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A GALOPE NUMA NOITE DE BÚZIOS (15)
Mudam-se os tempos, perde-se a vontade. Por mais que deseje vestir a t-shirt da modernidade, para impressionar a teenager que me aquece os tornozelos nas noites geladas, não aguento a pedalada.
De manhã, sou obrigado a engolir uma fatia de pão de alfarroba, para fugir ao glúten que ataca as hemorroidas. Segue-se o leite de espelta, para evitar a lactose que dizem entupir o canal digestivo. A empada de tofu com alho francês e os esponjosos cogumelos são mais que suficientes para um lauto banquete ao almoço. A cerveja sem álcool é a alternativa menos má para superar os excessos de glicose. Ao lanche, tenho de me contentar com um danoninho de inhame, a que se junta um morango biológico para lhe dar um ar colorido e civilizado. O cappuccino feito de mistura vegetal é recomendado para combater a azia de quem ficou com o estômago cheio de nada. Finalmente, estou autorizado ao cigarro eletrónico só em dias de festa, o que me assemelha a um carro que nunca foi à revisão, a deitar fumo pelo escape.
Como se tudo isto não bastasse, a minha namorada prefere o vibrador reciclável, a energia solar, por ser mais higiénico e não deixar peugada ecológica. Diz que a minha peúga e a camisa-de-meia de alça lhe tiram a pica. O resto da argumentação nem a revelo, porque sempre me considerei um verdadeiro macho e não aceito insultos desprestigiantes.
Para mal dos meus pecados, tive que remediar o caos em que me encontro, com uma boneca insuflável. A pequena até é jeitosa, com uma superfície aveludada, curvas bem torneadas, uma rigidez invejável dos glúteos e uma boca esponjosa com sabor a caramelo. Os gemidos incorporados, que disparam automaticamente com o calor provocado pelos corpos roçando, é que me atrapalham a concentração. Deve ter sido fabricada nas estepes asiáticas, desconhecedora do suspiro latino a arfar de prazer. Tapei os ouvidos com algodão, mas não resulta.
Uma catástrofe nunca vem só. Qualquer dia faço as malas e vou fazer companhia aos bosquímanos do Kalahari. Vou treinar o velho método primitivo de acender o lume, rodando os pauzinhos nos dois sentidos. Quem sabe …talvez consiga fazer faísca.