Jose Antonio Salcedo Revolta-me o não assumir de responsabilidades que tanto caracteriza a cultura nacional, a qualquer nível

Jose Antonio Salcedo
19 June at 12:35 ·

em adição ao artigo https://www.publico.pt/2017/06/18/sociedade/noticia/imprevisivel-1776080

For my Portuguese friends: A calamidade que se abateu sobre a região de Pedrógão Grande é demasiado bárbara e injustificável para que eu possa estar calado. Revolta-me o não assumir de responsabilidades que tanto caracteriza a cultura nacional, a qualquer nível. E, neste contexto, revolta-me que esta característica seja ainda mais evidente nas ‘elites’ que têm vindo a assaltar o Estado via partidos políticos – essas escolas de tráfego de influências – e em tantos políticos, do que na população em geral.
O drama que ocorreu em Pedrógão – e que no futuro poderá ocorrer noutros pontos do país – não é resultado inevitável de uma ‘trovoada seca’ de natureza ‘imprevisível’ – cuja ocorrência no local e na hora é plausível mas ainda está por provar, apesar das afirmações produzidas de imediato pela PJ – mas é sobretudo devido à falta de responsabilidade e à incompetência que caracterizam muitos dos líderes a nível municipal e nacional que temos tido a pouca sorte de ter no país. Demasiados autarcas, ministros, primeiros-ministros e presidentes da república deveriam sentir a mais profunda vergonha da sua prosápia e vacuidade; ao menos fossem inúteis – infelizmente, têm sido prejudiciais. Entretidos que têm estado com a sua segurança, onde incluo a salvaguarda da sua impunidade, assim como com o seu conforto, com as suas benesses, com as suas viaturas de serviço e com os seus cartões de crédito e até com as suas comissões em negociatas, têm governado para as TVs com os seus abraços, beijos e sorrisos. Sim, muitas pessoas estão carentes de afectos e os afectos desempenham um papel importante em qualquer sociedade; porém, o país está incomparavelmente mais carente de responsabilidade, onde incluo a sua dimensão ética, assim como de competência técnica e de orientação exclusiva ao serviço público. Não é com tretas de ‘ano de viragem’ ou de ‘proximidade ao cidadão’ – como vem referido no tão politicamente correcto ‘Plano de Atividades 2017 da Autoridade Nacional de Proteção Civil’ – que se resolvem problemas sérios.
Haja coragem para demitir tantos incompetentes, para colocar em cima da mesa as centenas de estudos e diagnósticos realizados no passado assim como passar a ouvir pessoas tecnicamente qualificadas. Haja coragem para reformar o Estado e centrar a sua acção no serviço das necessidades das pessoas. Chega de nomear incompetentes e palermas para lugares públicos! Chega de estimular e proteger a mediocridade! Este é um apelo que faço directamente a si, Senhor António Costa, nas suas qualidades de Primeiro-Ministro e de líder do Partido Socialista, o partido actualmente no poder. É um apelo que faço igualmente a todas as pessoas com responsabilidades públicas.
Portugal tem de se reinventar, e cada um de nós – cidadãos ou líderes a qualquer nível – tem de passar a assumir e a valorizar responsabilidade como um valor central da sua cultura. Esta valorização deve aplicar-se quer aos nossos comportamentos quer à exigência que colocamos nos comportamentos das pessoas que lideram uma qualquer instituição. Apenas assim transformamos um país de ‘pobres diabos’ à mercê de uma qualquer trovoada – e elas tenderão a ficar mais concentradas e intensas – num país de cidadãos livres com uma participação cívica consciente e qualificada.