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A Lusofonia regressou à ilha-mãe

Aos vinte anos estava na fase rebelde (já terá passado?), aos trinta e com falhanços matrimoniais estava na fase do nervosismo otimista, nos 40 já me interrogava sobre o porquê dos falhanços e se o rumo persistente seria a resposta… casei, por fim, uma última vez aos 45 e só então comecei a viver em plenitude física, mental e espiritual. Agora que enviuvei podia dizer que chegou a idade de fazer o que muito bem entendo, o que não sendo absolutamente nada egoísta pode ser a chave de sobrevivência. Até consegui constatar que a raiva já não é a mesma, está mais grisalha como eu, é que neste dealbar das últimas páginas de vida não vale a pena manter a raiva, antes pudesse eu manter o sol, pois o outono e inverno são muito mais frios do que eram dantes e o sol, como escrevo há mais de 50 anos ajuda-me na minha função clorofilina, vital para a minha saúde mental.
Há coisas que não se compram, remédios ou curas para as dores de alma, por exemplo e escuso de as pedir sempre que vou à farmácia aviar remédios para outras maleitas, diabetes, colesterol, hipertensão, dores musculares. Dizem que a vantagem de ser viúvo é não ter de agradar a ninguém, e poder ser eu mesmo pois as pessoas amam o original, mas lamento informar que apesar de poder ser eu mesmo, preferia ter ainda a minha mulher e tentar agradar-lhe ao fim de quase três décadas e não seria por isso que eu deixaria de ser original.
A minha rebeldia – que se mantém desde bem antes da maioridade – leva a que me marginalizem e tentem ignorar, o que é absolutamente despiciendo pois nunca deixarei de falar e escrever, mesmo que ninguém me leia ou ouça, e quanto mais me tentarem silenciar ou ignorar mais vocal serei neste mundo de injustiças e desigualdades. O mundo em que vivo começa a estar dominado por hologramas em que a realidade existe em menor proporção (veja-se https://www.facebook.com/watch?v=1081593463376979), e enquanto isto não progride mais, podemos sempre imaginar que ao caminhar numa floresta matamos inconsequentemente milhares de formigas e outros pequenos animais que nem sequer vemos, mas sentimo-nos superiores a eles, como uma forma de vida mais elevada. Com a introdução da IA em mais e mais setores das nossas vidas, em que as suas capacidades intelectuais superarão as nossas milhares de vezes, e a sua capacidade decisória é mais lógica e linear, podem rapidamente chegar à conclusão de que nós não merecemos ser preservados (tal como as formigas) por eles que são tão superiores a nós.
Sei que será também esse o destino daqueles que nos tentam minimizar ou ignorar como recentemente aconteceu quando o 39º colóquio da lusofonia foi, pela terceira vez à ilha de Santa Maria (depois de 2011 com Homenagem a Daniel de Sá e 2017 com o Prémio Nobel Ramos Horta).
Dentre os convidados oficiais salientamos ÁLAMO OLIVEIRA, DORA M NUNES GAGO, PEDRO ALMEIDA MAIA, ANABELA FREITAS (MIMOSO), ANÍBAL PIRES, EDUARDO BETTENCOURT PINTO, ALEXANDRE BORGES, LUÍS FILIPE BORGES, NUNO COSTA SANTOS, DIOGO OURIQUE, VASCO ROSA entre outros além da presença do decano de escritores EDUÍNO DE JESUS e de ONÉSIMO T ALMEIDA.
Homenageados neste colóquio, o autor do ano, Pedro Almeida Maia, Helena Chrystello numa Homenagem Póstuma à professora, antologiadora, escritora e vice-presidente da AICL e o autor local, Arsénio Puim.
Houve três sessões musicais com Ana Paula Andrade, alunos da escola local, um grupo de folclore de Santo Espírito, participantes do Brasil e uma dúzia de apresentações literárias além da exibição de um documentário de Francisco Rosas sobre os 50 anos do 25 de abril nos Açores com um apontamento sobre o meu 25 de abril em Timor há 50 anos. Novidade foi uma curta peça de teatro de Florianópolis (Santa Catarina, Brasil) dedicada a Helena Chrystello, além de um painel de debate dedicado à Diáspora e outro de Encontro de Gerações com Nuno Costa Santos, Alexandre Borges, Eduíno de Jesus e Onésimo T Almeida. Rui Barata Paiva apresentou uma pequena mostra de aguarelas incluindo trabalhos sobre a capa de um livro por ele ilustrado e aqui apresentado.
A editora LETRAS LAVADAS apresentou uma mostra de livros dos autores presentes.
Além da novel obra Antologia de humor açoriano (que a Helena Chrystello deixou inacabada e o Aníbal C Pires concluiu), divulgamos uma novela dela, inédita, datada de 1976. Ouvimos uma dúzia de testemunhos e falamos das suas últimas 4 obras, revisitando as suas intervenções em prol da cultura e literatura na RTP-Açores, ouvindo poemas a ela dedicados (com a presença de dois filhos, Isabel e João) e que foram incluídos numa edição especial minha “29 poemas, 29 anos com a Nini” ofertados a todos os presentes.
Podemos afirmar, quase em uníssono com os demais presentes (quatro dezenas e meia) que se revelou mais um sucesso o 39º colóquio da lusofonia em Vila do Porto, Santa Maria.
Agradecimentos para o nosso patrocinador local, a autarquia através da sua Presidente, Dra. Bárbara Chaves (conhecida destes colóquios desde 2011 quando, como deputada, ajudou a colocar na lista de livros recomendados no Plano Regional de leitura, a obra Antologia de autores açorianos contemporâneos, da Helena CHRYSTELLO), do seu vice e vereador da cultura, Domingos Barbosa, nosso interlocutor privilegiado ao longo dos meses, e da assessora Helena Barros. Agradecimentos muito especiais são devidos às incansáveis funcionárias da Biblioteca Municipal, Débora Vicente, Judite Fontes, Neli Coelho, Viviana Esteves, lideradas por Lisete Cabral que prestaram inestimável apoio técnico, muito para lá das suas competências habituais sem problemas técnicos quer nas transmissões online quer no decurso das sessões com recurso a meios técnicos diversos ao longo destes 4 dias cheios de desafios logísticos e técnicos. Excelente trabalho os dos motoristas Sr António e Sr Armando sempre incansáveis e pacientes nas suas esperas depois das refeições vespertinas em que o pessoal caprichava a atrasar-se, já que durante o dia se cumpriram religiosamente os horários.
Agradecemos ao Hotel (onde nós e os colóquios sempre ficamos), na pessoa da sua Diretora (Dra. Aida Amaral), sua filha Bruna Figueiredo que nos auxiliou na obtenção de descontos, e a todo o restante pessoal (da receção sala, cozinha e quartos) notavelmente a D. Madalena (que conhecemos há 20 anos, sempre solícita na satisfação de todos os nossos pedidos e idiossincrasias, como o anormal pequeno tamanho da minha “italiana”).
Agradecemos o mecenato da EDA RENOVÁVEIS que nos permitiu ter presentes vários autores açorianos e gratos estamos à Direção Regional das Comunidades que nos presenteou com a presença do seu Diretor Dr. José Andrade e apoiou parcialmente a vinda de Eduardo Bettencourt Pinto da Diáspora Canadiana, além do apoio da Direção Regional da Cultura que, infelizmente, não se fez representar.
Ao Professor José de Andrade Melo nosso guia no roteiro cultural (dia 3 de outº) vão os nossos agradecimentos pelas suas explicações sobre os locais visitados num roteiro com horário restrito e agradecemos ao Museu de Santa Maria (Polo de Vila do Porto e sua diretora Dra. Elisa Sousa, e ao Centro de Interpretação Dalberto Pombo / Casa dois Fósseis, que tão bem nos receberam. Por último agradecemos à Escola Secundária de Santa Maria através da Presidente do Conselho Executivo, Dra. Carla Roque pela organização da sessão com alunos e a oferta gentil de almoço aos participantes no colóquio.
Foi como de costume um prazer voltar à Ilha-Mãe e saímos daqui com pena de se terem passado tão fugazmente estes dias, com pena de não dispormos de mais tempo, mas com a certeza de que queremos regressar o mais depressa possível, talvez já em 2026 ou 2027 para um colóquio mais longo, menos emocional, mais tranquilo e com mais vagar para viajarmos pela ilha e partilharmos algumas das suas maravilhas. Em 2025 estaremos nas Lajes das Flores de 23 a 27 abril.
Conclusões do 39º:
No encerramento quando tivemos a presença da Coordenadora da Vice-Presidência do Governo em Santa Maria, Dra. Leonor Batista, salientamos duas das propostas que nos fizeram chegar:
a) Para que a Anabela Freitas e a Dora Gago unam esforços e sinergias para compilarem a série documental de artigos sobre o autor açoriano Leal de Carvalho e posteriormente editar em livro.
b) Para que o trabalho iniciado pela Helena Chrystello da Antologia do Humor, e completado pelo Aníbal Pires, possa ter seguimento, sugerindo-se o nome de Victor Rui Dores para se encarregar de proceder a tal.

Chrys Chrystello*

*Jornalista, Membro Honorário Vitalício nº 297713
MEEA-AJA (IFJ)

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