o que quer César por Antº Bulcão

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O que quer César?
Depois de 24 anos no poder regional, 20 deles com mando absoluto, o PS está completamente desesperado.
Nota-se tal desespero nas intervenções dos seus deputados, quer na Assembleia Regional, quer nas páginas dos jornais, quer nas redes sociais. Falam e escrevem como se não tivessem qualquer responsabilidade pelo estado em que deixaram a Região em vários sectores fundamentais, como a Educação, a Saúde, os transportes, etc. Quando, afinal, a má gestão desses domínios e as dívidas que cada um deles foi acumulando, é da inteira culpa dos governos socialistas.
O que revela cada vez mais uma evidência: o PS tem de se regenerar. Mas não é fácil, tal revitalização. A forma como Carlos César dominou o partido desde 1995, não facilita em nada o surgimento de novos quadros e, muito menos, a criação de novas ideias e estratégias políticas para a associação.
César moldou o PS à volta da sua pessoa. Começou por afastar aqueles que lhe poderiam fazer frente internamente, mandou sozinho durante os anos em que foi presidente do partido e do governo e, quando deixou a chefia do executivo, foi ele quem escolheu o seu sucessor, Vasco Cordeiro. Mas, concomitantemente, criou o cargo de presidente honorário, com largos poderes, tantos que toda a gente dizia que era ele quem realmente mandava.
Desta autocracia resultou a morte lenta do PS. Deixou de ter voz separada da do governo, nunca mais se ouviram vozes dissonantes no seu interior. Os secretários de ilha calados, ao ponto de nem se saber bem quem são em muitas das ilhas e, mesmo nas ilhas nas quais se sabe, não terem intervenção pública de relevo, muitas vezes delegando a tomada de posição em membros do seu secretariado.
Uma estrutura assim enfraquecida notava-se pouco enquanto o PS deteve o poder regional. Mas começa a ser notória quando o PS passa para a oposição. Os efeitos imediatos notaram-se logo nas recentes eleições autárquicas, com perda de câmaras e juntas de freguesia importantes e vão continuar a evidenciar-se nas próximas eleições para a Assembleia da República, nas quais é provável que o PS perca um deputado nestas ilhas.
Quais serão os candidatos pelo PS ao segundo órgão de soberania em Portugal? César já deixou claro que não será. Avançarão, assim, os pesos pesados, Vasco Cordeiro em São Miguel e Sérgio Ávila na Terceira? Digo pesos pesados porque são os mais conhecidos, dada a tal ausência de regeneração, porque, na realidade, cada vez menos peso têm. Se assim for, abrem um rombo titaniqueiro no grupo parlamentar regional. Mas se apresentarem candidatos desconhecidos, como aconteceu na Câmara de Ponta Delgada, ou mal-amados pelo povo, como foi o caso da Câmara da Praia da Vitória, arriscam-se a não perder apenas um mas dois deputados…
No meio de todo este dilema, Carlos César, que já anunciou não ser candidato à Assembleia da República, tornou público que quer que o Secretariado Regional diminua os seus poderes enquanto presidente honorário. Há três hipóteses para tal decisão.
A primeira, seria César reconhecer, finalmente, o mal que fez ao PS com a sua autocracia e o seu narcisismo. Afastar-se completamente, possibilitar a tal regeneração que o seu dedo imperial, enquanto subsistir, sempre impedirá.
Outra hipótese, bem mais tenebrosa: César não querer diminuir os seus poderes pessoais, mas sim acabar com os poderes do cargo, quando não for ele a exercê-lo. Poderá o imperador sonhar em voltar a ser o sumo mandante do PS regional e novamente candidato a presidente do governo, não querendo que qualquer presidente honorário nele mande como ele mandou em Vasco Cordeiro.
Mas há uma terceira hipótese: César querer escancarar as portas da República ao seu filho, relegando-se para a sombra. Não querer voltar ao poder regional, até porque sabe que na jovem democracia portuguesa o povo não gosta de ver passar a mesma água debaixo das mesmas pontes (veja-se o exemplo de Mário Soares (e era Mário Soares) quando se candidatou ao cargo de Presidente da República depois de o ter sido 10 anos).
Assim exilado, ninguém o poderia acusar de, como presidente honorário, ter decidido o destino do descendente, logo ele, tão acusado de favorecer a família…
A ver vamos. Mas uma coisa é certa: imaginar César a diminuir os seus próprios poderes sem qualquer razão, é semelhante a imaginar Carlos Magno a doar territórios conquistados…
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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