poeiras do saara ou do vulcão, Félix Rodrigues esclarece

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Hoje fui confrontado com a análise do IPMA sobre partículas em suspensão na atmosfera dos Açores, Nisso estamos de acordo; são partículas. Quanto à origem e génese estamos em perfeito desacordo.
Quando o IPMA afirma que são reações químicas que ocorrem na atmosfera onde o dióxido de enxofre se transforma em sulfato esquecem-se de “coisas” fundamentais:
a) do balanço mássico,
b) da composição das poeiras do Saara,
c) da variação da concentração da matéria particulada ao longo da trajetória das partículas.
Começo pelo balanço mássico.
As concentrações máximas de dióxido de enxofre emitidas pelo vulcão de Cumbre Vieja, medido na atmosfera de La Palma foi de 6,93 micrograma por metro cúbico. Se todo o dióxido de enxofre migrasse para os Açores, transformado em sulfato de sódio, teríamos no máximo 12,1 micrograma por metro cúbico. Isso seria uma pontaria fenomenal, mas mesmo assim o máximo de partículas finas (classe onde estão os sulfatos) nos Açores foi de 20 micrograma por metro cúbico. Quer isso dizer que falta massa para que tenhamos a transformação química que o IPMA sugere. Veja-se na figura 1 a dispersão de sulfatos no Atlântico Norte no dia 29 para se concluir que nas redondezas dos Açores, a norte e a oeste há mais sulfatos do que a concentração que poderia resultar da transformação dos gases do vulcão de La Palma. Se a explicação dos sulfatos é uma hipótese, então, pelo balanço mássico é uma hipótese sem qualquer dado que a suporte.
No que se refere à composição das poeiras do Saara, essas partículas são constituídas por elevadas quantidades de sulfatos. Como é que sei? Analisei-as exaustivamente no meu doutoramento, e por acaso descobri eu, e não o IPMA, que chegavam aos Açores poeiras do Saara. Ora a hipótese de sulfatos é logo incongruente porque, mesmo que o fossem, não saberiam dizer se eram de uma transformação gás-partícula ou de poeiras do Saara com sulfatos na sua superfície. Para garantir que há uma transformação química dióxido de enxofre em sulfato, não basta uma opinião ou um modelo meteorológico. É preciso muito mais, pelo menos o balanço mássico da reação química. É preciso garantir que a reação química ocorreu, pois a atmosfera não é um tubo de ensaio.
Vamos agora centrar-nos na trajetória das partículas e na sua concentração.
As partículas finas, não são obrigatoriamente sulfatos, e há partículas finas de poeiras do Saara que são núcleos de condensação de nuvens. Assim sendo, tanto sulfatos como imensas partículas PM1 são núcleos de condensação de nuvens e têm os mesmos efeitos óticos que os sulfatos. Veja-se na figura 2 a dispersão das PM1, ou de outro modo, de onde saem as partículas finas. Não saem das Canárias ou das suas proximidades. As concentrações vêm a decrescer desde o largo de Cabo Verde de 38, 25 para 20 micrograma por metro cúbico nos Açores.
Sendo poeiras do Saara, há imensas partículas grosseiras na proximidade da fonte que vão caindo pelo caminho, ficando em suspensão apenas as partículas finas (ver como se dispersam as partículas grosseiras na figura 3. Como varia a concentração das PM10 ao longo da trajetória? Passam de 115, para 73 e finalmente para 37 microgramas por metro cúbico nos Açores, perfeitamente compatível com as finas e poeiras do Saara.
Pelo que se acaba de expor, a hipótese de chegar uma quantidade enorme de partículas finas, numa transformação gás-partícula na atmosfera, proveniente do vulcão de La Palma é no mínimo incredível para não dizer outra coisa.
Já agora, reparando bem na figura 3, verão que o ciclone Sam leva atrás de si poeiras do Saara ou então numa interpretação à IPMA, está cheiinho de partículas de sulfatos da emissão do vulcão Cumbre Vieja.
Porquê esta alusão ao Sam? Se se tratassem de partículas de sulfato essas são solúveis em água, mas as de poeiras do Saara não. Assim, no furacão Sam, tudo se teria dissolvido. Como não dissolveu, é porque as partículas são insolúveis, logo, poeiras do Saara. A conjunção desse fenómeno com a emissão de partículas de zonas desérticas e a posição do Anticiclone dos Açores explica a quantidade enorme de partículas finas que chegam ao arquipélago,
Seria muito mais interessante dizer-se que chegam aos Açores partículas do Cumbre Vieja, e isso, não está fora de questão, mas o fenómeno é outro e por serem partículas insolúveis as pessoas devem proteger-se. Sendo sulfatos, teríamos apenas um fenómeno ótico sem grandes preocupações de saúde pública. O IPMA devia preocupar-se mais com essas questões, e em caso de dúvida, aplicar o princípio da precaução em vez do sensionalismo.
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