Ainda as saudades dos Colóquios da Lusofonia…

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Ainda as saudades dos Colóquios da Lusofonia…
Belmonte, 7 de abril, 17
Belmonte é um encanto. Situada a cerca de 20 km da Covilhã, no Monte da Esperança, é quase tão antigo como a Nacionalidade e faz-nos recuar a este nosso Portugal cheio de História e de histórias para contar. Teve foral em 1199 e é vila berço de Pedro Álvares Cabral.
Fui pesquisar e fiquei a saber que no séc. XIII comprova-se a existência de uma já próspera comunidade Judaica, que sobreviveu ao longo dos séculos, mantendo os seus rituais e tradições e que é responsável pela existência de uma Sinagoga de que resta uma inscrição datada de 1296. Atualmente, é uma das poucas comunidades que ainda tem um Rabi. Esta manhã fomos precisamente visitar a Sinagoga e a Judiaria, ainda tão bem preservadas.
O Homem ocupou estas terras desde a Pré-história, como comprovam os vestígios megalíticos com cerca de 6 mil anos em algumas freguesias das redondezas.
Mais uma vez se nota a marca inequívoca da presença romana. Efetivamente, os romanos atraídos pela riqueza mineira e agrícola desta região, depressa se aperceberam da importância estratégica e económica deste território, atravessando-o com vias de comunicação.
Viemos a um dos Colóquios da Lusofonia e, por alguns dias, Belmonte transformou-se num pequeno cosmos luso. Portugal, Brasil, Galiza, Timor, Cabo Verde acorreram à chamada do Chrys Chrystelo, o grande regente desta orquestra.
Para além dos diversos temas que vão sendo apresentados ao longo dos vários dias de Colóquio e que põem sempre em cima da mesa algo em que pensar, é muito agradável o convívio com os participantes, alguns já habitués destas andanças. São dias que nos trazem a ideia de que há muita coisa que se pode fazer para evitar que a vida se torne um deserto.
De tarde fomos visitar Centum Cellae, na freguesia de Colmeal da Torre. É um dos mais monumentais vestígios da época romana em Portugal e tem sido alvo de várias interpretações históricas e arqueológicas. Em torno desta torre em ruínas, a imaginação humana tem inventado uma enorme variedade de lendas e histórias. Trata-se de um edifício retangular, que teria tido três andares separados por frisos em pedra e sem qualquer cobertura. Possui múltiplas janelas, de dimensões variadas.
Diz a História que a villa teria sido propriedade de um abastado cidadão romano, negociante de estanho, que a teria erguido pelos meados do século I. De acordo com os testemunhos arqueológicos, foi destruída no século III por um grande incêndio, e reconstruída posteriormente.
As teorias dividem-se. Uns dizem que este terá funcionado como albergue para viandantes de passagem, enquanto outros acham que, pelas suas características, poderá ter tido objetivos comerciais, eventualmente para armazenamento de cereais.
Na Idade Média, sobre os seus restos, construiu-se uma capela sob a invocação de São Cornélio, que as lendas associavam ao local, mas que caiu em ruínas e terá desaparecido por completo no século XVIII. Pelo que li, é possível que no período medieval esta estrutura tenha tido algum papel na consolidação e defesa da fronteira oriental do reino de Portugal com o de Leão, tendo recebido foral de Sancho I em 1188, onde surge referenciada como Centuncelli.
O que não vem em nenhum documento e por isso quero que aqui fique registado, é o fascínio que aquela ruína exerceu em todos nós, erguendo-se ali aos nossos olhos, misteriosa e imponente, naquele final de uma tarde doce e rosada de Belmonte.
E sinto, mais uma vez, que este Portugal ancestral mexe com a alma da gente. Adoro andar pelo meio de pedras velhas. Cada uma delas encerra em si uma história por contar. Penso sempre que alguém antes de mim, muito antes, pisou aquele chão, respirou os mesmos ares e vislumbrou algo muito parecido com isto que vejo. Aqui se viveram amores e ódios, se resolveram quezílias, se pensou, talvez, num futuro por vir e se realizou alguns sonhos, mesmo que não se pensasse que os sonhos fazem parte da vida.
Maria João Ruivo
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  • Joaquim Feliciano da Costa

    Obrigado pelo bonito texto e pelo amor que mostra pela “nossa” terra ,Belmonte. Vamos pensar que abril de 2022, 35° Coloquio em Belmonte falta muito pouco tempo para acontecer, assim a saudade dos colóquios não se vai apoderar de nós .
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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