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O Tenente-Coronel Ernesto Melo Antunes, co-autor do programa do MFA, várias vezes Ministro nos Governos Provisórios, membro do Conselho dos Vinte, do Conselho da Revolução e do Conselho de Estado, redactor do Programa de Acção Política e Económica e o Documento dos Nove, morreu em 1999.
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- ActiveChrysChrystelloUM DOS MEU MENTORES abr – set 1973…alguns excertos do meu próximo volume chrónicaçores uma circum-navegação … Estive como aspirante a oficial miliciano, no RAL-4 em Leiria, e nos passeios longos de tertúlia com o (major) Melo Antunes nas margens do rio Lis entre março e setembro 1973 ele dizia que se estava a preparar algo para daí a dois ou três anos (no pior cenário, cinco anos). O resto é já história, o 25 de abril trouxe a liberdade de pensamento e de expressão e muita água correu sob as pontes e sou confron-tado por uma sociedade mais desigual do que nunca, de falsa fluência consumista. Falava-se de vida, de Filosofia, de aspirações e sonhos e vivi o suficiente para ver muitos sonhos con-cretizados. Jamais esquecerei o que era viver sem liberdade (especialmente de expressão). Antes do 25 de abril havia uma coisa chamada lápis azul, censura, que em 1972 cortou 70 páginas a um livrinho de poemas adolescentes que publiquei com 32 pp. (“Crónica do Quotidiano Inútil”). Estive como aspirante a oficial miliciano, no RAL-4 em Leiria, e nos passeios longos de tertúlia com o (major) Melo Antunes nas margens do rio Lis entre março e setembro 1973 ele dizia que se estava a preparar algo para daí a dois ou três anos (no pior cenário, cinco anos). O resto é já história, o 25 de abril trouxe a liberdade de pensamento e de expressão e muita água correu sob as pontes e sou confron-tado por uma sociedade mais desigual do que nunca, de falsa fluência consumista. Falava-se de vida, de Filosofia, de aspirações e sonhos e vivi o suficiente para ver muitos sonhos con-cretizados. Jamais esquecerei o que era viver sem liberdade (especialmente de expressão). Antes do 25 de abril havia uma coisa chamada lápis azul, censura, que em 1972 cortou 70 páginas a um livrinho de poemas adolescentes que publiquei com 32 pp. (“Crónica do Quotidiano Inútil”). …Tenho saudades de Timor, Austrália, Bragança, enleado nos novos amores, súbitos e suicidas pelo Faial, Pico e outras ilhas. Tão pronto, a realidade me confronta com a certeza de estar aqui preso e amarrado, as ilhas, mesmo sendo o Éden, podem ser uma prisão.. Dificilmente sairei deste buraco, bem verde e bonito é verdade. É verde, é bonito. E que mais? É verde, é bonito, por vezes, tão deserto como o Saara. Falta-me gente para dialogar a nível intelectual, falta-me um Melo Antunes, José Augusto Seabra e ou-tros, com quem trocar sonhos e imagens do futuro melhor para o país. Falta-me uma tertúlia, um Cená-culo, falar, ouvir, trocar sonhos e discutir opções de vida. O idealismo poético morre comigo, só, silente…..Pedi licença de casamento e findas as curtas férias, regressei a Leiria (RAL-4, Regimento de Artilharia Ligeira nº 4), onde tinha como oficial superior o major, Ernesto de Melo Antunes (mais tarde bem co-nhecido do povo português) com quem tive longas conversas e passeios à beira rio (Liz) sobre a situa-ção sociopolítica e económica do país. Foi uma amizade profunda e li alguns estudos das mudanças que ele (e outros) preparava para o futuro, e iriam ocorrer nos próximos anos (3 a 5 era a previsão dele). Longos passeios após o jantar na messe, do Castelo, em frente ao quartel, até ao rio a falar e a filosofar. Permaneci ali de abril a setembro 1973. …..A situação nos escalões superiores da hierarquia era de confusão e tensão. A cúpula militar viu oficiais desterrados por, alegadamente, terem tomado parte num abortado mini-movimento para depor o Encar-regado do Governo, Níveo Herdade. Dentre os deportados, um Tenente-coronel, dois Capitães, um Juiz e oficiais milicianos, 25 pessoas. A súbita depuração da hierarquia em tão reduzida comunidade foi enorme e causou ondas de choque. Eu tive sorte e fui excluído do lote ao escrever cartas ao Major Melo Antunes, com quem trabalhara anteriormente, a dar-lhe conta da situação. As cartas enviadas pelo cor-reio militar, sujeitas a censura ou destruição, indicavam que seguiriam por meios seguros, através da Austrália e da Indonésia. Assim fiz de facto ao confiar cópias a “hippies” que faziam de Díli o trampo-lim para chegarem ao paraíso que Bali era. As cartas cheias de descrições sobre tudo o que se passava nos bastidores, e que, muito provavelmente não era conhecido em Lisboa, podem explicar eu não ter sido deportado, como queria o Governador interino, Níveo Herdade, de acordo com documentos secre-tos posteriormente revelados pelo coronel Morais da Silva adiante transcritos. Esta brutal, injusta depor-tação e purga é raramente mencionada nos livros que, posteriormente, se publicaram. O General Ali Murtopo, chefe dos Serviços de Informação Militar revela que ‘representantes de organi-zações políticas de Timor têm dirigido apelos à Indonésia para que auxilie a reintegração do território.’ …Confesso que depois do bem-amado mentor Major Melo Antunes, Vítor Alves era um militar por quem nutria respeito e consideração. Era uma pessoa culta, educada e diplomática… abraço chrysexcertos em chronicaçoresmais um excerto de 2005 Depois do almoço, os fumadores vieram cá para fora. Estive a conversar com o Tiago, herdeiro da Gorreana (a que sarcasticamente chamava gonorreia por achar os nomes similares). Casa de Chá da Gorreana não é um sítio onde se vai pelas 5 da tarde tomar a “cupoftea” mas onde se planta, trata e vende o chá, uma das duas únicas explorações da Europa, sendo a outra a de Porto Formoso (a 5 km) onde vi tudo sobre a produção. Era sobrinho do Ernesto de Melo Antunes, que conheci como major e a quem devo muita da indoutrinação política quando coabitei em Leiria de abril a setº 1973. Falámos da sua atividade, do primeiro casamento com a irmã da mãe do Tiago e da grande conspiração anti-regime quando aqui esteve exilado. Foi recambiado em março 1974 para cá pelo Marcelo Caetano, pela se-gunda vez. O regime era mesmo estúpido! Escusado será dizer que vim logo ler o livro “Melo Antunes o Sonhador Pragmático” de MªMa-nuela Cruzeiro e Boaventura Santos, ed. Círculo de Leitores e adorei. Nunca me passara pela cabeça que esta terra de gente afável podia ter sido o coio de arrivistas revolucionários do Império. Após o repasto vim para casa, a Nini ficava a ver fazer morcelas, a burra fugia do João e pedia folga