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A Festa vai Avante, mas não sabemos como
Edição por António Moura dos Santos
É um tema sobre o qual os decisores políticos têm sido consecutivamente questionados, mas nenhum deles tem ousado dar uma resposta em definitivo: sendo um evento de massas, em que condições se vai realizar a Festa do Avante?
Recordemo-nos dos passos desta polémica:
- Teve início quando o Governo decretou no dia 7 de maio a proibição de festivais de música até 30 de setembro, por força das medidas de distanciamento necessárias em tempo de pandemia;
- Abrangida neste período temporal, a Festa do Avante, marcada para acontecer de 4 a 6 de setembro, por ser um evento com performances musicais, parecia também ser visada pelo veto, razão pela qual o PCP, que a organiza, recordou em resposta que esta não é “um simples festival de música” e sim “uma grande realização político-cultural”.
- No próprio dia, o decreto foi alterado para também abranger “espetáculos de natureza análoga”, ou seja, definitivamente recaindo a medida sobre o Avante.
- No dia seguinte soube-se, no entanto, que se abria a exceção para espetáculos “em recinto coberto ou ao ar livre, com lugar marcado” e que respeitassem a “lotação especificamente definida pela Direção-Geral da Saúde”. Com esta adenda, a possibilidade do Avante ir avante voltou a ser colocada em cima da mesa.
Três meses se passaram com recados de parte a parte quanto ao Avante. Costa, recordando que a atividade política dos partidos “não está proibida”, admitiu que o evento poderia acontecer, Marcelo deixou avisos quanto ao risco inerentes à sua realização, a direita — ainda desagradada com os festejos do 1º de Maio — sugeriu ao PCP o seu cancelamento e os comunistas disseram uma e outra vez que não abdicaram de realizá-lo caso estivessem reunidas as condições;
Chegados a esta fase, a menos de um mês da data estipulada — e depois de já ter sido anunciado o alinhamento cultural do evento — a questão não é se o Avante vai acontecer, mas como.
A organização tornou públicas algumas das medidas de segurança que pretende implementar para esta edição, incluindo um aumento do espaço, menos densidade nas construções (para permitir mais áreas livres) e higienização permanente de zonas comuns, tendo enviado o plano à DGS. No entanto, a polémica recrudesceu quando a TVI24 avançou que a venda de bilhetes não foi diminuída.
Neste momento, as autoridades de saúde estão em reuniões contínuas com a organização do Avante e, enquanto não sair uma decisão definitivo, o Governo vai se esquivando às questões dos jornalistas. Se no dia 10 o secretário de Estado da Saúde disse que “a DGS não toma decisões políticas, toma decisões técnicas“, hoje foi a vez da Ministra da Saúde dizer tudo e nada na mesma frase.
“Não vamos proibir aquilo que está permitido, nem permitir aquilo que está proibido“, respondeu Marta Temido a mais uma invetiva na conferência de imprensa. “Ninguém entenderia que corrêssemos riscos adicionais por uma circunstância de tratamento especial, mas também ninguém entenderia que impuséssemos deveres adicionais àquilo que são as regras específicas com as quais temos estado a trabalhar em áreas como a restauração, os transportes públicos ou os eventos culturais”, adiantou ainda.
A estratégia para ganhar tempo é compreensível. Sendo um tema altamente fraturante, qualquer decisão vai provocar repúdio:
- Os detratores vão considerar injusta a realização, tendo em conta a quantidade de eventos já cancelados;
- Os defensores vão acusar o Governo de uma intolerável proibição caso a Festa do Avante não aconteça, tendo em conta a quantidade de eventos já permitidos.
O barómetro das redes sociais aponta para uma situação tensa, mas desenganem-se os que acreditam que isto fica por aqui. A pressão ainda vai aumentar.