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CAMILO PESSANHA (Coimbra, 1867 – Macau, 1926), um dos poetas mais puros da literatura portuguesa, nasceu em Coimbra faz hoje 153 anos. Figura maior do Simbolismo português e precursor e mentor dos Modernistas (Fernando Pessoa em particular), deixou-nos um único livro — e ainda assim publicado por iniciativa de Ana de Castro Osório: «Clepsydra» (1920).
Aqui ficam as imagens dos manuscritos autógrafos de um dos seus poemas que Fernando Pessoa quis publicar no n.º 3 do «Orpheu» (que nunca chegou a sair), e o poema de entrada da «Clepsydra». Para quem tiver mais dificuldade em lhe ler a letra, deixo uma transcrição:
Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos…
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze — quanta flor! —, do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
+ + + + + + + + + + + + + + +
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme…
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