Nesta época do ano é tentador debruçar-me sobre as diferenças entre o Canadá e Portugal. Quando saio de casa pela manhã em Lisboa, preparo-me instintivamente para a neve e o frio.

Os nossos climas divergem e, ao longo destes dois anos em Portugal, tenho desfrutado de dias ensolarados e temperaturas amenas; no entanto, são muitas as nossas semelhanças pelas quais ganhei um renovado apreço. Tanto o Canadá como Portugal abraçam a globalização ativamente. São muitos os valores compartilhados pelos dois povos que, por exemplo, podem ser encontrados nas abordagens comuns aos desafios globais dos migrantes e no contínuo compromisso por uma agenda comercial progressista.

Talvez não surpreenda afirmar que somos ambos abertos ao mundo. Basta olhar para as nossas respetivas histórias. As viagens dos descobrimentos portugueses levaram Portugal a todos os cantos do globo, tornando-o, por assim dizer, a primeira aldeia global. Por sua vez, a diversidade dos povos indígenas, a colonização pelos ingleses e franceses, seguida por vagas subsequentes de imigração, entre elas de portugueses que formam hoje uma significativa comunidade luso-canadiana de meio milhão de cidadãos, tornou o Canadá um país verdadeiramente diverso e multicultural, com duas línguas oficiais e uma economia que depende em larga escala do comércio internacional.

Portugal e o Canadá têm respondido de forma semelhante aos desafios que ocorrem das várias questões globais; por exemplo, tanto Portugal como o Canadá têm vindo a acolher refugiados sírios. No que diz respeito ao Canadá, foram recebidos mais de 36 mil refugiados desde o ano passado, e continuamos a acolher mais. A nossa quota global de imigração para 2017 é de 300 mil pessoas, o que engloba imigrantes por razões económicas, por laços familiares, e refugiados. Eu acredito que as nossas nações veem a diversidade como uma mais-valia, tendo o pluralismo como um pilar central das nossas sociedades. Portugal e Canadá partilharam, recentemente, as suas experiências no Lisbon Forum, organizado pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, que neste ano versou sobre a migração.

Esta abordagem inclusiva para responder a um dos maiores desafios atuais da globalização é acompanhada pelo avanço semelhante das agendas comerciais progressistas das duas nações. Tanto o Canadá como Portugal apoiam a adoção de mecanismos que facilitem o acesso a outras economias, tal como o Acordo Económico e Comercial Global Canadá-União Europeia (CETA), assinado em outubro último, e com aplicação provisória prevista para o próximo ano. Desde o início, Portugal tem sido um dos mais fortes apoiantes, reconhecendo que o acordo é uma oportunidade e será, sem dúvida, uma referência para todos os outros acordos que se seguirão. Espera–se que fomente o crescimento económico, crie empregos e permita ao Canadá e à Europa manter elevados padrões de regulamentação. O CETA vai certamente aumentar as relações comerciais entre o Canadá e Portugal. Destaco a área do investimento, em que as empresas portuguesas reconhecem cada vez mais que o Canadá é um destino de negócios estável e aberto, para além de uma porta de entrada estratégica para a América do Norte. Por sua vez, as empresas canadianas veem Portugal como porto de acesso ao mercado europeu. Por conseguinte, este acordo irá também permitir aos dois países trabalharem conjuntamente na defesa dos benefícios resultantes do aumento do comércio global regulamentado.

Juntos, com valores comuns como o pluralismo, o acolhimento de refugiados e a liberalização gradual do comércio, temos muito para oferecer e demonstrar ao mundo no que toca aos benefícios de um compromisso global ativo e estratégico. No entanto, não somos semelhantes em tudo… No verão passado, tive a oportunidade de presenciar a alegria da vossa nação quando a seleção nacional conquistou o Euro 2016; infelizmente, não tive um prazer semelhante no início deste mês, quando o Toronto FC foi derrotado na MLS Cup. No futebol, o Canadá tem ainda algo a aprender com Portugal.

*Embaixador do Canadá