António Bulcão · Carta a 4 deputados do PS

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Carta a 4 deputados do PS
Quando começastes o vosso desvario escrevinhador, alguns meses atrás, perguntei-vos directamente o que queríeis. Nenhum de vós respondeu.
Claro que é um direito que vos assiste. Até um arguido tem direito ao silêncio, que pode manter ao longo de toda a audiência de julgamento. Tal silêncio só lhe aproveitará, no entanto,, se não houver prova sólida a sustentar a acusação. Mas se tal prova é consistente, a mudez dos culpados geralmente funciona como agravante, quando a confissão poderia atenuar a sua sentença, se sincera e revelando arrependimento.
Uma coisa é certa: se preferis ficar calados quanto às vossas intenções, temos nós de vos julgar. Creio, então, já saber o que quereis.
E foi o último artigo de Berto Messias que me permitiu fundamentar a minha tese. Os outros três lá vão regurgitando uns fiapos de ideia, embora demonstrando muita ignorância sobre os temas que abordam. Os recentes gorjeios sobre Educação provam largamente o que afirmo.
Mas Messias, certamente por não pescar nada de nada, prefere atirar-se aos seus ódios de estimação. Com particular destaque para Clélio Meneses e Paulo Estêvão.
Aqui há algumas semanas, criticava o facto de Clélio e Ventura serem candidatos à liderança do PSD-Terceira. Depois, recordava o que escreveu Paulo Estêvão sobre Bolieiro no passado. No último sábado, publicou um artigo que tem por título “A cobardia política de Paulo Estêvão!!!”. Assim mesmo, com três pontos de exclamação no fim.
Critica Estêvão por não fazer parte do governo. Analisa o modo como foi eleito. Acusa-o de não deixar o outro deputado do PPM participar no debate parlamentar. Repudia o modo de funcionamento interno do PPM. Elege-o como líder parlamentar das bancadas que apoiam o governo e como porta-voz do executivo. Afirma que o deputado corvino garante “cargos e nomeações para pessoas da sua conveniência”. Garante que o homem já está a tratar de uma remodelação governamental. Para concluir que Paulo Estêvão é um esperto cobarde.
Depois de se ter metido na vida interna do PSD, mete-se agora na vida interna do PPM, e da forma mais baixa que já vi em política: chamando cobarde a um deputado que, como ele, foi eleito pelo povo.
Fica, então, claro o que quereis: um regime de partido único.
Só que vos esqueceis de um pormenor fundamental: governastes durante 20 anos com maioria absoluta. Pondo e dispondo como bem vos deu na telha. Desprezando as propostas dos outros partidos. Nomeando para cargos pessoas da vossa conveniência. Endividando a Região. O partido único não se portou bem. E, por isso, deixou de ser único, de ser o dono disto tudo. Que chatice, esta coisa da democracia, não é?
Na última semana, escrevi sobre o diploma da Educação, dos problemas que resolve a centenas de professores. E disse que estava curioso em relação ao sentido de voto do PS. Pois não foi o único partido que votou contra? Não resolveram enquanto foram poder e votam contra quem agora resolve. Não soubestes governar, como poderíeis saber ser oposição?
Berto, olhos nos olhos, como sempre gostei: se Paulo Estêvão é cobarde, tu acharás que és muito corajoso. Cá te espero, então. Para discutir ideias, não para insultos. Mas, à semelhança de outras cartinhas que te dirigi, e às quais a tua coragem nunca permitiu responder, aponho uma condição: diz-me o que vais fazer na vida se deixares de ser deputado. A tua legitimidade para dizer seja o que for depende da resposta a esta pergunta. Se o PS voltar a ter dirigentes, e esses dirigentes acharem que não mereces integrar a próxima lista de candidatos, o que vais fazer da tua vida?
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)