a revolta chinesa em Macau 1966 (o “1,2,3”

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Luis Almeida Pinto
17 hrs · Wanchai, China ·
O “1,2,3”em Macau.
(mês 12 dia 3 de 1966).

A revolta popular contra o Governo português de Macau que começou no dia 3 de Dezembro de 1966.
O rastilho foi ateado quando residentes chineses na Ilha da Taipa pretenderam construir uma escola privada, requerendo para isso a respectiva licença de construção.
Na impossibilidade de obterem tal licença, ou porque a sua emissão estava bastante atrasada, começaram ilegalmente a construção da escola.
Em 15 de Novembro desse ano, a Polícia da Taipa interveio no local da construção prendendo os seus responsáveis e reprimindo violentamente os operários de construção civil, os residentes chineses e os jornalistas aí presentes.
Depois destes acontecimentos, a importante imprensa chinesa e as associações pró-comunistas passaram a atacar duramente a governação portuguesa, alastrando rápidamente o sentimento de revolta dentro da comunidade chinesa de Macau, em pleno período conturbado da Revolução Cultural na República Popular da China e instigado por ela.
Em 30 de Novembro registaram-se manifestações em frente ao Palácio do Governador, e no dia 3 de Dezembro a situação degradou-se irremediávelmente quando um grupo de radicais força a entrada no local de trabalho do Governador, agitando nas mãos o livro vermelho de Mao Tse-tung e proferindo slogans revolucionários.
Apesar destes populares terem sido expulsos do local, iniciaram-se então por toda a cidade actos de grande violência, como foi o assalto e destruição parcial do Leal Senado e Cartório Notarial, o incêndio de preciosos documentos dos Arquivos do Leal Senado e da Santa Casa da Misericórdia no Largo do Senado, o derrube da estátua do Coronel Mesquita aí existente, o cerco da sede da Polícia na Rua Central, e tantos outros.
Foi decretada a Lei Marcial e os soldados e os agentes da polícia foram enviados para controlar e reprimir a violência nas ruas, registando-se no final dos acontecimentos a morte de 8 pessoas e cerca de 200 feridos.
Os acontecimentos do “1, 2, 3” tiveram o seu epílogo com a deslocação do Governador Nobre de Carvalho à sede da Associação Comercial de Macau, em 29 de Janeiro de 1967, onde formalizou um pedido de desculpas e um acordo para pagamento de indemnizações aos familiares das vítimas mortais, entre outras condições então aceites pela governação portuguesa para pôr fim à revolta popular.


Pode ainda ler:
O “1,2,3” visto por António Manuel Fontes Cambeta e excertos do livro de José Pedro Castanheira “Os 58 dias que abalaram Macau”, retirado do Blog Macau Antigo, de João Botas,
http://macauantigo.blogspot.com/2009/08/o-123-visto-por.html
O “1,2,3”em Macau.
(mês 12 dia 3 de 1966).

A revolta popular contra o Governo português de Macau que começou no dia 3 de Dezembro de 1966.

O rastilho foi ateado quando residentes chineses na Ilha da Taipa pretenderam construir uma escola privada, requerendo para isso a respectiva licença de construção.

Na impossibilidade de obterem tal licença, ou porque a sua emissão estava bastante atrasada, começaram ilegalmente a construção da escola.

Em 15 de Novembro desse ano, a Polícia da Taipa interveio no local da construção prendendo os seus responsáveis e reprimindo violentamente os operários de construção civil, os residentes chineses e os jornalistas aí presentes.

Depois destes acontecimentos, a importante imprensa chinesa e as associações pró-comunistas passaram a atacar duramente a governação portuguesa, alastrando rápidamente o sentimento de revolta dentro da comunidade chinesa de Macau, em pleno período conturbado da Revolução Cultural na República Popular da China e instigado por ela.

Em 30 de Novembro registaram-se manifestações em frente ao Palácio do Governador, e no dia 3 de Dezembro a situação degradou-se irremediávelmente quando um grupo de radicais força a entrada no local de trabalho do Governador, agitando nas mãos o livro vermelho de Mao Tse-tung e proferindo slogans revolucionários.

Apesar destes populares terem sido expulsos do local, iniciaram-se então por toda a cidade actos de grande violência, como foi o assalto e destruição parcial do Leal Senado e Cartório Notarial, o incêndio de preciosos documentos dos Arquivos do Leal Senado e da Santa Casa da Misericórdia no Largo do Senado, o derrube da estátua do Coronel Mesquita aí existente, o cerco da sede da Polícia na Rua Central, e tantos outros.

Foi decretada a Lei Marcial e os soldados e os agentes da polícia foram enviados para controlar e reprimir a violência nas ruas, registando-se no final dos acontecimentos a morte de 8 pessoas e cerca de 200 feridos.

Os acontecimentos do “1, 2, 3” tiveram o seu epílogo com a deslocação do Governador Nobre de Carvalho à sede da Associação Comercial de Macau, em 29 de Janeiro de 1967, onde formalizou um pedido de desculpas e um acordo para pagamento de indemnizações aos familiares das vítimas mortais, entre outras condições então aceites pela governação portuguesa para pôr fim à revolta popular.


Pode ainda ler:

O “1,2,3” visto por António Manuel Fontes Cambeta e excertos do livro de José Pedro Castanheira “Os 58 dias que abalaram Macau”, retirado do Blog Macau Antigo, de João Botas,

http://macauantigo.blogspot.com/2009/08/o-123-visto-por.html

segunda-feira, 3 de Dezembro de 2012

O “1,2,3” de 1966: testemunho de Maria Manuel Machado
“Nesse ano de 1966 a Revolução Cultural chegou a Macau. Chegou sem que as autoridades portuguesas se tivessem apercebido. A Revolução Cultural Chinesa era imparável. Até aí ela não era evidente em Macau. Mas, inevitavelmente, tinha de chegar. Mais do que um protesto contra os portugueses, mais do que a intenção de integrar Macau na China (que nunca houve), os incidentes visavam, tão-somente, mostrar a Mao Tsé-tung que Macau também era revolucionário. Pretendiam mostrar o fervor das gentes de Macau, à causa da Revolução Cultural. Claro que o ʻincidente da Taipaʼ podia ter sido evitado. Os portugueses, por manifesta inabilidade, caíram na armadilha. Mas se não fosse esse, seria qualquer outro pretexto. Macau tinha de ter os seus Guardas Vermelhos. Em Novembro, um grupo de residentes chineses da ilha da Taipa tentou obter uma licença para a construção (ou reconstrução) de uma escola de feição comunista. Na impossibilidade de obter a licença, começaram ilegalmente a edificação. Rui Andrade, o administrador interino das Ilhas saiu de casa. Passou pela escola. Insurgiu-se contra a construção. Resolveu intervir. Apelou à autoridade. E eis como um homem fraco pode fazer história, da pior forma. A 15 de Novembro, a Polícia prendeu, de forma violenta, os responsáveis pela iniciativa, operários de construção, residentes e jornalistas. Foi, obviamente, uma precipitação. Até porque o pedido de licença estava parado numa qualquer gaveta de um qualquer burocrata. Mais, a brutalidade da intervenção foi, manifestamente, desproporcionada, quando era o diálogo e a diplomacia que se exigiam. O 2.º Comandante da PSP, Vaz Antunes, que estava presente durante o incidente, assim não entendeu. A arrogância imperou. A imprensa chinesa, em especial o jornal Ou Mun, e as associações comunistas atacaram em força. De repente, a revolução cultural entrou em Macau. A partir daí, os chineses tiveram necessidade de se manifestar. De provar a Mao Tsé-tung que eram patriotas. Os protestos iniciaram-se e foram sempre em crescendo. Na cidade, os taxistas passaram o sinal. Eram, na sua maioria, indonésios, expulsos por Sukarno. Estavam revoltados contra tudo e contra todos. Buzinavam sem parar. Incendiaram o ambiente. As manifestações sucederam-se. Manifestações com mais de 15.000 pessoas, o que era muito, face à dimensão do território.

Em Macau havia cerca de 50.000 estudantes chineses, a frequentarem escolas comunistas. Um potencial revolucionário impressionante. Os Guardas Vermelhos surgiram. O governo ficou debaixo de fogo. De crescendo em crescendo, a contestação aumentou e generalizou-se, provocando um sentimento de verdadeira revolta no seio da comunidade chinesa. Macau estava há alguns meses sem Governador. Lopes dos Santos, um homem ponderado e que conhecia bem o Oriente, tinha regressado à Metrópole, em Julho de 1966. Como Encarregado do Governo ficou Mota Cerveira. Um homem arrogante e militarista, que preferia a bravata à diplomacia. A arrogância ao diálogo. O Comandante da Polícia, o Tenente-Coronel Galvão de Figueiredo, pautava-se pelos mesmos valores. Não podia ter sido pior. Os dirigentes políticos e as forças de segurança de Macau actuaram com manifesta inabilidade e total ausência de sentido diplomático. Pior, usaram de arrogância colonialista. As tensões exacerbaram-se. As posições extremaram-se.
No dia 3 de Dezembro de 1966 as manifestações iniciaram-se pelo meio-dia. As escolas estavam mobilizadas. Estudantes e professores invadiram o Largo do Leal Senado e as ruas circundantes. Uma camioneta carregada de pedregulhos avança pela rua onde se situava o Comando da Polícia. Atrás, protegidos pelo camião, manifestantes entoavam canções revolucionárias e gritavam palavras de ordem, empunhando o Livro Vermelho. Aproximavam-se cada vez mais da esquadra. Lá estavam guardadas armas e munições. Parecia evidente a intenção de tomar a esquadra de assalto. Vaz Antunes, o 2.º Comandante, dá ordem de fogo. Não havia outra solução. O condutor da camioneta é a primeira vítima. O carro segue descontrolado, até embater, com violência, no fundo da rua. A confusão é enorme. Debaixo de uma enorme pressão, os polícias, acantonados na esquadra, mantêm, nervosamente, o fogo. A multidão dispersa-se. Seguem-se perseguições na zona da Praia Grande. O recolher obrigatório é decretado às 16 horas. No dia seguinte ainda havia disparos dispersos por toda a cidade. No final dos dois dias, um saldo final de 8 mortos e cerca de 200 feridos, todos chineses. Foi necessária a mobilização de soldados para controlar a situação. A tensão, no entanto, continuou a crescer. Várias famílias portuguesas começaram a preparar-se para abandonar Macau. O ʻ1-2-3ʼ é isso mesmo: mês 12, dia 3. E o futuro de Macau nunca mais seria o mesmo.

A violência acabou. A repressão amainou. Começou, então, a pressão política. Uma pressão que assumiu proporções inenarráveis. As exigências não se fizeram esperar. Eram pesadas e inegociáveis. Os mortos de 3 e 4 de Dezembro mantinham-se nas urnas, por enterrar. E assim ficaram até à assinatura do acordo, a 29 de Janeiro de 1967. Todos os dias os chineses lembravam os mortos. Publicavam fotografias dos cadáveres. Uma pressão total. Em 25 de Novembro de 1966, chegou a Macau novo Governador, Nobre de Carvalho. Apenas ao aterrar em Hong Kong, o Governador toma conhecimento da situação em Macau. Até aí nada lhe tinha sido dito. Absolutamente extraordinário. Mal chega a Macau, Nobre de Carvalho tem de iniciar a complexa negociação com os chineses e com Lisboa. O Governo de Lisboa mantinha-se irredutível. Salazar envia um telegrama em que resumia a sua posição: ʻConfirmar que, em caso de necessidade, todos cumprirão o seu dever, mesmo com os maiores sacrifíciosʼ. Um telegrama em tudo semelhante ao enviado para a Índia Portuguesa, imediatamente antes da invasão das tropas de Nehru. Um telegrama que não auspiciava nada de bom. No dia 16 de Janeiro, a comunidade chinesa adoptou a ʻpolítica dos três nãosʼ: não entregar impostos; não prestar serviços ao Governo (incluindo abastecimento de água e electricidade); não vender produtos portugueses. Entretanto, emergiram figuras que, até aí, se tinham mantido na sombra. Ho Yin, o líder da comunidade chinesa, é relegado para segundo plano. Emergem dirigentes comunistas. (…). Em Macau, o Conselho de Defesa estava reunido quase em permanência, sob a presidência de Nobre de Carvalho. Eram reuniões contínuas até altas horas da noite. Alinhavam-se argumentos. Definiam-se estratégias. Tudo em vão. As tentativas de chegar a um texto de acordo aceitável pelas duas partes sucediam-se. As negociações eram chefiadas por Mesquita Borges, chefe de gabinete do Governador e integravam, ainda, o Dr. Assumpção, advogado macaense e representante de Macau junto da Câmara Corporativa, em Lisboa e Roque Choi, secretário e braço direito de Ho Yin. Entretanto, por imperativa exigência chinesa, tinham sido demitidos Mota Cerveira, Galvão de Figueiredo e Vaz Antunes. O Comando da Polícia passou a ser exercido, interinamente, pelo capitão Lages Ribeiro.
Finalmente, a 29 de Janeiro, o Governo de Macau e as autoridades da República Popular da China, chegaram a um acordo, assinado na sede da Associação Comercial. Para Portugal, tudo foi humilhante naquele acordo. O local, o conteúdo, a forma. O Governo pediu desculpas à comunidade chinesa. Passou a ser proibido dar apoio ou asilo político aos nacionalistas do Kuomintang. Foram entregues à China cinco guerrilheiros nacionalistas, que foram imediatamente fuzilados. Procedeu-se à indemnização das famílias das vítimas. Ficou claramente marcada a posição da China. Portugal apenas estaria em Macau enquanto a China quisesse.” (…)
Excerto do livro “Há Biscoitos no Armário”, (2011) de Jorge Pinheiro, sobre a vida de Maria Manuel Pimenta de Castro Machado.

http://macauantigo.blogspot.pt/2012/12/o-123-de-1966-testemunho-de-maria.html