Afeganistão: consciência ideológica, nacionalismo e fundamentalismo

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Afeganistão: consciência ideológica, nacionalismo e fundamentalismo
Prometo que será o último post sobre o Afeganistão (ainda que saiba que será uma promessa difícil de cumprir).
Quando a Revolução Socialista foi vitoriosa no Afeganistão, implantou profundas medidas libertadoras, tanto no campo dos direitos civis, como no caso das mulheres e na separação do Estado e religião, como económica, com a reforma agrária. Contudo, houve um descompasso entre o avanço nas relações de produção e as forças produtivas existentes, bem como na superestrutura ideológica. A hegemonia socialista estava em Cabul e arredores, com resistência tribal nos campos. Nada disso seria grave, se não fosse a intervenção imperialista no suporte militar aos fundamentalistas islâmicos do interior do país, que não teriam sido capazes de impedir o progresso e a mudança de consciências caso não fossem articulados e armados pelos EUA e aliados. Cabul recorreu à Moscovo. Infelizmente, nas condições que existiam então, esse auxílio externo, com toda a máquina de propaganda e militar que trabalhou em favor dos fundamentalistas tribais, não poderia ser vitorioso. Cabul não é o conjunto do país.
Este caldo engendrou os talebãs. Que provavelmente, quando governaram entre 1996 e 2001, não contassem ainda com um apoio da maioria da população. Contudo, a intervenção imperialista, da qual os EUA é o maior responsável, mas na qual outros Estados, como Portugal, colaboraram, mudou essa situação. Isto nos deve lembrar de um facto que incrivelmente uma grande parte da esquerda esquece (a social-democracia, a esquerda post-moderna, incluindo muitos trotskistas e mesmo alguns partidos comunistas, encantados com ficções como ‘o projeto europeu’ do grande capital internacional), de que mais potente que a solidariedade de classe ou mesmo a religião, a força ideológica mais mobilizadora nos últimos duzentos anos é o nacionalismo. Obviamente, com distintas implicações em cada caso: se nacionalismo de nações imperialistas ou de colónias e países dependentes; se misturada com conteúdos racistas ou socialistas, etc. Porém, foi e é a maior força mobilizadora dos povos.
Provavelmente, os talebãs, que não eram uma força maioritária, converteu-se hoje nesta, pois apesar de todo os seu reaccionarismo era a única forma de resistência contra a ocupação estrangeira. Infelizmente, quem pagará o preço disto não serão os promotores da invasão, mas as mulheres e o povo afegão em geral.
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  • Gabriel Magalhães

    Cenários possíveis para o Afeganistão após 20 anos de ocupação imperialista: 1) manutenção da ocupação e de uma guerra sem fim; 2) saída dos ocupantes e início de uma guerra civil entre os Talibãs e o exército títere dos EUA. Pior cenário a meu ver; 3) vitória do Talibã sem guerra civil. Dadas as circunstâncias duríssimas, o melhor cenário. É torcer para que o Talibã se conecte à China a partir da Rota da Seda e isso possa garantir algum aprimoramento na infraestrutura e crescimento econômico, de modo a, a média prazo, fortalecer internamente sujeitos que busquem o fim do Talibã. Está claro que algo desta natureza tem que ter tentáculos no meio rural do país, caso contrário um novo 1871 emergirá para esmagar possíveis forças laicas e socialistas que só tenham bases em Kabul.
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  • Carlos Serrano

    Germano Almeida, este post dialoga com o seu.
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