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Querido pai, meu amor, amor da minha vida
Todas as palavras são, agora, sobras. Porque as dissemos todas. Porque escreveste que “a palavra tem de ser pronunciada. Certa palavra. Dita a tempo, na ocasião apropriada. Riscos, consequências, perdas, tudo é um preço irrisório para a plenitude de ter dito”. A plenitude de ter dito do meu amor, a plenitude do nosso olhar inteiro, um no outro, a força da vida, a força de vida tua, a furiosa luta que há em ti para nunca deixar a mãe, para nunca nos perdermos, a plenitude de ter dito. Pai, meu amor, amor da minha vida, há dez anos escrevi-te uma carta a dizer deste amor que sempre fez do dia de hoje o dia que mais temi na vida e dez anos depois está tudo inteiro, está tudo intacto, nunca houve, entre nós, qualquer lacuna. A plenitude de ter dito, de ter agradecido a possibilidade da minha vida, verdade tão violenta que hoje estou cheia de medo de seguir sem a tua validação assegurada, mas prometi o que sabes que prometi e que seja sempre véspera. A plenitude de ter dito, a plenitude de ter sentido, de tudo em nós fazer sentido, pai, meu amor, amor da minha vida, obrigada. Estou cheia de medo, pai, cheia de medo, mas prometi o que sabes que prometi. Até já, meu amor diário, amor da minha vida.
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