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Tenho o gasto de partilhar e de vos convidar a ler este oportuno e brilhante artigo de Mário Abrantes.
Vêm aí os russos!
Nas últimas semanas, com novas provas acrescentadas todos os dias, não passa uma hora que não esteja sendo anunciada aos quatro ventos, em tudo o que é comunicação social portuguesa e do mundo ocidental (a quem também chamam livre), a iminente invasão da Ucrânia pela Rússia.
Vêm aí os russos! Vêm aí os russos!
Assustando toda a gente, estamos perante um grito continuado de alarme à escala mundial referente à ameaça de um momentoso conflito armado. Mas, submersos por este alarme contínuo, a realidade que escapa a muitos é que, rigorosamente, não estamos a assistir à chegada dos russos a lado nenhum.
As origens da expressão remetem-nos para os gritos de terror dos nazis em debandada com a chegada do exército vermelho da URSS às portas de Berlim em 1945, ou para o infinito alívio e contentamento das vítimas sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz quando foram libertadas (27 de janeiro de 1945) pelos militares russos. Remetem-nos depois para o período da Guerra Fria e para o infundado receio ocidental de que a chegada dos soviéticos a Berlim não se ficaria por aí e continuaria Europa fora, até Lisboa.
Nem os campos de concentração nazis nem a URSS hoje existem. Os russos remetem-se às suas fronteiras, onde fazem os exercícios militares que, de pleno direito, lhes dão na real gana. Se são responsáveis por alguma “invasão” recente, essa é a do fornecimento de gás natural mais barato à Ucrânia e à Europa por via do projeto Nord Stream 2, agora finalizado, e contra o qual os EUA sempre se manifestaram por pôr em causa o seu atual negócio…
Mas, da outra parte, uma aliança dita defensiva, a NATO, controlada pelos EUA e com a canina submissão da generalidade da União Europeia, sob a suposição de uma nunca confirmada ameaça russa, invade e enche com armas desde 2014 a Ucrânia, um país fronteiriço da Rússia que nem pertence à NATO, e invade e enche com tropas (vindas dos EUA, do Reino Unido e da Alemanha) a Polónia, a Roménia e a Lituânia, países fronteiriços com a Ucrânia.
A Rússia queixa-se que a sua segurança fica assim ameaçada, mais ainda pelo facto de a NATO, ao contrário dos compromissos assumidos na sequência do desaparecimento da URSS e da obrigação de não reforçar a sua segurança à custa da segurança de outros Estados, manifestar a vontade de se estender a territórios ex-soviéticos, como a Ucrânia, e neles continuar a pretender instalar sistemas de armas ofensivas.
Ora analisando o comportamento em tudo menos defensivo que a NATO e os EUA tiveram nos bombardeamentos da ex-Jugoslávia, nas invasões do Iraque e da Líbia ou no Afeganistão, os russos terão provavelmente razão…
Em tal ambiente artificial de alta tensão militar na Europa e no Mundo que só os EUA e o Reino Unido parecem estar a incentivar, enfrentando, ainda que tímidas, algumas atitudes mais prudentes do Presidente francês ou do Chanceler alemão, visando a via do diálogo diplomático, assistimos ao ridículo do Ministro Augusto Santos Silva, qual pulga já com catarro, a ameaçar a Rússia com sanções nunca vistas, ou ao esforço insano da jornalista da RTP Cândida Pinto para conseguir captar o terror dos ucranianos face a uma invasão que nenhum dos entrevistados, até ao momento, considerou estar iminente.
Atos de guerra concretos com base em supostas invasões iminentes anunciadas ao mundo, pouco têm a ver com atitudes meramente defensivas e muito menos com a procura da Paz, expressão aliás caída em desuso nos tempos atuais, para nossa profunda inquietação…
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