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Descoberta de novos fósseis revela o “rosto” de uma minhoca pré-histórica 25-6-15
Cientistas analisaram fóssil com mais de 500 milhões de anos com microscópio eletrónico
Fotografia: MARTIN SMITH / NATURE
Hallucigenia, uma minhoca pré-histórica com penas, patas e dentes à volta da boca — considerada uma das criaturas mais surreais do passado — surpreendeu os investigadores Martin Smith, da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e Jean- Bernard Caron, do Museu Real de Ontário (Canadá). Ao analisar o velho fóssil de 500 milhões de anos com um microscópio eletrónico, os investigadores encontraram também olhos.
— Ficamos surpresos ao encontrar não apenas os olhos, mas também um ar malicioso e uma série de dentes que sorriu para nós — contou Smith.
A descoberta, publicada nesta quarta-feira pela revista britânica Nature, permite ver as coisas um pouco mais claras sobre esse estranho animal, agora extinto, que viveu no Câmbrico — período em que ocorreu a explosão de organismos multicelulares e uma significativa diversificação das espécies na Terra.
Os investigadores trabalharam em dezenas de fósseis oriundos de Burgess Shale, um local que já esteve submerso, localizado nas Montanhas Rochosas do Canadá.
Descoberta pouco depois de 1900, a minhoca foi descrita precisamente pela primeira vez na década de 1970 por Simon Conway Morris, que a batizou como Hallucigenia (alucinação, no latim) pela forma estranha do animal, que continua a intrigar os paleontólogos.
A minhoca mede entre um e cinco centímetros e foi relacionada, por Smith, como “um bastão de hockey equipado com sete pares de pernas e coberto com espinhos sólidos.”
Inicialmente, alguns cientistas pensavam que o animal caminhava sobre os seus espinhos nas suas costas e possuía tentáculos. Mas outros investigadores inverteram o diagrama, estabelecendo que os tentáculos eram realmente patas apoiadas no chão e munidos de garras, enquanto os espinhos estavam na parte de cima.
Em seguida, os especialistas focaram-se em encontrar a cabeça e a cauda do animal. Ao analisar os fósseis de Hallucigenia do Museu Real de Ontário, em Toronto, Smith e Caron descobriram que uma forma de balão que tinha sido dada como a cabeça do animal era, na verdade, um ponto escuro feito de resíduos intestinais, para fora do ânus do animal. Existia, portanto, uma cauda.
Com o seu microscópio, procuraram descobrir a outra parte do corpo que poderia ser, de fato, a cabeça. Após terem retirado o sedimento que a recobria, descobriram os olhos e a boca da minhoca.
— As análises mostraram que a boca de Hallucigenia era cercada por um anel de dentes, o que permitiria a aspiração de alimentos. Além disso, na sua garganta havia uma fileira de dentes afiados como alfinetes. Deveria agir como um torniquete para impedir que o bolo não voltasse — explicou Smith.
A Hallucigenia está próxima dos vermes-aveludados que vivem atualmente em algumas florestas tropicais. Fazem parte do vasto grupo Ecdysozoa, cujo desenvolvimento ocorre através das metamorfoses (minhocas e lagartas, por exemplo).
— Os dentes de Hallucigenia parecem-se com o que foi observado nos primeiros animais que se metamorfoseavam. Isso sugere que tinham um ancestral comum que possuía este tipo de dente na garganta — considerou Caron.
Localização geográfica de Burgess Shale
Fonte: Agência AFP