A MIRAGEM DO TURISMO

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EDITORIAL

A miragem do desenvolvimento

O nosso colaborador Nuno Domingues, que nos escreve atualmente a partir da Suiça, mas conhecendo bem os Açores, onde residiu vários anos e onde exerceu, num dos governos socialistas, o cargo de diretor regional na área ligada aos transportes, em artigo que ontem publicámos, faz uma abordagem nova à questão do anúncio do abandono da Ryanair e a sua relação com o turismo. É uma perspetiva com a qual tendemos a concordar e que basicamente se resume ao seguinte: a verdadeira razão porque a Ryanair vai abandonar (ao que parece só em parte) a operação de Inverno deve-se à perspetiva de crescimento de passageiros “esgotado” do destino de S. Miguel, devendo-se a concentração dos voos naquela ilha à política de desenvolvimento do turismo do Governo Regional que não consegue resistir à pressão dos empresários locais. Essa concentração, já de si um problema, não encontra resposta numa estratégia de distribuição desses turistas por outras ilhas, nem a oferta da SATA está estruturada para servir esse objetivo. Ou seja, muitos dos turistas que entram por S. Miguel poderiam depois irradiar para outras ilhas, mas não é isso que acontece porque a estratégia que está montada é outra: antes de mais, serve para responder à capacidade hoteleira de S. Miguel em vez de se olhar para um desenvolvimento harmónico dos Açores como um todo. Nem há qualquer promoção feita nesse sentido. Argumenta-se que as ligações entre ilhas, ainda que reforçadas, andam esgotadas, querendo ilusoriamente significar que, afinal, os turistas entram por S. Miguel e depois cirandam pelas outras ilhas. Alguns fá-lo-ão, mas sem expressão. A maioria dos passageiros é açoriana que aproveita (e bem) a tarifa Açores para fazer férias cá dentro. Independentemente da opção de uma estratégia de turismo assente numa porta de entrada, quanto a nós arriscada, a verdade é que esta apenas procura responder ao crescimento de S. Miguel e mesmo assim com fim à vista. A prova é que a Ryanair vai eventualmente abandonar parte da operação precisamente porque o crescimento de passageiros, pelo menos em parte do ano, está esgotado porque afunilou para servir S. Miguel. O único dado que talvez tenha escapado à fundamentada análise de Nuno Domingues terá sido que este mal já vem de trás, dos governos que ele também integrou. Os erros da política de transportes que serve a estratégia para o turismo são transversais a governos da esquerda socialista e do PSD e também agora da coligação de direita. Digamos que todos alinham pela mesma cartilha e a visão do todo regional perde no atendimento à ilha com maior população e maior economia. E isso anda longe do apregoado desenvolvimento harmónico.
  • in, Diário Insular, 06 de Setembro / 2023
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Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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