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Vivo na Praia da Vitória desde 2010. Já antes, quando vivia em Angra do Heroísmo, a Praia fez parte da minha vida profissional, já que fiquei colocado em Quadro de Zona Pedagógica na Escola Secundária Vitorino Nemésio, tendo também sido advogado da Câmara Municipal durante quatro anos.
Em termos culturais, vi várias “Praias”. A Praia sem grandes infraestruturas, apenas com o Salão Teatro Praiense e pouco mais, e a Praia do Auditório do Ramo Grande e da Academia da Juventude.
Com enorme pena, depois de fixar residência no concelho, tive como certo que, culturalmente, a Praia estava muito mais pobre.
Bastantes anos antes, tinha assistido a concertos fantásticos, com o melhor que há no Mundo, quer no “Jazz-Sons de uma longa história”, quer em várias edições do Festival do Ramo Grande.
Obviamente resultou esse período áureo do regresso de Luis Gil Bettencourt, da sua enorme capacidade de produção e de realização, das amizades e contatos privilegiados que tem na área musical.
A verdade factual é que a Praia atraía gente de Angra do Heroísmo, de outras ilhas e até do continente, povoando-a de vida e de alegria, que muitas vezes durou até o sol raiar. Felizes, entre o bife ou a carne assada do Garça e o Salão Teatro Praiense, milhares de pessoas povoaram a Praia e juravam não faltar por nada ao próximo evento.
Eu próprio me envolvi nessa dinâmica saudável, escrevendo os assuntos de dois bailinhos de pandeiro para a FUP e neles representando como ator, ao lado de muitos seres humanos fantásticos, dos quais recordo o Chico do pandeiro, o Escudinho e o Eugénio Azevedo, que depois seria meu vizinho no Cabo da Praia.
Não é tão estranho, a Praia com meios mais pobres ter tido mais vida cultural? Não é triste que o velhinho Salão Teatro Praiense abarrotasse de gente e as modernas infraestruturas como o Auditório do Ramo Grande muitas vezes estejam às moscas, no caso da Academia sendo maioritariamente povoada por casamentos e batizados? É como se um Ferrari andasse mais devagar que um Fiat 600.
A situação a que a Praia chegou tem culpados. Maus gestores, gente sem visão sequer de presente quanto mais de futuro, trouxeram esta terra ao marasmo em que se encontra.
Tentei fazer a minha parte, como sempre fiz em todas as terras onde vivi. Dei concertos, participei noutros com os mais variados fins, escrevi os assuntos dos bailinhos da Vitorino, produzi “A Noite da Vitorino”. Sempre graciosamente. Haverá quem se lembre.
Mas, se daqui a oito dias, a maioria voltasse a votar no PS, que levou a Praia ao estado triste em que se encontra, teria de revisitar um poema de um grande poeta terceirense, que musiquei e canto: Marcolino Candeias, que escreveu “Mas se tenho de partir, que novo eu parta, é talvez bem melhor do que ficarem, meus pés no cais chumbados em argola, meus olhos no horizonte ao sonho a velejar”.
Os praienses têm alternativas. Mudar é urgente. Sobretudo depois do processo inqualificável que levou ao afastamento de Tibério Dinis, para dar lugar a outro em quase tudo parecido com ele. Parece brincadeira de crianças. Só que o brinquedo deles e dos seus interesses pessoais e partidários é demasiado importante para que fique calado à espera dos resultados.
Pronto, aqui fica a minha declaração. Sempre fui de dizer o que penso, sem rodeios e de forma a que toda a gente entenda.
Já ouço alguns foguetes e o coro no refrão “não farás falta nenhuma”. Só espero que seja o canto final de uma minoria.
António Bulcão
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- Jose Afonso XavierEspero bem, amigo Bulcao, que alguém tenha a ombridade de te ler antes do próximo domingo.Um abraço
grande para ti
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