José Soares O nacionalismo no futebol

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Peixe do meu quintal José Soares

 

O nacionalismo no futebol

 

Há poucas semanas atrás, prognostiquei que a Espanha ou a França ganharia o EURO2024.

“O palpite (sem aposta) neste momento sobre um vencedor, será uma Espanha ou uma França. Destes dois sairá o campeão.”

Com a França derrotada, resta-me a Espanha, a qual desde o princípio gostei de acompanhar, no seu futebol espetáculo, corrido e bonito. Uma seleção jovem com grandes craques de futebol.

Na final, esta Espanha enfrenta uma Inglaterra imprevisível e pobre em futebol. Longe do que nos habituou no passado. Mas mesmo assim e com a habitual frieza britânica, conseguiu passar por entre os pingos da chuva e chegar até à final, para disputar com a Espanha, invicta neste torneio.

Os nacionalismos são despertados de várias formas e o futebol não foge à regra.

Os estádios são coloridos pelas bandeiras que disputam em campo, antecedendo os hinos nacionais dos respetivos países. Não há grande diferença entre estes espasmos nacionalistas e outros que provocam os atritos e guerras entre bandeiras (leia-se países).

A violência está a crescer também no desporto e em particular no futebol, onde os biliões de euros e dólares tentam camuflar os resultados de tais incitamentos. E vejamos o que nos dizem os números:

“A posse ou uso de pirotecnia originou quase metade dos 6.099 incidentes em recintos desportivos na temporada 2022/23, indica o Relatório de Análise da Violência em Contexto Desportivo (RAViD), ao qual a Lusa teve acesso.

Entre 1 de julho de 2022 e 30 de junho de 2023, houve mais 1.964 ocorrências face ao período homólogo de 2021/22, numa tendência de crescimento em progressão desde a eclosão da pandemia de covid-19, a meio de 2019/20, e superior à fase pré-pandémica.

Esse panorama assentou numa “forte subida” de incidentes relacionados com pirotecnia recolhidos pelo Ponto Nacional de Informações sobre Desporto (PNID), ao passarem de 1.827 para 3.033 em 2022/23, à frente de injúrias (468), danos (382) e agressões (343), existindo ainda um acréscimo de incumprimentos de deveres pelos promotores (1.480).

Da globalidade das 6.099 ocorrências, 5.648 aconteceram no futebol – correspondente a pouco mais de 92% do total de incidentes -, 303 no futsal e 148 nas restantes modalidades, com 1.426 indivíduos suspeitos a serem identificados, 242 a ficarem detidos e 482 a serem expulsos ou impedidos de entrar em espaços desportivos.

No futebol, cujo peso subiu 48% face a 2021/22, a maior incidência esteve nos jogos da I Liga (2.525), das provas europeias (819) ou dos escalões distritais (725) e jovens (539).

A pirotecnia foi a tipologia de incidente mais frequente no escalão principal (72%), ao ter particular incidência nas partidas em que estiveram Benfica, FC Porto ou Sporting, e nas competições organizadas pela UEFA (60,9%), enquanto o incumprimento de deveres do promotor predomina entre as ocorrências mais visíveis no futebol distrital e de formação.

Na época passada, entraram em vigor 473 medidas de interdição de acesso aos recintos desportivos, que ditaram uma subida de 41,2% face às 335 somadas em 2021/22, sendo que 374 (79,1%) resultaram de decisão da Autoridade para a Prevenção e o Combate à Violência no Desporto (APCVD) e 99 (20,9%) foram impostas por autoridades judiciárias.

A utilização de pirotecnia foi o principal motivo para estas sanções (326), seguindo-se as agressões (67), o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância (37), o lançamento de objetos (28), a invasão da área de espetáculo (13) ou as injúrias (dois).

Sete clubes concentram 66,5% dos adeptos alvos de medidas de interdição, tais como o campeão nacional de futebol Benfica (108), Sporting (78) – líder neste parâmetro em 2021/22 – FC Porto (68), Valongo (17), Vitória de Guimarães (15) e Boavista e Sporting de Braga (14 cada).

Os adeptos visados com medidas de interdição são preferencialmente homens (96,8%), residentes nos distritos de Lisboa e Porto (26,2% cada um) e com idades compreendidas entre os 21 e os 25 anos (34,2%), sendo que 67,1% integram os grupos organizados de adeptos, mais conhecidos por claques – 95 do Benfica, 64 do FC Porto e 56 do Sporting.

A maioria dos casos deveu-se ao uso de substâncias ou engenhos explosivos, artigos de pirotecnia ou fumígenos, ou objetos de efeito similar (324) e sucedeu no futebol (96,2%), com a I Liga a aglomerar 192 das 350 interdições verificadas nessa modalidade (53,3%).

“As discussões com os peritos internacionais revelam um panorama com preocupações crescentes em toda a Europa, com sintomas de ressurgimento do hooliganismo, a par da influência da subcultura casual, sobretudo após o período de confinamento. Estamos em crer que esta tendência europeia, já visível em vários outros países após o regresso dos adeptos aos estádios após o período pandémico, poderá influenciar o contexto nacional”, frisa o presidente da APCVD, Rodrigo Cavaleiro, numa mensagem publicada no RAViD.”

Fonte: https://tribuna.expresso.pt/atualidade/2023-12-29-Em-Portugal-92-dos-incidentes-de-violencia-no-desporto-em-2023

 

 

jose.soares@peixedomeuquintal.com