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Carta a Rodolfo Franca
Entendeu V. Exa por bem gozar com uma crónica minha, publicada neste jornal faz hoje oito dias. Claro que quem goza com as minhas ideias goza comigo, porque eu sou o que penso, mas nem é por isso que lhe dirijo esta cartinha.
Devo, aliás, confessar que hesitei bastante antes de decidir se o faria ou não. Tanto que até abri uma espécie de votação no facebook, para aferir junto dos meus leitores quem acharia que devia escrever sobre a sua “sopa” e quem julgaria dever deixá-lo afogar-se na mesma.
A maioria dos inquiridos achou que não lhe deveria responder. O que não é, de todo, lisonjeiro para si, na medida em que o argumento principal dessa maioria foi que “não valia a pena”. Tire, então, V. Exa as conclusões que conseguir sobre a qualidade do seu escrito…
O meu pedido de desculpas, então, a essa maioria. Prezo imenso as suas opiniões e só não as sigo pelas razões que deixarei abaixo. Creio que compreenderão ter ido em sentido contrário, já que desprezar uma silva ou outra é meio caminho andado para ter o cerrado todo tomado pelos espinhos, como se viu ao longo de 24 anos…
1ª razão – O tema era Educação e a nova postura que a nova Secretária de tal pasta tem tido e vai continuar a ter com todos os intervenientes em tal processo. Matéria demasiado importante para ser gozada por V. Exa. Ainda mais quando é professor e, como deputado, ter sido repetidamente escolhido pela sua bancada para intervir nesse domínio. Claro que não basta ser professor para entender de Educação. Provam-no as suas intervenções em Plenário e a prática governativa de muitos Secretários Regionais dos Governos PS.
As suas declarações na ALRAA têm sido tão desastradas que, pelo menos por duas vezes, já foi contraditado (leia-se corrigido) por Vasco Cordeiro e Andreia Cardoso. Com o tempo, faz-se notar o erro de casting que terá sido a sua escolha, quer para integrar a lista de candidatos, quer para usar da palavra quando se tratar de um assunto tão sério como é a Educação. Restar-lhe-á, no dia em que se tornar insuportável, o deixar-se estar como está ou levantar-se, nas votações.
Mas restam, igualmente, as páginas deste jornal. E tratar a Educação da forma leviana como V. Exa tratou não pode, nem deve, passar sem reparo. Quem leu o que escrevi e o que V. Exa escreveu, tirará as suas conclusões. Mas é preciso que fique claro: governa-se com medidas políticas acertadas, que faltaram durante mais de duas décadas. Se puderem ser tomadas tais medidas num clima de diálogo e concertação, melhor ainda. Políticas erradas decididas num clima de crispação e autocracia é que, espero, nunca mais. Porque os professores, as crianças e jovens estudantes destas ilhas, os seus pais e encarregados de educação, o pessoal não docente das escolas da Região e os funcionários da Secretaria Regional da Educação merecem mais respeito do que aquele que V. Exa está disposto a dar-lhes.
Não, Dr. Franca. Agora não “sorrimos e vamos dizendo que sim a tudo o que qualquer reclamante ali vá pedir”. Recebemos, sim, todos os que nos procuram, esperando que não venham “reclamar” mas “colaborar”. E diremos sim, quando for justo e legal o pedido. Não para “colher votos”, mas para fazer o que está certo. Temos “metas, objetivos e estratégias”. Mas não para continuarmos a descer em todos os indicadores de sucesso. Não “juntamos” Associações de Pais com um Manifesto elaborado por adjuntos. Recebemo-los, para aceitar um Manifesto construído por eles. Não servimos “pequenas, frescas e agradáveis refeições”. Mas, por vezes, lá encomendamos uma pizza para acalmar o estômago, porque se trabalha até tarde. Paga do nosso bolso, já agora. Estamos a criar e a desenvolver verdadeiros Projectos Educativos, pensando nos alunos, não nos interesses dos requisitados para tudo e mais alguma coisa, os tais que alimentaram anos e anos hostes de clientelas gratas.
Termina V. Exa a dizer “vou lá sim senhor e não se preocupem que eu mesmo levo o bolinho. Ou até o tremoço ou os amendoins, por exemplo. Sopa é que não! É que da tigela à boca se perde a sopa, diz o povo. E olha lá, olha lá, é porque o povo é quem bem sabe”. Venha, Dr. Franca. Mas venha para aprender. Não para mandar bocas. Se tiver muita fome, pois traga o bolo, tremoço, amendoins. Mas coma na rua, antes de entrar. Para não sujar o sobrado. Já nos bastam as asas das térmitas, que até isso nos deixaram com projectos de obras nunca realizadas. Venha. Traga até a sua sopinha. Papas é que não. Porque “com papas e bolos…”.
2ª razão – O Senhor é Deputado Regional. Tem responsabilidades acrescidas. Não pode gozar com coisas que lhe deveriam ser sagradas. Claro que, se tivesse mantido a qualidade de simples cidadão, nem saberíamos o que pensa, dado que nem uma linha publicou antes de ser deputado. Mas tente acalmar-se, homem. Pode não acreditar, mas não é assim que se faz política. Começa a agastar os seus próprios pares, acredite. Atira-se como lobo esfaimado a tudo o que venha do lado de lá, sem cuidar de estudar se as medidas serão boas ou más. Se for mais forte que V. Exa, pois continue, despreze estes conselhos, o futuro lhe dirá se esse caminho o leva em frente.
3ª razão – Já entendi o seu estilo, não direi literário, pelo respeito que me merece a Literatura, mas, digamos, “de intervenção”. V. Exa pretende ser irónico. Só que, também aí, a coisa não lhe está a correr nada bem. É muito triste tentar usar a ironia e… não o conseguir. Fica um discurso patético, muitas vezes imperceptível. Mas se V. Exa quer ser como aqueles que contam anedotas e ninguém se ri, chegando ao ponto de explicar a graça que ninguém encontrou, na esperança de ouvir uma gargalhada ao longe, pois continue homem, que para a frente é que é caminho…
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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- Maria Filomena Santos MartinsVerdade


. Este senhor não percebe nada de nada. Dantes nem professor lhe dava jeito, empoleirou se num gabinete a fazer de conta que era presidente do Executivo e foi um tal meter água, nem conhecia os docentes que pertenciam à sua área e defende -lo…See more2
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Victor PereiraFui um dos que achou, que não valia a pena responder. Agora depois de ler a resposta, fiquei contente com a mesma.- Like
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Alberto AzevedoUi! Muito bem, caro António Bulcão ! Mais direto e assertivo seria impossível. Abraço!
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