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O misterioso Manuscrito Voynich foi finalmente desvendado
O académico Gerard Cheshire, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, conseguiu a proeza de desvendar o misterioso Manuscrito de Voynich, um dos documentos mais intrigantes da história.
O mistério do livro indecifrável escrito numa língua que não existe com criaturas nunca vistas foi finalmente resolvido.
O texto medieval, que data do Século XV e que todos pensavam estar escrito em algum tipo de código complexo, já tinha derrotado inúmeros criptógrafos, linguísticos eruditos e até programas de computador desde que foi descoberto no Século XIX.
Mas depois de o enigma ter iludido os estudiosos durante mais de um século, em apenas duas semanas Gerard Cheshire conseguiu finalmente resolvê-lo, usando uma combinação de pensamento lateral e engenho para identificar a linguagem e o sistema de escrita do famoso documento.
No artigo científico publicado na revista Romance Studies, o investigador explica que teve uma série de momentos “Eureca!” enquanto decifrava o código, seguida de um sentimento de espanto e de entusiasmo quando percebeu a magnitude da conquista, tanto em termos da sua importância linguística quanto da revelação sobre a origem e conteúdo do manuscrito.
“O que o documento revela é ainda mais surpreendente do que os mitos e fantasias que gerou”, aponta o académico, citando que, “por exemplo, o manuscrito foi compilado por freiras dominicanas como fonte de referência para Maria de Castela, Rainha de Aragão, que por acaso foi tia-avó de Catarina de Aragão”. Catarina (1485-1536) foi uma princesa espanhola e a primeira rainha de Henrique VIII de Inglaterra.
Este trabalho de pesquisa representa um dos desenvolvimentos mais importantes até hoje na linguística românica. Isto porque Cheshire descobriu que o manuscrito está escrito em “proto-romance”, o ancestral das línguas românicas de hoje, incluindo o Português, o Espanhol, o Francês, o Italiano, o Romeno, o Catalão e o Galego.
“A Língua usada no manuscrito [o proto-romance] era omnipresente no Mediterrâneo durante o período medieval, mas era raramente utilizada em documentos oficiais ou importantes, porque o latim era a língua da realeza, igreja e governo. Como resultado, os registos escritos do proto-romance estavam perdidos, até agora”, explica Cheshire.
Um dos trechos do manuscrito mostra duas mulheres a darem banho a cinco crianças. As palavras descrevem diferentes temperamentos/sentimentos: “tozosr” (significa algo como “muito barulhento”); “orla la” (“perdendo a paciência”, “no limite”); “tolora” (semelhante a “tolo”); “noror” (“triste”, “opaco”); “aus” (“bem comportado”); e “oleios” (“escorregadio”). Algumas destas palavras sobreviveram em Línguas actuais, como no Catalão (tozos e aus), no Português (orla e oleio) e no Romeno (noros). A expressão “orla la” pode muito bem ser a raiz da expressão francesa “oh là là” que revela um sentimento semelhante.
Uma das características que torna o manuscrito tão incomum é o facto de usar uma linguagem extinta. O seu alfabeto é uma combinação de símbolos desconhecidos e de outros mais familiares.
Além disso, o texto “não inclui sinais de pontuação, embora algumas letras possuam variantes de símbolos para indicar pontuação ou acentos fonéticos”.
“Todas as letras estão em minúsculas e não há consoantes duplas”, detalha Cheshire, acrescentando que “a escrita inclui ditongos, tritongos, quadritongos e até quintotongos para a abreviação de componentes fonéticos”. “Também inclui algumas palavras e abreviações em latim”, nota.
O próximo passo é traduzir o manuscrito inteiro e compilar um léxico, algo que Cheshire reconhece que levará algum tempo e exigirá financiamento, pois o documento compreende mais de 200 páginas.
“Agora que o idioma e o sistema de escrita foram explicados, as páginas do manuscrito estão abertas para os estudiosos explorarem e revelarem, pela primeira vez, o seu verdadeiro conteúdo linguístico e informativo”, conclui o investigador.
O véu do mistério está, assim, apenas a começar a ser destapado. Mais novidades e surpresas se podem esperar para os próximos tempos.
ZAP // HypeScience