Timor e as autoestradas que se afundam

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Jose Teixeira

LUSA: Deputados timorenses exigem responsabilidades a empresa por danos em autoestrada
Deputados timorenses exigiram hoje responsabilidades à empresa que está a construir a primeira autoestrada do país, para resolver os problemas no primeiro troço da obra que já custou mais de 300 milhões de dólares (265 milhões de euros).

Uma delegação da comissão E do Parlamento Nacional, com deputados de várias bancadas, visitou hoje a zona do abatimento de terra, que afetou parte do primeiro troço da autoestrada, no sul do país, inaugurado em novembro do ano passado.

Deputados ouvidos pela Lusa, que visitaram hoje o local, confirmaram os graves danos que uma forte chuva causou na região pouco tempo depois da inauguração da obra e que, até ao momento, não foram ainda resolvidos pela empresa chinesa.

O deputado da União Democrática Timorense (UDT) Gilman do Santos, um dos nove parlamentares da delegação que visitou hoje a região, explicou à Lusa que os problemas centram-se numa zona de cerca de 50 metros da autoestrada no suco de Labarai, a cerca de cinco quilómetros de Suai, no lado de quem viaja até esta cidade no sul de Timor-Leste.

“O terreno desabou e os muros e gaviões que fizeram também abateram. É uma zona de entre 40 e 50 metros”, disse, explicando que a delegação parlamentar ainda não teve qualquer encontro com a empresa que está agora a trabalhar na zona de Zumalai.

Gilman dos Santos considera que o Governo deve exigir responsabilidades, explicando que a lei prevê a retenção de parte dos pagamentos à empresa exatamente para imprevistos depois da obra.

O deputado insiste que é vital que os estudos preliminares das obras sejam feitos, para avaliar da viabilidade dos projetos, abrangendo “as condições do terreno e demais questões”.

“Tem que haver mais atenção na preparação do terreno. Não sou engenheiro, mas constatámos que parece ter havido ali um problema de um aterro que não foi bem feito, não tendo material de sustentação adequado. É areia e pedras soltas”, disse.

“O Governo tem que ter muito mais cuidado e muito controlo deste tipo de obras”, defendeu.

Já o deputado da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) Fabião de Oliveira, que também integrou a delegação, comprovou “os muitos danos causados”, afirmando que parece ter havido “falta de supervisão pela Obras Públicas e Agência de Desenvolvimento Nacional”.

“Isto aconteceu há vários meses e até agora ainda não houve nenhuma reparação. A empresa é que tem responsabilidade e o Governo tem que exigir responsabilidades à empresa para que faça uma intervenção imediata”, disse.

Oliveira afirmou que problemas como este são “comuns” no país, apontando uma situação idêntica numa estrada nova na zona de Ainaro, pelo que é essencial melhorar os “estudos prévios, sobre a situação geral do ambiente, geotécnica, geologia” e, assim, tentar evitar problemas destes.

A autoestrada, uma ligação de 151,6 quilómetros, com duas faixas em cada sentido, entre as vilas de Suai e Beaço, ao longo da costa sul, ainda está em fase de construção, tendo sido inaugurado o primeiro troço – 30,4 quilómetros entre Suai e Fatukahu/Mola.

A primeira fase da obra, no valor de 298 milhões de dólares, foi adjudicada à China Overseas Engineering Group, a que se somam mais quase dez milhões de dólares em pagamentos por expropriações, com o custo dos primeiros 30 quilómetros da obra se cifrou nos 10,17 milhões por quilómetro.

O troço foi inaugurado a 17 de novembro tendo pouco tempo depois começado a circular imagens de residentes da zona, distribuídas nas redes sociais, que mostravam danos provocados pela chuva.

A obra faz parte de um projeto mais ambicioso conhecido como Tasi Mane (Mar Homem, uma referência ao mar mais agitado da costa sul, em contraste com o Tasi Feto, ou Mar Mulher, o mais calmo da costa norte).

O Tasi Mane é um projeto de desenvolvimento de toda a costa sul do país que inclui a construção da Base de Apoio de Suai – zonas logísticas, residenciais e industriais -, a refinaria de Betano, uma unidade de processamento de Gás Natural Liquefeito (GNL), um porto e o gasoduto até ao campo Greater Sunrise, no Mar de Timor.

O projeto arrancou em 2011 com estudos técnicos, prosseguiu com a identificação, aquisição e compensação de mais de 289 hectares de terras e propriedades para o projeto.

Falta ainda concluir três troços da ligação, os 34,3 quilómetros entre Faticai e Dotik, os 42 quilómetros entre Dotik e Buikarin e os 36 quilómetros entre Buikaran e Beaço.

Se o preço por quilómetro se mantiver, o Governo ainda terá que gastar aproximadamente mais 1,2 mil milhões de dólares na obra, nota a organização não-governamental La’o Hamutuk.

https://www.dn.pt/…/deputados-timorenses-exigem-responsabil…

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