a Chiado Editora vista pelo Joel Neto

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Todas as semanas, agora, me pedem um prefácio para, uma leitura crítica de ou até uma palavrinha nos jornais por um livro com a chancela de uma auto-intitulada Chiado Editora. “Surgiu-me esta oportunidade”, diz o jovem escritor, às vezes das ilhas e às vezes do continente – e eu, mesmo barafustando, faço o que posso.

Mas não deixo de tentar explicar-lhe que está a ser iludido.

Uma editora é uma empresa que faz selecção de edições, que faz edição e revisão de textos, que faz a divulgação do trabalho e candidata o livro a prémios e promove o seu autor. Sem isso não há editora e sem editora também não há propriamente um livro: há uma impressão, que até podia ser feita na casa de fotocópias da esquina.

E a Chiado Editora, fazendo-o talvez com Pinto da Costa ou Edson Athayde, não faz nada disso com estes jovens escritores a quem proporciona “a oportunidade”. Ou quase nada.

De resto, nem sequer é bom negócio, aquilo que lhes impinge. Mil e quinhentos euros por cento e cinquenta exemplares em mau papel, com má tinta, sem editing ou copying e com (enquanto gloriosos argumentos negociais, isto é) uma “distribuição nacional” cómica, dois press-releases obscuros, que os jornalistas apagam sem ler, e um lançamento sombrio numa loja FNAC vazia às três da tarde de uma quarta-feira – nada disso é bom negócio para um autor, embora seja um maravilhoso negócio para uma impressora.

Pelo amor de Deus, opúsculos a dez euros a unidade? Meus queridos, se têm mesmo de pagar para editar os vossos livros, então encontram melhor a um terço do preço. Isso é tudo menos uma oportunidade. E, daqui a dois meses, quando acharem que o mundo editorial é todo tão incompetente e frívolo e peseteiro e fundamentalmente inútil como os vossos actuais interlocutores, vão adquirir um trauma tal que ficam cinco anos sem escrever, a acumular ressentimentos antes do tempo.

Para mais, caramba: vocês estão na idade de queimar etapas. É preciso aprender a fazê-lo. Pergunta-vos um tipo que cometeu todos os erros, se aventurou a todas as precipitações e, no essencial, perdeu dez anos da sua vida a escrever bilhetinhos à mulher-a-dias: vocês têm mesmo de publicar o vosso blog em livro?/Terra Chã, 28.1.14