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O MUNDIAL DA VERGONHA
A indústria do futebol tornou-se numa enorme hipocrisia.
FIFA, UEFA, Federações de Futebol, Clubes, Agentes Desportivos e muitos jogadores deixaram, há muito, de ostentar o emblema da honra pelo futebol, trocando-a pela ganância do dinheiro e pelos interesses políticos.
A FIFA tem um histórico vergonhoso na “lavagem” de países sanguinários e de regime ditatorial, com a atribuição de mundiais onde menos se espera.
Os interesses de cada um falam mais alto neste fenómeno de “sportswashing”, onde impera não só o dinheiro, mas, também, a tentativa de legitimar regimes.
Ninguém está inocente nisso, nem mesmo os governos de países democráticos, como o nosso, porque há outros interesses políticos que se atravessam em todo este negócio.
O Mundial que começa hoje no Qatar é, todo ele, um hino à vergonha do futebol vendido e aos que se vergam ao dinheiro perante a corrupção de um país que não obedece aos mais elementares direitos humanos, nomeadamente em relação às mulheres ou à comunidade LGBT, às condições de trabalho dos migrantes que ajudaram a construir os grandiosos estádios, não esquecendo os escândalos de corrupção na FIFA, as declarações tontas dos principais intervenientes em todo este negócio e a incultura de muitos deles, que apenas sabem ostentar uma carteira recheada de notas.
Ninguém está limpo neste ajoelhar perante os dinheiros com que os ricaços do Qatar acenaram para o Ocidente, incluindo Portugal, que se rebaixou a um Campeonato Mundial de Futebol nesta altura do ano, em pleno Verão árabe e interrompendo as ligas europeias de clubes.
O triste do presidente da Federação Portuguesa de Futebol, seguindo a narrativa habitual dos incultos do mundo deste negócio, justifica-se com uma decisão tomada há 12 anos, mas não condena.
É a pobreza do nosso país, também ele vergado ao petróleo futebolístico, onde os jornalistas nem terão liberdade total para se movimentar, interpelar e investigar.
É provável que possamos assistir, durante este Mundial, a manifestações de protesto reprimidas, mas no fim vai haver grande festa, champanhe do melhor, fogo de artifício e acompanhantes em Rolls-Royce, com todos a saírem caladinhos de carteiras cheias.
Não na consciência, que esta deverá pesar naqueles que pactuaram com um país sem liberdade, direitos e garantias.
É o futebol das arábias.
Osvaldo Cabral
Editorial “Diário dos Açores” 20-11-2022
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