As Festas da Ponta José Gabriel Ávila

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A História das localidades pequenas e grandes tem sempre espaço para pessoas que desempenharam funções sociais de alguma relevância.
Não me refiro apenas às chamadas “figuras típicas”.
Houve homens e mulheres cuja notoriedade se ficou a dever ao comportamento humilde, simples e à prestação de serviços à comunidade.
Nestas paragens da Ponta da Ilha, por onde ando desde tenra idade, conheci pessoas que ainda hoje recordo com admiração e estima.
Uma delas é o Senhor Francisco Xavier – comerciante com estabelecimento no Curral da Pedra, nos baixos da casa da professora Dona Ana Serpa.
Na loja do Sr. Xavier havia um pouco de tudo:dos produtos alimentares mais usuais às velas e equipamentos de iluminação, dos novelos de linhas para renda e crochet aos medicamentos mais usuais como o popular Saridon ou produtos de primeiros socorros.
Estou a vê-lo no interior do minúsculo espaço, óculos descaídos até à ponta do nariz, procurando satisfazer e agradar aos clientes com a amabilidade e compreensão que todos lhe reconheciam.
Esse modo de ser e estar adveio-lhe, certamente, de qualidades naturais e da experiência adquirida quando empregado da farmácia da Vila. Os clientes e utentes valorizavam esses dotes. Durante muitos anos, os farmacêuticos produziam os próprios medicamentos, consoante receituário médico, o que lhes dava uma certa experiência no combate a determinadas maleitas. Na posse desses saberes, as pessoas consultavam-nos na ausência de médico.
No tempo não havia nem enfermeiros, nem centros de saúde na ilha. Eram os farmacêuticos que os substituíam, dando injeções, fazendo curativos e o mais que a saúde das populações exigia.
O Sr. Francisco Xavier executava esses serviços na freguesia da Piedade, como outros e outras o fizeram noutras localidades, a bem do serviço e dedicação ao próximo.
No Curral da Pedra, havia mais duas mercearias: a do Marcelino, sempre aberta à chegada da camioneta da carreira, a taberna do João Raulino, encerrada com a morte do genro Manuel (Faial) e o estabelecimento do Luís Ávila, junto do salão Paroquial. Abaixo da igreja o João Peixoto tinha uma mercearia e loja de fazendas. No Curral da Pedra, Aberto Faustino tinham um botequim e uma oficina de carpintaria e na estrada regional Piedade-Lajes, João Pimentel construiu um estabelecimento de fazendas e de produtos destinados à lavoura, que ainda hoje a família mantém.
Mais tarde, o Sr. Francisco Xavier passou a sua loja a José Lima que nessa função foi ajudado pelo Virgínio.
O Virgínio era também uma pessoa muito conhecida.
Homem forte e jovial, conheci-o como sacristão no tempo do Pe Francisco V. Soares (o padre novo).
Vivia sozinho e dedicava-se à agricultura. A sua agradável presença fazia-se anunciar pela forte gargalhada e simpatia que transmitia fosse a quem fosse.
O Virgínio era uma figura da Piedade e no cargo de sacristão, desempenhava as funções com desvelo e piedade, pelo que era respeitado pelos fiéis. (foto Igreja da Piedade)
Outros cidadãos recordo dos tempos de criança pelas funções públicas que desempenhavam: o regedor João Maria da Cunha, o regente da filarmónica e da capela Manuel Soares, Antonico Manha que foi Presidente da Junta de freguesia, o Dr Eduardo Machado Soares que foi médico no Corvo e o Eng. Simas Azevedo, responsável pelo Posto Agrícola Matos Souto e a quem a Piedade muito deve.
Vem tudo isto a propósito das celebrações festivas que na Piedade ocorrem por estes dias.
No dia 8, a festa em honra da padroeira, Nossa Senhora da Piedade. (foto da imagem antiga)
Nos anos 60, era uma festividade muito concorrida, pois as populações da Ponta, do concelho das Lajes e do lado norte da ilha acompanhavam as suas filarmónicas aos arraiais e procissão.
A primitiva imagem de Nossa Senhora da Piedade, colocada sobre o mesão de madeira preta do Brasil foi substituída, há cerca de uma década, por outra, alegando-se impossibilidade de reabilitação.
As ofertas dos fiéis em bonecos de massa são uma característica desta e de outras festas da Piedade. “A massa (…) é geralmente igual à dos biscoitos e a sua origem deve vir de tempos muito antigos”1. Alguns bonecos atingem 70 cm ou mais de comprimento e representam pessoas, cabeças, braços, mãos, pernas, pés ou mesmo animais domésticos, consoante o beneficiário da graça recebida.
Este domingo, realiza-se também na Ermida da Engrade, sob a invocação de São João Paulo II, a Festa em honra do Papa polaco, promovida pela Associação dos Amigos da Engrade.
O templo foi inaugurado em 15 de setembro de 2014. (ver foto)
A devoção ao Papa que visitou os Açores em 11 de maio de 1991, tem expressão popular, pois é ainda recordada a atividade desenvolvida por Wojtyła na afirmação da igreja no mundo, através das 129 viagens realizadas. Lembro que as Jornadas Mundiais da Juventude foram iniciativa sua.
Recordo também, do seu pontificado de 26 anos – o terceiro mais longo da História da Igreja -, as 14 encíclicas, 11 das quais dedicadas ao aprofundamento das verdades da Fé e três às questões sociais, nomeadamente, questões laborais (Laborem Exercens (1981) sobre o trabalho humano;(Sollicitudo rei socialis (1987)- no 20º aniversário da encíclica de Paulo VI Populorum Progressio; e a Centesimus annus (1991), no centenário da Rerum Novarum de Leão XIII.
O pontificado de Wojtila não foi isento de críticas, sobretudo por a Sagrada Congregação da Fé, presidida pelo Cardeal Ratzinger, ter proibido antigos peritos conciliares, de reconhecida competência, de lecionarem disciplinas de teologia em universidades católicas.
Essas páginas da História Eclesiástica foram, entretanto ultrapassadas, graças à abertura do Papa Francisco e à realização do Sínodo que ocorrerá a partir de outubro no Vaticano, visando encontrar respostas evangélicas à missão atual da Igreja e do Povo de Deus.
Engrade,7 de setembro de 2023
José Gabriel Ávila
jornalista c.p. 239 A
Pode ser uma imagem de torre

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Delia Goulart

Tambem conheci o srº Francisci Xavier mas já na Piedade , Bom Dia gostei de ler