growing pains – ao meu adolescente johnny boy (16 anos) 01.09.12

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561.

ver crescer os filhos são partos constantes

dores difíceis de conter

a ti vi-te crescer na barriga da mãe

desde que foste à austrália sem o saberes

depois quase não nascias por incúria médica

e ali ficaste no porto cinco anos

geneticamente carente de mimos

antes de viveres na minha bragança

e vires desabrochar adolescente nos açores

correste as ilhas e o mundo

sentiste a lava no pico

o barro na faneca de santa maria

a vertigem das fajãs de s. jorge

viste o mar imenso no farol da maia

o rochedo do topo e o ilhéu da vila

mergulhaste nas lamas das furnas

antes de nadares em copacabana

aprendeste a nadar na rousia

fizeste-te às ondas nos moinhos

foste á caldeira no faial e capelinhos

visitaste hong kong e macau

brasília, são paulo e rio de janeiro

viajaste a anhatomirim

ribeirão da ilha, santo antónio de lisboa

lagoa da conceição e palhoça

na grande floripa de santa catarina

correste a galiza paraste em londres

andaste de burro, cavalo e bicileta

deste cabo da cabeça aos profes

da escola da maia e à tua mãe

convertes alegrias em preocupações

canseiras, dores e horrores

privilegiado sem o saberes

viveste os últimos sonhos da geração beat

e dos baby boomers antes da crise

hoje preocupo-me com o futuro

o teu e dos teus contemporâneos

sem sonhos para viverem

sem amanhã para sonharem

sem teorias permissivas do dr spock

embalados no conformismo urbano

sem saber de sputniks nem guerra fria

sem a ordem natural da família nuclear

sem ler os angry young men

sem os verões de amor nem os dias de raiva

sem a geração do flower power

if you go to san francisco

antes de serem yuppies nos anos 80

sem guerras do vietnam ou das colónias

sem disputas entre beatles e stones

sem joan baez nem bob dylan

sem a route 66 do kérouac

agora terás de encontrar a rota na selva

viveres a vida sem rede de segurança

sem sistema universal de saúde

nem serviço público de televisão

cursos sem saída nem amanhã

que não seja emigrar e fugir

amizades feitas no facebook

a virtualidade de sentimentos

a solidão das multidões

e eu carregado de experiência e saber

escrevo desabafos mudos em poesia

impotente sem nada poder fazer

eivado de utopias antigas, democracia

igualdade, fraternidade e liberdade

abafadas neste neoliberalismo selvagem

a minha voz será flor murcha

neste deserto de ricos prepotentes

e às massas sem forças para marchar

só resta gritar antes de perecer

 

(depois de ler, ver http://www.youtube.com/watch?v=RXYAJF9ZmkY&feature=share)

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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