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18.10. DEMOCRACIA E CIDADÃOS -31.5.19- CRÓNICA 259
De quatro em quatro anos, os políticos (de todos os quadrantes) mostram-se vocalmente muito preocupados com a abstenção, que sobe em cada ato eleitoral. Andamos a ouvir a ladainha, mas depois das eleições esquecem-na rapidamente. Antes, tratam os cidadãos como na idade da pedra, prometendo coisas que não irão cumprir. Descem aos povoados, freguesias, vilas, cidades, mercados, beijam floristas, peixeiras, e demais vendedoras, além de bebés, cães, gatos e periquitos e todos que encontram, convencidos de que são bem aceites. Dantes, ofereciam esferográficas e outra parafernália, agora incluem orçamentos participativos onde os eleitores sugerem e imaginam que se cumpre a democracia, mas depois do ato eleitoral, promessas esquecidas, projetos alterados consoante os lóbis e as forças de pressão a que estão sujeitos se quiserem ser reeleitos.
Os mais jovens criados na era cibernética, sem nada a ver com a política, ligam os fones, olhos colados aos smartphones, seguem em frente, dando votos aos xenófobos, racistas, fascistas e oportunistas que parecem responder aos sentimentos básicos de insegurança. Apesar da facilidade de acesso à informação, esta está minada. Uma falsa notícia repetida mil vezes acaba sendo verdade. Os mais jovens não tiveram um ensino que privilegiasse a capacidade e o pensamento crítico. São incapazes de questionar-se sobre as doses maciças de falsa informação que lhes chega, desde mensagens subliminares na publicidade, a filmes e outras formas de comunicação. Acabam mais facilmente manipulados do que imaginam. O mesmo se passa com idosos, com menos cultura política, que vivem de telenovelas e casas dos segredos, alienados pelo futebol. Sabem mais de cada jogador do que alguma vez saberão sobre os direitos e deveres cívicos.
Em nada ajudam, as revelações de corrupção (a maioria em “águas de bacalhau”), poucos são condenados ou cumprem penas efetivas, levantando dúvidas sobre a investigação e, posteriormente, sobre os juízes. Daqui a tempos teremos percentagens ainda menores de eleitores, quando os eleitos tiverem só os votos das máquinas partidárias porque o povo foi à bola ou à praia…