as drogas voltaram às ruas

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Dizer não às drogas não é suficiente. É preciso investimento em tratamentos

Edição por Ana Maria Pimentel

Quem era nascido nos anos 90, e início dos anos 2000, lembra-se de uma realidade em Portugal que espera não voltar a ver. O consumo a céu aberto, as overdoses nas ruas e a miséria e degradação humana normalmente associadas ao consumo. Na altura, Portugal foi pioneiro numa política de droga que ao invés de criminalizar o consumo, se focava no tráfico. Houve investimento, houve réplicas e elogios ao plano um pouco por todo o mundo e o problema foi-se mitigando.

Hoje basta andar em algumas zonas das cidades para se perceber que o problema está a voltar. E já em novembro do ano passado, o SAPO24 dava conta do fenómeno. O consumo de drogas voltou às ruas das cidades, diziamos na altura. A impressão é que está a aumentar, e segundo nos disse o SICAD, o problema está no “desinvestimento”, sobretudo dos “recursos humanos”. As associações registam uma ocupação completa e algumas têm dificuldades em dar resposta aos pedidos de ajuda.

Meio ano depois, o Relatório Mundial sobre Drogas 2024 lançado hoje pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), refere que os danos causados pelo problema das drogas continuam a aumentar devido à expansão do uso e dos mercados.

De acordo com os dados, o número de consumidores aumentou para 292 milhões em 2022, um crescimento de 20% em 10 anos, continuando a canábis a ser a droga mais consumida em todo o mundo (228 milhões de consumidores), seguida dos opiáceos (60 milhões), das anfetaminas (30 milhões), da cocaína (23 milhões) e do ecstasy (20 milhões).

Além de um capítulo direcionado ao tratamento que mostra que apenas 1 em cada 11 pessoas está a ser tratada e que as mulheres são as mais prejudicadas, o relatório inclui capítulos especiais sobre o impacto da proibição da produção de ópio no Afeganistão, sobre drogas sintéticas e outros tipos, os impactos da legalização da canábis e do “renascimento” do consumo de substâncias psicadélicas, o direito à saúde em relação ao uso de drogas e como o tráfico de drogas no Triângulo Dourado (Tailândia, Mianmar e Laos, juntamente com o Afeganistão) está ligado a outras atividades ilícitas e as suas consequências.

O documento divulgado em Viena adianta que o cultivo global de arbustos de coca aumentou 12% entre 2021 e 2022, para 355.000 hectares. Tendo a produção de cocaína batido o recorde de 2,7 mil toneladas em 2022.

Ainda hoje, no dia em que se assinala o Dia Internacional Contra Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas, a Polícia Judiciária (PJ) vai destruir cerca de sete toneladas de vários tipos de drogas ilícitas apreendidas nos últimos meses pelos órgãos de polícia criminal e serviços aduaneiros e de segurança.

Até à hora em que esta newsletter foi escrita, entre os líderes mundiais apenas o Papa Francisco aproveitou a efeméride para se manifestar, criticando a produção e o tráfico de drogas e afirmou que a redução da dependência não se consegue através da liberalização do consumo, embora a realidade portuguesa mostre o contrário.

Dos outros esperamos mais que criticas: ação e políticas que afastem novos consumidores e protejam quem consome.