PEDRO ARRUDA AUTONOMIA INCONSEGUIDA

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Ontem, na Horta, no meio dos discursos de circunstância, próprios da ocasião, uma Sessão Solene dos 45 anos da Autonomia Regional, o Nuno Barata Almeida Sousa, honra lhe seja feita, teve a coragem de dizer “o rei vai nú”, ao apontar as falhas do regime autonómico, seja no combate às desigualdades sociais, seja no tão propalado desenvolvimento harmónico, ou até na simples criação de riqueza. A verdade é que em mais de quarenta anos de vida a Autonomia Político-administrativa dos Açores ficou sempre atrás, não só no ambicionado, mas do mínimo exigível, tal como, de certa forma, o País ficou, no que toca a convergência com os padrões europeus desde a adesão. Mas, voltando aos Açores, na minha opinião, a maior falha, para usar a expressão do Nuno, da Autonomia foi a construção de uma unidade arquipélagica, uns Açores unidos no coração e na consciência dos açorianos, de Santa Maria ao Corvo. Em boa verdade os Açores continuam ainda hoje a ser 9 ilhas distantes umas das outras, em muitos casos ainda 19 concelhos virados de costas uns para os outros, a terra onde, para citar, mais uma vez, o Nuno, “o Espírito Santo da rua da Arquinha está-se cagando para o Espírito Santo da rua do Passal”. E isto é tanto verdade quanto no meio desta gigantesca e idiota crise da Covid foi o próprio Governo Regional que intencionalmente decidiu criar e cavalgar esse novo conceito, absurdo e assassino para a coesão arquipelagica, de “ilha sem hospital”, acentuando e acicatando, ainda mais, o distanciamento e o ódio entre ilhas e, pior de tudo, a desconfiança entre os açorianos de ilha para ilha. No fundo, cedendo e explorando os novos e os velhos bairrismos, num regresso nunca abandonado aos distritos, mesmo aos medievos Donatários, se quisermos, apenas por uns momentâneos e circunstâncias ganhos políticos. A Autonomia falhou porque o Arquipélago nunca existiu, só quando aqueles dois Espíritos Santos se conseguirem respeitar e dar as mãos é que os Açores serão uma verdadeiro arquipélago e não uma abstração, um conceito jurídico para uso nos discursos oficiais. Até lá somos um punhado de esperanças adiadas presas, de facto, pelos cifrões da Europa e perdidas num oceano de ressentimentos entre as ilhas e isso mata qualquer sonho autonómico. Como dizia alguém que não recordo faltam mais Açores na palavra Açores…
Tomás Quental and 1 other
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