a justiça dos ricos em portugal

Em Portugal, o que é que pode acontecer a um banqueiro delinquente cujo amontoado de falcatruas produza um buraco financeiro que faça perder milhões aos clientes do banco e ponha a tremer as perninhas a governantes que não hesitam em transferir as perdas para os contribuintes portugueses?

Pode nem sequer ir a julgamento. A lentidão e a ineficácia da Justiça protegem-no.

Pode ir a julgamento e ser absolvido, ou por falta de provas, ou porque entretanto os crimes prescreveram. A mesma lentidão e a mesma ineficácia protegem-no de novo.

O banqueiro delinquente pode ainda optar por falecer ou por desenvolver uma demência antes do trânsito em julgado da sentença. A Justiça concede-lhe tempo mais do que suficiente para viabilizar estas duas opções.

Mas também pode ser condenado, ir tentando adiar a execução da sentença com recursos para aqui e para ali e, esgotados todos os recursos, fugir para um país sem acordo de extradição antes de ser preso. Foi o que fez João Rendeiro. A Justiça, melhor dito, o juiz que o julgou aplicou-lhe a mesma medida de coacção que é aplicada ao cidadão acusado pelo vizinho de lhe chamar nomes feios: termo de identidade e residência.

Se não quisesse pô-lo em prisão preventiva, o juiz titular do processo podia ter considerado o alerta que os advogados do BPP lhe remeteram na semana passada e obrigar o banqueiro Rendeiro a entregar o passaporte e a pagar uma caução, pois podia, mas depois o nosso homem teria dificuldades em dar-se ares de Vila Diogo. Era chato. A Justiça também protege juízes que evitem tais chatices garantindo-lhes que erros grosseiros não lhes custem a expulsão.

Há muito bons juizes, evidentemente que sim. Mas desengane-se quem acredita que o idiota do negacionista é o único exemplar de juiz que não deveria sê-lo. Ele apenas deu demasiado nas vistas. Ninguém o manda armar-se em estrela. Tivesse o senhor optado por ser mais discreto e, a estas horas, as suas capacidades bastante acima da média estariam, como as de tantos outros, a fazer Justiça.

João Rendeiro fugiu. O juiz que o julgou não terá que fugir. Aliás, nem terá que se preocupar com eventuais consequências para si e para a sua carreira. Ele há cenas que acontecem até aos melhores, que diabo.