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Voltando ao que é a questão, no caso dos aposentados:
Falei do horizonte que se vai esvaziando.
Primeiro temos um sentimento de alívio, que bom, não temos compromissos a respeitar, só os que desejarmos, a liberdade finalmente existe, é concedida, poderemos viver como quisermos.
Contudo, não é o que parece, essa liberdade total. É mesmo perigosa: acordamos e dizemos hoje vou ao cabeleireiro, ou vou ao cinema, ou vou almoçar com amigos, ou ver uma exposição – seja o que fôr, hoje é o dia em que plenamente sinto que quero ir, fazer o que me apetece, sou livre e vou.
Tanta liberdade é enganadora.
Chega o momento fatal em que podemos, se quisermos, mas devagar fomos deixando de querer. Hoje não, irei antes amanhã. E em cada manhã a vontade é menor. Acordamos, e o que queremos é mesmo sair da cama mais tarde. Só os remédios com horas certas nos obrigam (aí está uma restrição à liberdade). Uma vez a pé, seguem-se os rituais, tomar o pequeno almoço, ler jornais, (até que se ficará devagar a ler só os cabeçalhos) tomar banho, vestir, etc.Abrir a televisão ainda é gesto normal. Mas pode ser substituído pelo computador, ou tm. e o facebook. Chega o momento de programar o dia. Perdeu-se a vontade, o sofá, sem mais, é cada vez a opção mais cómoda. Não, não é hoje, hoje não faço nada, faço horas, talvez apareça alguém, filho ou neta (o) escolho uma série na tv.
Sim, nesta velhice dos aposentados livres de compromissos, a cada dia que passa a liberdade é maior, é total e mortal. Ir perdendo a vontade, disto e daquilo é um sinal. Descobre-se que tem de ser alguém próximo a dar por isso e obrigar. Mas sabemos que há cada vez mais idosos vivendo sozinhos, entregues a si próprios e a uma liberdade total que os matará a prazo.
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- Maria Bento“O sonho comanda a vida.”Enquanto a esperança não morre, continuamos a sonhar.
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