CALHETA PERO DE TEIVE POR FÁTIMA SILVA

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  1. Exmº Senhor Dr. Manuel São João, Secretário Regional do Mar e Pescas
  2. Exmª. Senhora Dra. Maria José Lemos Duarte, Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada
  3. Exmº. Senhor Dr. José Manuel Leal, Presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro
  4. Presidente da Assembleia de Freguesia de S. Pedro.
  5. Homenageados e familiares
  6. Convidados e Amigos

Encontramo-nos, neste lindíssimo espaço que é a Alameda Duque de Bragança, mais conhecido por Relvão, para homenagear os pescadores desta freguesia, alguns entre nós, outros que já partiram, E para o lançamento do livro de Carlos Corvelo César, intitulado “A Confraria de São Pedro Gonçalves”.

Começaria por agradecer e felicitar, o Dr. José Manuel Leal, por esta louvável iniciativa, há muito merecida, aos nossos pescadores de quem tenho muitas saudades e guardo as melhores recordações do tempo que com eles passei, sentada no paredão observando o que faziam.

HOMENS, HERÓIS, que na MUITO NOSSA Calheta de Pêro de Teive, MUITO NOSSA mas que nos roubaram destruindo-a para sempre, moravam e viviam pessoas das mais diversas profissões, mas durante muitos e muitos anos, séculos, os pescadores eram preponderantes, ora labutando em barcos de “boca aberta” nas águas em redor da ilha de São Miguel, ora trabalhando em embarcações de maior dimensão na pesca do bacalhau para os lados dos bancos da Terra Nova. Gente muito trabalhadora, corajosa e honesta!

Foi essa população – em muitos casos pobre, mas sempre digna – que deu vida, protegeu e defendeu a Calheta de Pêro de Teive ao longo do tempo e todo o ambiente que a caracterizava e envolvia, com destaque para o portinho de pesca, “porta” de saída então para o árduo trabalho de muitos, com riscos imensos, e “porta” de entrada no regresso da faina, quase sempre com muito peixe, que se vendia muitas vezes em parte logo à chegada, ainda a saltitar, seguindo depois a maior parte para o velho “barracão” para ser comercializado. Nesse tempo distante, não existiam os apoios sociais que hoje conhecemos. Os pescadores trabalhavam muito para se sustentarem e às suas famílias, gente que sofreu muito, na luta pelo “pão” de cada dia”. Houve muita alegria e muito convívio, mas também houve muito suor e muitas lágrimas.

A profissão de pescador passava de geração em geração, sempre com a mesma determinação, a mesma vontade, a mesma entrega e o mesmo conhecimento. Viviam para o mar e com o mar.

Quando estavam no mar pensavam obviamente na terra segura, nos seus lares e nas suas famílias, mas quando estavam em terra segura sentiam-se atraídos pelo mar, pela pesca e pelo horizonte distante.

Todos os habitantes da Calheta de Pêro de Teive mereciam e merecem respeito, consideração e proteção, mas os pescadores mereciam muito mais, mas não foi o que aconteceu quando, levianamente, há uns 40 anos, políticos mandaram arrasar a Calheta de Pêro de Teive, destruindo em consequência o portinho de pesca, varadouro e ancoradouro de barcos de trabalho, a tal “porta” de saída e de entrada para aqueles que tinham aqui a base do seu “ganha pão”.

Os pescadores nesta zona de Ponta Delgada vinham diminuindo com os anos, mas ainda existiam muitos pescadores quando a Calheta de Pêro de Teive foi arrasada. Não se importaram com eles, não se preocuparam com eles e não os compensaram pela perda do seu portinho de pesca. Os pescadores e as famílias sofreram com essa triste situação. Foi um erro indesculpável, até porque o que veio a seguir foi só trapalhada e mais trapalhada, que parece nunca mais ter fim, apesar de já ter tido um “empurrão” da atual e aqui presente, presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Dra. Maria José Duarte.

Com os pescadores a Calheta de Pêro de Teive tinha um sentido intrinsecamente humano. Sem os pescadores a Calheta de Pêro de Teive tem estado entregue a instáveis interesses económicos e à mercê de decisões políticas em muitos casos nefastas, polémicas e mesmo absurdas.

É por tudo isso que os pescadores da Calheta de Pêro de Teive, muitos já falecidos, merecem a nossa homenagem, pelo seu grande exemplo de trabalho, coragem e honestidade, tão agarrados que eram a esta terra e a este mar. Mereciam um monumento, por mais simbólico que fosse, a lembrar aos mais novos e aos vindouros que a Calheta de Pêro de Teive não era de betão: era, sim, essencialmente, de mar e de gente que amava o mar.

Quem conheceu o que era a Calheta de Pêro de Teive não esquecerá nem perdoará a maldade feita a esta zona e aos pescadores, que de um momento para o outro, sem dó nem piedade, se viram privados do seu portinho de pesca. É uma nódoa negra que fica na história da Autonomia político-administrativa açoriana, acima de tudo porque não se respeitaram pessoas, muitas delas de fracos recursos, para depois entregar a Calheta a interesses económicos. Que fique pelo menos uma lição: a Autonomia político-administrativa açoriana só faz sentido se for para servir as pessoas, resolver os seus problemas e satisfazer as suas necessidades.

Disse.

  1. Presidente da Assembleia de Freguesia de S. Pedro.