
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    Há uma linha que separa “traz” de “trás”, mas a confusão na escrita destas palavras homófonas (que se pronunciam da mesma maneira) é relativamente frequente.
    “Traz” tanto pode ser a terceira p. do singular do presente do indicativo do verbo “trazer” como uma segunda p. do singular do imperativo do mesmo verbo. Ocorre, sempre com “z”, em frases como estas: ele traz sempre uma prenda para a mãe/isso só te traz problemas/traz o cão para dentro, por favor/traz mais cervejas.
    “Trás” é um advérbio de lugar, escreve-se sempre com “s”, e ocorre em frases como as seguintes: segue a tua vida e não olhes para trás/ele passou por trás do carro/ele deixou os amigos para trás/essas queixas já vêm de trás/ninguém quer andar para trás.
    Também “atrás” e “detrás” se escrevem sempre com “s: está alguém atrás da árvore/ele anda atrás dela há anos/percorri o caminho de marcha atrás/tudo começou lá atrás/detrás daquela montanha, há um lago/quem será o homem por detrás da máscara?/por detrás do palco há dois camarins.