AÇORES CABOS SUBMARINOS

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João Beleza Vaz, Director da ANACOM nos Açores
A topologia de anel CAM preconizada “parece-nos uma solução equilibrada para os Açores e para o país sem antever impactos negativos significativos para São Miguel”
João Beleza Vaz, Director da Delegação da ANACOM nos Açores, nesta entrevista é parco em palavras, mas deixa, pelo menos, uma preocupação e alerta: “A discussão pública sobre a conectividade da Região não poderia ser mais pertinente, até porque urge acautelar a substituição dos cabos submarinos que fazem a ligação inter-ilhas”. Estranho, neste contexto, é que o procedimento concursal para o novo anel CAM, ainda não tenha chegado à ANACOM. Sobre o facto de o cabo ligar à Terceira e não a São Miguel, as suas poucas palavras dizem tudo: “Não temos dados que nos permitam antever quaisquer impactos negativos significativos nas empresas actuais de São Miguel”.
Correio dos Açores – Quais as especificações técnicas do procedimento concursal para o novo anel CAM?
João Beleza Vaz (Director da Delegação da ANACOM nos Açores) – A ANACOM não tem conhecimento das especificações técnicas do procedimento concursal para o novo anel CAM, lançado no passado dia 13 de Dezembro, conforme declarações do Ministro das Infraestruturas e Habitação (MIH) na Comissão na audição parlamentar de 14 de Dezembro de 2022. Os cabos submarinos que fazem a ligação entre o Continente – Açores – Madeira (CAM) assumem uma topologia de rede em anel, isto é, com dois caminhos para um ponto de chegada daí a vulgar designação de anel CAM.
Como nota introdutória começo por frisar que o futuro anel CAM será detido por uma entidade pública (IP Telecom) e que representará um salto tecnológico por ser um cabo submarino de comunicações que terá uma componente de sensorização designada de SMART [Science Monitoring And Reliable Telecommunications]. Esta componente permitirá satisfazer as necessidades de protecção civil, militares e científicas regionais, nacionais e internacionais. A título de exemplo, potenciará a melhoria da rede sísmica nacional que é limitada, pois os sensores localizam-se maioritariamente em zonas terrestres limitando, consequentemente, a detecção sísmica atempada quer de tsunami, quer de sismos ocorrido ao longo da nossa extensa Zona Económica Exclusiva. Os estudos existentes sobre a utilização desta componente SMART concluem que estes sensores, ao longo da geometria do anel CAM, trazem ganhos substanciais em tempo (minutos) na antecipação da chegada, às zonas costeiras, dos impactos de um sismo e/ou tsunami (ver estudo do Projecto LEA sobre o tema disponível na Internet).
Ainda numa perspectiva introdutória, é importante referir que o futuro anel CAM materializará a estratégia da Plataforma Atlântica CAM que pretende atrair investimento, não somente do sector das comunicações, aproveitando a privilegiada posição estratégica que as Regiões Autónomas trazem ao país (extremidade Oeste da Europa e a proximidade à América do Norte e ao continente africano).
Enquanto Director da ANACOM nos Açores, qual a sua opinião sobre o facto de o cabo submarino ligar o continente à Terceira e não a São Miguel. Isto quando antes o cabo estava a ligar o continente a São Miguel de onde partia para a Terceira?
O Grupo de Trabalho sobre a renovação do anel CAM [GT], liderado pela ANACOM, estatuiu a recomendação de existir uma nova estação de amarração e uma estação de amarração partilhada na Região Autónoma dos Açores, sem identificar, em concreto, ilha e local. Subsequentemente ao Grupo de Trabalho, a IP Telecom foi mandatada para elaborar o projecto de implementação e operação tendo constituído um Comité de Acompanhamento e Governação onde estiveram presentes os governos regionais. Este projecto contou, ainda, com um amplo grupo consultivo entre entidades governamentais e o sector privado das comunicações com o intuito de suportar e providenciar expertise técnica e de negócio.
Vivemos num período de mudanças climáticas acentuadas pelo que urge acautelar os cenários mais emergentes. As ilhas de São Miguel e Terceira localizam-se em placas tectónicas distintas e as estações de amarrações em São Miguel estão sujeitas aos mesmos riscos naturais, dada a curta distância entre si. A amarração na ilha Terceira mitiga o risco de os Açores ficarem isolados do mundo caso aconteça alguma catástrofe natural na Ilha de São Miguel. Relevo, ainda, que a ligação a ser feita directamente da ilha Terceira ao continente permitirá alterar a geometria do anel CAM e, subsequentemente, melhorar a área de detecção da componente SMART.
Sem prejuízo de outras opções e de uma melhor explanação por quem definiu as especificações técnicas da opção em apreço, parece-nos ser uma opção viável atendendo às variáveis risco, optimização da geometria do anel CAM no conceito SMART e atendendo à estratégia nacional da Plataforma Atlântica CAM.
Quais os pontos negativos para São Miguel do facto de o cabo ir ligar o continente directamente à Terceira e não à ilha onde existem mais empresas?
Não temos dados que nos permitam antever quaisquer impactos negativos significativos nas empresas actuais de São Miguel.
Importa ter em conta que os avanços tecnológicos permitem desvanecer as latências outrora praticadas pelos equipamentos de transmissão ópticos e pelos equipamentos de rede. É importante referir que a ligação entre São Miguel e Terceira deve ser efectuada com recursos a um cabo submarino novo (como asseverado pelo Governo da República) e também ele sensorizado.
O que é que é melhor para os Açores no seu todo?
Há sempre necessidade de encontrar um compromisso entre os diversos requisitos e os custos de investimentos e de operação. A topologia da opção actualmente preconizada parece-nos uma solução equilibrada para os Açores e para o país.
Que importância tem este cabo para os Açores em termos de dimensão em relação ao que existia?
Este novo anel CAM transporta-nos para uma outra dimensão. A única ligação entre as Regiões Autónomas e o continente deixa de depender de um operador privado, a componente SMART será pioneira internacionalmente e existe uma estratégia para rentabilizar o investimento do anel CAM, quer através da atracção de novas amarrações de cabos para este triângulo CAM (Plataforma Atlântica CAM), quer através da recolha de dados em tempo real do fundo da nossa Zona Económica Exclusiva para uso em diversos fins tais como a Protecção Civil.
A discussão pública sobre a conectividade da Região não poderia ser mais pertinente, até porque urge acautelar a substituição dos cabos submarinos que fazem a ligação inter-ilhas.
João Paz
(Correio dos Açores de 01.01.2023)
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  • Durval C. Almeida Faria

    Logo no início deixa a dúvida. “Parece-nos …” Não tem a certeza. Não se atravessa. Não afirma. Continua a dúvida. Consequentemente uma opinião de escassa relevância. Diria que uma opinião por encome

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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