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Lúcia Duarte shared a post.
Depois de dezoito meses de profunda crise, o sector da Cultura, no qual se incluem técnicos, autores, intérpretes, músicos, actores, agentes, produtores, empresas de som e luz, entre muitos outros, está mergulhado na maior crise financeira de sempre.Em muitos casos a crise é humanitária e só a solidariedade da própria classe para com os seus tem evitado a fome.Ora vejamos: não importa celebrar o dia de Camões, ou o dia da língua portuguesa, se for apenas para exaltar um sentimento patrioteiro de pacotilha. Camões era um homem da Cultura. Um Poeta. Não era político.Também Jorge de Sena, Fernando Pessoa ou Josefa D’Óbidos, como milhares de outros criadores. Todos dedicaram a sua vida a engrandecer este país. Todos morreram longe da ribalta e do reconhecimento oficial.Contudo, a todos recorrem os sucessivos governos quando querem dar lustro aos galões da culturinha para enfeitar. O poder adora as ‘gentes da Cultura’.Adora adornar-se delas, rodear-se de senhores e senhoras bem educados e com muitos prémios no palmarés.O poder adora dar medalhas e comendas a rapazes e raparigas rebeldes que pintam, escrevem e fazem ‘cenas culturais’. A realidade é outra: no dia-a-dia os heróis da Cultura são os que a fabricam no silêncio e no anonimato.Não gostam de festas da moda,não tem amigos nos governos nem nunca terão um emprego como Directores-Gerais de absolutamente nada.Não.São os trabalhadores da Cultura: montam palcos, afinam luzes, asseguram que os museus abram portas, que o património não caia aos pedaços, sonham em realizar um filme, sofrem de ansiedade para representar uma peça, choram com a música que compõem.São dedicados à Arte e à Cultura pela razão menos rentável de todas: Amor. Camões era um deles: se não escrevesse, morria.A escrita era-lhe vital. Portugal cavalga o Amor do poeta pela sua língua e pelo seu País mas continua a ser incapaz de reconhecer nos contemporâneos a força maior que a Cultura representa para que o País deixe de ser um lugarejo. Só a Cultura nos salvará da fatalidade da ignorância.Atribuir 0,25 do OE em 2022 à Cultura não é um insulto a quem trabalha nela.É uma afronta a todos os portugueses.Passados, presentes e vindouros.