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Angola | Emergência social, isso sim Posted: 28 Aug 2020 07:09 AM PDT Faz tempo que Angola está em um estado de “Emergência Social”. Teremos que enfrentar este estado por muito tempo mais. E é necessário que o executivo tenha coragem para declarar o Estado de Emergência Social, mas não mais para restringir ou eliminar garantias. Quem pode eliminar garantias em Angola, se já quase todas estão eliminadas? Ou suspender o que já está suspendido? Que garantias mais se pode eliminar ao povo angolano? Adão Xirimbimbi “AGX”* | Folha 8| opinião Quase 1 milhão de crianças em estado de sobrevivência, uma grande incidência da mortalidade infantil, uma grande incidência da desnutrição. Não podemos esperar épocas eleitorais para resolver esses problemas sociais. Indivíduos com mais de 5 casas, e ao mesmo tempo família sem uma casa própria, que paradoxo. Crianças com idade pré-escolar, não sabem o que é pré-escolar (isso é selvagem). É triste saber que somente 1 de cada 5 crianças terminam a escola básica, isso é absurdo, porque essas crianças são o futuro do país. “Se estás pensando a longo prazo, educa a uma criança”. Nós não podemos admitir que essa barbaridade continue a existir por debaixo dos nossos narizes. Grande parte de jovens adolescentes não entram na escola, e muitos deles se inclinam para a delinquência, porque eu considero que o homem não é maldoso por natureza. Esta situação estamos vivendo aqui e, os nossos governantes têm a consciência que isto é uma realidade. O que eles fazem? Pergunta tão fácil, quanto a sua resposta.
É urgente solucionar os problemas sociais, e isso deve passar também por uma profunda reforma no sector social. Temos ouvido sempre o termo reforma, será que estamos confundindo reforma com revolução? Porque as nossas reformas até hoje não ganharam forma. Não se pode admitir que um chefe do executivo, depois de 5 ou 10 anos de governação, venha dizer a todos angolanos “fiz até onde podia fazer”. Em contrapartida, deixa o país numa desgraça social, isso não se pode admitir, isso é desumano. É preferível que um Presidente deixe o poder passado 2 anos, e que esse período serviu para deixar “atrás” o passado e enterrado, e que verdadeiramente alavanca um novo motor para o desenvolvimento nacional. O importante agora para Angola, é que se arranque com um novo projecto nacional, porque já vimos que o anterior foi um fracasso total. Há que empurrar o barco para a frente, e depois que os nossos filhos se encarreguem de navegar. É importante que o Presidente da República seja um intérprete do sentir do povo angolano, que a sua maioria está vivendo por debaixo do umbral humanitário. O Estado angolano pode declarar o “Estado de Emergência Social”, não é para suspender mais garantias, mas sim, para tomar ACÇÕES DE EMERGÊNCIA para restituir as garantias. Temos que acabar com a concepção que toda emergência é para suspender as garantias. Para Estados que estão em emergência não há sábado nem domingo, porque há milhões de angolanos que não tem quase nada para comer, ou não têm escolas para ir, não têm um parque para jogar, não tem uma casa para dormir em paz, não têm nada. Para que um governante seja honrado não basta sentir ou dizer que não faz nenhuma maldade a ninguém, um homem honrado de verdade é aquele que sabe que alguém está sofrendo e, faz tudo que está ao seu alcance para evitar o sofrimento deste ser humano. Está é a única forma de ser honrado. Será que os nossos governantes são honrados? É necessário começar uma batalha a partir do executivo, contra estas péssimas condições sociais que estão submetidos a maioria da população angolana. A desigualdade que existe hoje em Angola, impede o desenvolvimento económico. Um país com alto índice de criminalidade, problemas de saneamento básico, baixo nível de educação e de esperança de vida. Não é que a igualdade, ou a desigualdade, seja um fenómeno novo, sempre existiram aqueles que têm muito e aqueles que têm pouco. O que se passa é que a diferença entre os que têm e os que não têm é bastante abismal. A pergunta obrigatória é, como chegamos a esse ponto? Penso que todos sabemos a resposta. E a pergunta moral e política é, quanta desigualdade podemos assumir mais? *Jurista |
“É repugnante Portugal ter-se tornado a lavandaria das elites angolanas” — whistleblower Posted: 28 Aug 2020 05:55 AM PDT Rui Pinto em entrevista O autor de Football Leaks e também uma das fontes de Luanda Leaks começa a ser julgado na próxima semana e deu uma entrevista à revista alemã “Der Spiegel”. “Estou cá para lutar e para mostrar a todos que sou um whistleblower e fiz o que tinha que fazer”, afirma Rui Pinto Rui Pinto começa a ser julgado na próxima sexta-feira. O autor de Football Leaks deu à Der Spiegel a sua primeira entrevista desde que deixou de estar em prisão preventiva. Remeteu para o julgamento mais explicações relativas ao processo pelo qual está acusado de 90 crimes, mas manifestou a sua revolta com o que a investigação Luanda Leaks, da qual foi denunciante, revelou. “É repugnante Portugal ter-se tornado a lavandaria das elites angolanas”, afirma. A entrevista à Der Spiegel aconteceu no passado fim-de-semana, sob grande secretismo, repartida entre duas conversas em sítios distintos, cujas localizações os jornalistas da revista alemã apenas tiveram conhecimento pouco antes dos encontros. A segunda conversa decorreu no dia da final da Liga dos Campeões, realizada num Estádio da Luz despido de público. “O futebol vive dos adeptos, de um ambiente real, não destes eventos com um ambiente de plástico dominados pelo dinheiro”, comentou Rui Pinto. Questionado sobre se acha que voltará para a prisão, Rui Pinto mostrou-se otimista. “Não creio”, declarou à Der Spiegel. O autor do blog Football Leaks queixa-se de “tortura psicológica” quando esteve detido em Budapeste (entre janeiro e março de 2019), mas considera que quando esteve preso em Portugal (a partir de março do ano passado) foi bem tratado. Rui Pinto considera que a sua vida está “em risco”, mas ao mesmo tempo, e apesar de estar acusado de 90 crimes, diz dormir bem à noite. “Obviamente o isolamento deixa sempre algum tipo de marcas. Lembro-me que depois de deixar o isolamento [na prisão] por vezes tinha problemas em concentrar-me, porque depois daqueles meses todos abria-se uma grande porta à minha frente e tinha muitas pessoas diferentes à minha volta e era difícil concentrar-me, porque tinha estado fechado tanto tempo”, desabafa na entrevista à Der Spiegel. “De certo modo, sinto-me orgulhoso de ter conseguido lidar bastante bem com o isolamento. Eu sabia que não podia perder a cabeça, tinha de me concentrar para preparar o julgamento, para chegar fresco ao julgamento e mostrar que estou cá para lutar e para mostrar a todos que sou um whistleblower [denunciante] e fiz o que tinha que fazer”, acrescenta. “Tive uma relação espetacular com os guardas prisionais. Tiveram enorme respeito por mim”, diz ainda Rui Pinto na entrevista, declarando que “estamos sufocados com corrupção”, e que, nesse contexto, “ninguém pode esperar um futuro bom para si e para a sua família”. O autor de Football Leaks e fonte de Luanda Leaks foi entrevistado em Lisboa pela revista alemã Der Spiegel, afirmando que provará em tribunal que não houve extorsão à Doyen e dizendo ter sido ingénuo nos acontecimentos de 2015 que levaram ao processo em que é acusado de 90 crimes E A ACUSAÇÃO DE TENTATIVA DE EXTORSÃO À DOYEN? Entre os crimes de que é acusado está a tentativa de extorsão à Doyen em 2015, então liderada por Nélio Lucas, em que sugeriu ao fundo que investia no futebol um pagamento de 500 mil euros a um milhão de euros para parar com a divulgação de contratos e documentos daquela empresa no blog Football Leaks. “Lamento em particular ter tido este contacto com Nélio Lucas. Era ingénuo nessa altura. E estou contente por ter recuado a tempo”, afirma Rui Pinto à Der Spiegel. Na entrevista diz ainda estar “absolutamente seguro” de que ficará provado em tribunal que não fez nenhuma extorsão. “As provas mostram-o claramente. Mas a procuradora não quis olhar para elas. Ela preferiu cortar as partes que me ilibavam das acusações de extorsão”, refere. Na imagem: Rui Pinto enfrenta uma acusação de 90 crimes relacionados com o Football Leaks. // SONJA OCH / DER SPIEGEL |