Crónica 503 ir ao bruxo

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Crónica 503 ir ao bruxo, julho 2023

Restos de Colecção: Gazcidla

Desculpem o desabafo, mas não sei se devo ir ao bruxo, pela primeira vez na vida. Ao fundo da rua existe o bruxo do Gazcidla mas creio que já não exerce. Se estivesse nas berças transmontanas, na Eucísia (Alfândega da Fé), aquilo sempre foi terra de feiticeiras e podia descortinar ainda alguma viva para me lançar as sortes, já que não acredito nas cartas de Tarô, nem na leitura de conchas e conquilhas, nem noutras leituras. Mas que devo mesmo ir a quem me acabe com o mau olhado, sim , é preciso. Nem sei se deite sal na soleira da porta, ou reavive os maios nas janelas. Farei juras, esconjuras, mezas e mezinhas, direi as palavras satânicas se necessário, venderei a alma, mas se isto não foi maldição nem sei o que teria sido.

Sucedem-se umas atrás das outras. Neste inverno foi o meu susto cancerígeno e as várias crises e infeções pulmonares da cara metade, com internamentos hospitalares e idas ao pneumologista. A isto os sustos nas viagens de avião daqui para a Ibéria com as dificuldades respiratórias devido ao ar rarefeito que o sistema portátil de captação de oxigénio da atmosfera não conseguia processar obrigando o oxímetro a mostrar valores assustadores. E depois destas cenas todas, entremeadas pela curta satisfação de termos estado uns dias no Pico na primeira saída pós-pandemia e irmos a Vila do Conde passar uns dias com as netas com uma fuga relâmpago para matar saudades de Bragança e dum almoço no Poças… veio outro susto enorme. Num dia em que o nosso filho João tinha ido passar o fim de semana com amigos nas Furnas, a minha cara metade estava a fazer exercícios respiratórios andando na passadeira elétrica, ao terminar ia levantar a base da passadeira como sempre fez, mas deu um jeito e ouviu-se um estalido e ficou prostrada no chão, quase imobilizada. A muito custo consegui ajudar a que se deitasse na cama, mesmo ao lado, onde ficou lamuriando nas horas seguintes sem se mexer. Tive de pedir ao filho que viesse do seu piquenique e ele ajudou a convencer a mãe de que tinha de ir para o hospital, o que aconteceu quando a ambulância chegou. Segui atrás e ao fim de 3 horas, medicada e menos queixosa veio para casa ainda na cadeira de rodas em que tinha ido. Nos dias seguintes nem se conseguiu deitar, pois a única tentativa que fez correu dolorosamente mal e ao fim de seis dias, como previsto pelo médico que a viu, a situação melhorou, conseguiu andar sem cadeira de rodas, tomou um duche e ruma agora para a recuperação.

No ano passado, por esta altura tínhamos montes de saídas e fotos das mesmas, este ano exceto a ida a outra ilha e à península, nada há a mostrar…esperemos que daqui em diante os dias sejam melhores e que melhore com a reabilitação (cinestesia) De uma hora que faz todas as semanas. Se isso não acontecer vou ter mesmo que ir ao bruxo….