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DIÁRIO DO SUL, 9 fevereiro 2022///
DUPLICOU O NÚMERO DE ELEITORES OLIVENTINOS NAS ELEIÇÕES PORTUGUESAS
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Pouca gente terá reparado, mas nas eleições de 2019 cerca de 500 oliventinos tiveram direito a votar em eleições portuguesas. E este número atingiu os 1.000 em 2022. Osti porque tem crescido o número de oliventinos com nacionalidade portuguesa.
E os jornais espanhóis assinalaram este facto. O Hoy”, de Badajoz .(dois artigos) e o “El Periódico Extremadura”.
Curiosamente, quase nenhum órgão de comunicação português seguiu o exemplo, apesar de a informação ter sido amplamente divulgada. Conjeturar as razões não é fácil. Ou, afinal, talvez seja.
Olivença, infelizmente, continua a ser vista como um tema caro à extema-direita ou a vozes monárquicas. Fazem-se até piadas de muito mau gosto em torno destes pressupostos.
Nada disto tem a ver com a História. Basta lembrar que o presidente do Grupo dos Amigos de Olivença em 1974 era o socialista prof. Hernâni Cidade, e que o regime de Salazar nunca autorizou a legalização do grupo em questão, pelo seu carácter anticolonialista . Mesmo a.polícia franquista via no grupo uma organização judei.maçónica, demo-liberal, e mesmo comunista.,
O discurso mudou de tom em Espanha com os ventos democráticos, e a Associação passou a ser classificada como “salazarista”. Num volte face surpreendente, este discurso chegou a Portugal, e generalizou-se, principalmente à esquerda. Terá sido esta a maior vitória (ainda que póstuma) do franquismo agonizante.
O silêncio, o desprezo, o preconceito e a ignorância rodearam a partir de então o tema “Olivença”.
Nos últimos tempos, porém, e dando razão à velha máxima de que “não há machado que corte a raiz ao pensamento”, um grupo de oliventinos, sem se debruçar sobre o problema ainda latente da soberania, resolveu reivindicar a velha cultura lusa como sua, e, tirando partido da posição do Estado português sobre esta problemática, deu início a um movimento de pedido de nacionalidade portuguesa para os oliventinos que a desejassem. Tudo com base numa herança cultural e histórica inegavelmente portuguesa. Uma questão de afetos e identidade-
Em cerca de seis anos, quase 1.500 oliventinos passaram assim a ter a dupla nacionalidade. E,claro, passaram a ter direito de voto.
O que mais choca nesta situação é a relativa indiferença dos “media” sobre estes factos. É lamentável que os velhos preconceitos sobrevivam mesmo após estes factos que demonstram haver muito de sentimento português em Olivença.
Compreende-se até certo ponto. O preconceito está muito enraizado. A ideia de alguém, sem ganhos visíveis, querer a cidadania portuguesa, é insuportável para muita gente, principalmente entre as elites e os fazedores de opinião, habituados a dizer mal de tudo o que na sua terra se faz.
Desta forma, quase só através de jornais espanhóis podemos saber o que se passa. Mas o que neles se diz é significativo, principalmente quando se dá voz a oliventinos.Algumas frases são significativas. Um pouco ao acaso, eis algumas: «Há alguns políticos que sim, já começam a olhar para Olivença. São 1.300 votos; há localidades portuguesas que não são tão grandes (não têm tantos eleitores).». (…) «Desejo que o Estado português se sinta mais sensibilizado pelo que Olivença implica, que promovesse a língua ou a cultura. Eles são parte implicada.»(…)«ter o voto e a prova de que somos portuguesas de pleno direito com deveres e com responsabilidades. Não encaro isso com ligeireza.»(…) «Pessoalmente, é como um sonho poder decidir tanto no campo político de Espanha como de Portugal.»(…) « Há que falar português e sentir-se português. Sinto-me orgulhoso por ser espanhol, mas também me sinto orgulhoso por ser português».(…) «Gostava que os políticos portugueses fizessem campanha em Olivença. O Estado (luso) poderia promover a língua e a cultura aqui»(…)«Para mim é uma questão de identidade. Sempre me senti, em parte, portuguesa. Tive muitos laços com a cultura, com as tradições ou com o folclore. Sempre tive muita facilidade a falar português. Diziam-me que parecia portuguesa, e para mim isso sempre foi um elogio.»(…) « Fazes isso por “nostalgia” (saudade), mas com isto (votar) dás-te conta de que participas no que se passa em Portugal. É a maior “reafirmação” (confirmação) de que podes fazer uso da tua nacionalidade»
Talvez estas frases levam alguns políticos e intelectuais a refletir, e este texto alerte muitos portugueses para a situação. Sem preconceitos.
Carlos Eduardo da Cruz Luna
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