o negócio dos livros

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O NEGÓCIO DOS LIVROS I Já aqui falei deste business, e de como a opção “viver da escrita ficcional” (na tugalândia) é um fenómeno residual. E de como o quinhão (hora de trabalho versus guito recebido), na maioria dos casos, anda ao nível de um auxiliar de limpeza ou de um trolha. O escritor profissional recebe quase sempre por contrato assinado dez por cento das vendas e um best-seller rende, vá lá, dez mil euros brutos (por um mínimo de um ano de trabalho). Há quem pague a edição (a meias com o editor) ou mesmo se aventure na auto-edição (edição de autor) para amealhar mais uns trocos, fazendo figura de vendilhão e sendo desconsiderado pelos escritores que se tomam por Escritores. Escritores portugueses abonados (com casas de luxo na Penha Longa, Comporta e montes no Alentejo) contam-se pelos dedos e esses são pouco ou nada reconhecidos pelos seus pares, que os tomam por medíocres e deslocados do ofício (são, para estes, vendedores de livros e não escritores). Que eu saiba, os escritores portugueses dedicados em exclusivo à escrita das duas, dez: ou têm dote, ou optam por morar num quarto sem procriar e comendo muito atum enlatado, ou têm um mecenas, ou estão reformados de outra profissão e não se ralam com as vendas, a não ser no seu vaidoso íntimo. As bolsas de criação literária são escassas e permitem somente um curto período de dedicação a um livro. Os prémios são o grande objetivo, em particular o Leya, o DST, o Oceanos e, claro, o Nobel. A internacionalização é o objetivo supremo, pois há países onde um escritor é um CEO do seu ofício. A maior alegria do Escritor é escrever livre de contingências da necessidade. Ou seja, estando nas tintas para o lucro e apenas ocupado de dar tudo nos seus escritos. Lobo Antunes é um exemplo, embora a reforma da psiquiatria e as crónicas pagas a peso de ouro lhe tenham permitido defecar de alto e desconsiderar a maioria dos seus pares. Sacralizar um escritor é uma devoção truncada, pois contam-se pelos dedos os grandes escritores, indivíduos notáveis.
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Gaëlle Becker Silva Marques

E o meio é uma urtiga.
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Inez Marques replied
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