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HDES: Falhas e Lições por Aprender
O incêndio que atingiu o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) em Ponta Delgada, a 4 de maio do ano passado, expôs de forma brutal as fragilidades do sistema regional de saúde nos Açores. Para além do prejuízo imediato estimado em já mais de 40 milhões de euros, o episódio deixou mais de metade da população do arquipélago sem acesso direto ao principal hospital da região. Mostrou a debilidade de todo o sistema perante um acontecimento fortuito, é verdade, mas com probabilidade razoavelmente elevada de se repetir, dada a nossa realidade aberta a catástrofes. Contudo, o que era já um problema grave transformou-se numa situação ainda mais delicada devido à forma como se lidou com a emergência e as consequências do incêndio.
Desde os primeiros dias após o incêndio, o Senhor Presidente do Governo Regional adotou uma postura errática. Num momento de crise extrema, a liderança exigia decisões claras e centradas nos interesses imediatos dos Açorianos. Colocar o HDES operacional o quanto antes deveria ter sido a prioridade. No entanto, Bolieiro demonstrou ingenuidade em algumas posições e calculismo em outras, focando-se demasiadamente no cenário político e na interação com a república, em detrimento da eficiência das soluções. Ninguém se vai esquecer na aparição na televisão de braços caídos e mãos postas. Não estaria preparado para o momento, se calhar ninguém estaria, mas, naquele momento, exigia-se uma postura de estadista responsável e uma liderança visionária. Sem nada disso, ficámos entregues aos delírios de uma ministra perdida e aos apetites dos interesses do costume, e por consequência restou-nos o caos e a incerteza. Tudo o que não se desejaria nesta situação. Hoje, passados todos estes meses, é por demais evidente que os erros foram muitos.
A decisão do Governo pelo hospital modular, tornada pública alguns dias após o incêndio, não se baseou em qualquer relatório de engenharia sobre os verdadeiros danos no edifício, mas sim na aparente pressão de interesses internos do próprio HDES. Inadmissível num investimento de dezenas de milhões de euros. O processo de adjudicação do modular e dos equipamentos foi aligeirado e apressado, gerando assim suspeitas de falta de transparência, que certamente irão provocar processos de investigação, corroendo a já reduzida confiança dos eleitores nos governantes. Os responsáveis políticos falaram demasiado em segurança, mas apenas para justificar a opção pelo modular. Veremos que efeitos de médio/longo prazo virão para a saúde dos Açorianos. Fala-se muito em edifícios, equipamentos e até em Centros Universitários, mas o mais importante são os doentes que necessitam de tratamento e que estão privados de cuidados há já muitos meses. Essa deveria ter sido a primeira prioridade.
A Secretária Regional da Saúde enfrentou uma situação extremamente desafiadora, tomando decisões que geraram ampla controvérsia, nem sempre demonstrando ponderação e sustentação técnica. Um exemplo claro foi o foco inicial no hospital modular, a todo o custo, criticado pela baixa qualidade e pelos constantes atrasos na implementação, o que evidenciou sérias lacunas no planeamento e na resposta às necessidades urgentes do hospital e da população. Inicialmente, foi mal aconselhada, resultando em escolhas desalinhadas com as prioridades imediatas. Posteriormente, demonstrou relutância em rever essas decisões, mesmo diante de evidências que apontavam para erros de condução.
O hospital modular tornou-se um símbolo dessa falta de pragmatismo, com alterações atualmente em curso que expõem falhas de planeamento e decisões tomadas sem base técnica sólida, e sem falar no custo exorbitante para o erário público. A gestão do processo foi marcada por sucessivas contradições, desde blocos operatórios inicialmente rejeitados e depois aprovados, até prazos sistematicamente ultrapassados. Enquanto isso, técnicos destacam que o HDES já possui condições para reabrir, em melhores circunstâncias do que antes do incidente de 4 de maio, faltando apenas determinação e coragem política para avançar. Todo o processo está inquinado pela já habitual guerra interna no Governo, onde interesses partidários se sobrepõem ao mais elementar bom senso. Neste caso, até foi necessário demitir o conselho de administração como dano colateral de tão pérfida luta.
A oposição, por sua vez, não conseguiu desempenhar um papel fiscalizador responsável e ativo. Não apresentou soluções alternativas concretas, nem pressionou o governo com suficiente rigor para acelerar os trabalhos de recuperação do HDES. Essa inércia contribuiu para a perpetuação dos problemas e para o aumento da insatisfação pública. A explicação de tal silêncio resulta certamente de um sentimento de culpa. O HDES não se tornou obsoleto nos últimos 4 anos. O abandono vem de há muito mais tempo, e aí, como em muitos outros assuntos, o PS não consegue seguir em frente sem uma assunção de responsabilidades passadas. O incêndio revelou não apenas erros na gestão da emergência, mas também problemas estruturais que vinham sendo negligenciados há anos. O sistema elétrico do HDES, com mais de 30 anos, já era conhecido por ser obsoleto, com relatos de falhas frequentes e situações perigosas. As taxas de execução orçamental da Secretaria da Saúde também evidenciam falta de prioridade na modernização da infraestrutura.
Diante de tudo isso, é fundamental parar para pensar no que realmente se deseja para o HDES e para o sistema regional de saúde. O hospital modular, que foi pouco planeado e implementado de forma deficiente, é um exemplo do que não deve ser feito. É preciso um plano de requalificação abrangente e realista para o HDES, priorizando a segurança, a modernização e a eficiência dos serviços, mas também com um olhar nas próximas décadas. Além disso, é crucial que os erros cometidos no passado sejam analisados e corrigidos, sejam eles técnicos ou políticos, para que crises como esta não voltem a ocorrer, sendo que nos Açores a sua repetição é altamente provável. O HDES pode ser reaberto quase a 100%, como deveria ter sido há muitos meses. Com essa reabertura abriria-se uma janela de oportunidade para uma profunda reflexão e posterior planeamento, de modo a termos um novo hospital central nos Açores.
A situação do HDES é um reflexo de um sistema regional de saúde que precisa urgentemente de reformas. Para isso, é necessário que o governo, a oposição e a sociedade civil trabalhem em conjunto para garantir que a população dos Açores tenha acesso a cuidados de saúde de qualidade, bem como estejam protegidos numa ocasião de catástrofe. O momento é de decisões sérias e responsáveis, não de discursos vazios e disputas políticas. É a hora de identificar os erros, corrigi-los e construir um futuro mais seguro e eficiente para a saúde nos Açores.
André Silveira
HDES: Falhas e Lições por Aprender
O incêndio que atingiu o Hospital do Divino Espírito Santo (HDES) em Ponta Delgada, a 4 de maio do ano passado, expôs de forma brutal as fragilidades do sistema regional de saúde nos Açores. Para além do prejuízo imediato estimado em já mais de 40 milhões de euros, o episódio deixou mais de metade da população do arquipélago sem acesso direto ao principal hospital da região. Mostrou a debilidade de todo o sistema perante um acontecimento fortuito, é verdade, mas com probabilidade razoavelmente elevada de se repetir, dada a nossa realidade aberta a catástrofes. Contudo, o que era já um problema grave transformou-se numa situação ainda mais delicada devido à forma como se lidou com a emergência e as consequências do incêndio.
Desde os primeiros dias após o incêndio, o Senhor Presidente do Governo Regional adotou uma postura errática. Num momento de crise extrema, a liderança exigia decisões claras e centradas nos interesses imediatos dos Açorianos. Colocar o HDES operacional o quanto antes deveria ter sido a prioridade. No entanto, Bolieiro demonstrou ingenuidade em algumas posições e calculismo em outras, focando-se demasiadamente no cenário político e na interação com a república, em detrimento da eficiência das soluções. Ninguém se vai esquecer na aparição na televisão de braços caídos e mãos postas. Não estaria preparado para o momento, se calhar ninguém estaria, mas, naquele momento, exigia-se uma postura de estadista responsável e uma liderança visionária. Sem nada disso, ficámos entregues aos delírios de uma ministra perdida e aos apetites dos interesses do costume, e por consequência restou-nos o caos e a incerteza. Tudo o que não se desejaria nesta situação. Hoje, passados todos estes meses, é por demais evidente que os erros foram muitos.
A decisão do Governo pelo hospital modular, tornada pública alguns dias após o incêndio, não se baseou em qualquer relatório de engenharia sobre os verdadeiros danos no edifício, mas sim na aparente pressão de interesses internos do próprio HDES. Inadmissível num investimento de dezenas de milhões de euros. O processo de adjudicação do modular e dos equipamentos foi aligeirado e apressado, gerando assim suspeitas de falta de transparência, que certamente irão provocar processos de investigação, corroendo a já reduzida confiança dos eleitores nos governantes. Os responsáveis políticos falaram demasiado em segurança, mas apenas para justificar a opção pelo modular. Veremos que efeitos de médio/longo prazo virão para a saúde dos Açorianos. Fala-se muito em edifícios, equipamentos e até em Centros Universitários, mas o mais importante são os doentes que necessitam de tratamento e que estão privados de cuidados há já muitos meses. Essa deveria ter sido a primeira prioridade.
A Secretária Regional da Saúde enfrentou uma situação extremamente desafiadora, tomando decisões que geraram ampla controvérsia, nem sempre demonstrando ponderação e sustentação técnica. Um exemplo claro foi o foco inicial no hospital modular, a todo o custo, criticado pela baixa qualidade e pelos constantes atrasos na implementação, o que evidenciou sérias lacunas no planeamento e na resposta às necessidades urgentes do hospital e da população. Inicialmente, foi mal aconselhada, resultando em escolhas desalinhadas com as prioridades imediatas. Posteriormente, demonstrou relutância em rever essas decisões, mesmo diante de evidências que apontavam para erros de condução.
O hospital modular tornou-se um símbolo dessa falta de pragmatismo, com alterações atualmente em curso que expõem falhas de planeamento e decisões tomadas sem base técnica sólida, e sem falar no custo exorbitante para o erário público. A gestão do processo foi marcada por sucessivas contradições, desde blocos operatórios inicialmente rejeitados e depois aprovados, até prazos sistematicamente ultrapassados. Enquanto isso, técnicos destacam que o HDES já possui condições para reabrir, em melhores circunstâncias do que antes do incidente de 4 de maio, faltando apenas determinação e coragem política para avançar. Todo o processo está inquinado pela já habitual guerra interna no Governo, onde interesses partidários se sobrepõem ao mais elementar bom senso. Neste caso, até foi necessário demitir o conselho de administração como dano colateral de tão pérfida luta.
A oposição, por sua vez, não conseguiu desempenhar um papel fiscalizador responsável e ativo. Não apresentou soluções alternativas concretas, nem pressionou o governo com suficiente rigor para acelerar os trabalhos de recuperação do HDES. Essa inércia contribuiu para a perpetuação dos problemas e para o aumento da insatisfação pública. A explicação de tal silêncio resulta certamente de um sentimento de culpa. O HDES não se tornou obsoleto nos últimos 4 anos. O abandono vem de há muito mais tempo, e aí, como em muitos outros assuntos, o PS não consegue seguir em frente sem uma assunção de responsabilidades passadas. O incêndio revelou não apenas erros na gestão da emergência, mas também problemas estruturais que vinham sendo negligenciados há anos. O sistema elétrico do HDES, com mais de 30 anos, já era conhecido por ser obsoleto, com relatos de falhas frequentes e situações perigosas. As taxas de execução orçamental da Secretaria da Saúde também evidenciam falta de prioridade na modernização da infraestrutura.
Diante de tudo isso, é fundamental parar para pensar no que realmente se deseja para o HDES e para o sistema regional de saúde. O hospital modular, que foi pouco planeado e implementado de forma deficiente, é um exemplo do que não deve ser feito. É preciso um plano de requalificação abrangente e realista para o HDES, priorizando a segurança, a modernização e a eficiência dos serviços, mas também com um olhar nas próximas décadas. Além disso, é crucial que os erros cometidos no passado sejam analisados e corrigidos, sejam eles técnicos ou políticos, para que crises como esta não voltem a ocorrer, sendo que nos Açores a sua repetição é altamente provável. O HDES pode ser reaberto quase a 100%, como deveria ter sido há muitos meses. Com essa reabertura abriria-se uma janela de oportunidade para uma profunda reflexão e posterior planeamento, de modo a termos um novo hospital central nos Açores.
A situação do HDES é um reflexo de um sistema regional de saúde que precisa urgentemente de reformas. Para isso, é necessário que o governo, a oposição e a sociedade civil trabalhem em conjunto para garantir que a população dos Açores tenha acesso a cuidados de saúde de qualidade, bem como estejam protegidos numa ocasião de catástrofe. O momento é de decisões sérias e responsáveis, não de discursos vazios e disputas políticas. É a hora de identificar os erros, corrigi-los e construir um futuro mais seguro e eficiente para a saúde nos Açores.
André Silveira Publicado no Diário dos Açores 16-1-2025