CRÓNICA 309 O ORGULHO LUSITANO 8.1.2020

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CRÓNICA 309 O ORGULHO LUSITANO 8.1.2020 (esta e anteriores em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html)

Não podia deixar de começar por esta notícia que me deixa orgulhoso da herança lusitana: a partir de dia 8 de janeiro 2020 as pensões de reforma portuguesas foram aumentadas entre 1,9€ e 6,3 euros mas os aumentos salariais de juízes e procuradores vão custar ao Estado, pelo menos, 11 milhões de euros. Os números são do jornal Público, que analisou as contas de vários tribunais superiores. É que a medida apenas terá impacto nos magistrados que estão no topo da carreira e que passam a auferir um aumento de 500€ mensais….

Há dias alguém comentava que depois do 25.4.1974 nunca as disparidades salariais portuguesas foram tão grandes, e enquanto a maioria dos habitantes perdeu poder de compra, uma nova elite (muitas vezes, a mesma de antigamente) continuou a aumentar o fosso de disparidades.

Um salário mínimo de miséria (dos mais baixos da Europa dos 28), reformas mais miseráveis ainda são as causas de 1/3 dos portugueses não se poderem aquecer, ou às suas casas, nestes rigorosos invernos portugueses.

As comissões bancárias subiram, os combustíveis, e quase tudo aumentou, como é habitual a 1 de janeiro de cada ano, não há dinheiro para pagar as dívidas do SNS e hospitais mas arranjam-se sempre mais uns milhares de milhões para a corrupção e má gestão da Banca e ainda se aprovam aumentos dos seus excelentes gestores.

Hoje mesmo acabo de retirar esta notícia do blogue LIBERTA A EXPRESSÃO.

DE FACTO, OS AÇORIANOS NÃO SÃO GENTE. Um Açoriano fez um programa ESTAGIÁRIO T, numa empresa Açoriana com um salário pago pelo Governo dos Açores. Era um estagiário T do curso de Gestão e a empresa onde ele estagiou só lhe deu trabalhos pesados. Foi servente de pedreiro a demolir casas, foi carregador de sacas de areia e brita e distribuidor de mercadorias, etc. etc. etc. Teve um acidente de trabalho que lhe provocou a fratura de dois discos da coluna e este mesmo sinistro foi recusado pela seguradora com a alegação de que se tratava duma doença congénita. Mesmo sabendo que o estagiário T estava proibido por relatórios médicos entregues, os responsáveis da empresa continuaram a dar-lhe trabalhos pesados para fazer, com a alegação de que não tinham outro serviço para ele fazer.

Desta situação foi dado conhecimento aos serviços competentes do Governo Regional, os verdadeiros patrões do estagiário e quem lhe pagavam o salário, mas estes fizeram ouvidos de mercador. Hoje este estagiário está com uma desvalorização física grave e limitado nas suas movimentações que lhe vão trazer consequências para o resto da vida.

Depois de ver a notícia de que a Disney foi condenada a pagar uma indemnização de 3.5 milhões de euros a uma portuguesa, a qual obrigaram a trabalhar dez dias com três costelas partidas, fica-se com a nítida sensação de que nós aqui nos Açores não somos gente, somos coisas que eles, os governantes e empresários usam para enriquecerem..

Mas tudo vai bem, com um recrudescer de violência gratuita e homicídios a que Portugal não estava habituado, desde agressões a professores, pessoal médico e de enfermagem, a assassinatos brutais (como o do jovem estudante cabo-verdiano em Bragança ou o filho do antigo inspetor da PJ em Lisboa), a ataques de grupos étnicos mais ou menos determinados (mas que não podem ser citados por fomentarem o racismo que sempre grassou por esses lados). Qualquer que seja a origem étnica dos atacantes e das vítimas há que por cobro a estas situações, mas quem se manifestam são os partidos e grupos mais à direita do espetro político (e depois admiram-se deles começarem a ocupar o poder em vários países.

Nem todos são de direita, de extrema-direita, mas muitos começam a estar fartos da impunidade, das decisões arbitrárias judiciais que mais parece favorecerem os direitos dos criminosos do que os das vítimas. Nem todos são adeptos dos populistas mas são estes que lhes prometem maior segurança e menos injustiças. nos últimos anos os partidos de centro e de esquerda , para ganharem votos aproximaram-se tanto do neoliberalismo económico que deixaram-se de se distinguir (O PS parece o PSD de há uns anos, o PSD parece o CDS, etc.….)

Relendo livros muito antigos com a História da Humanidade vemos como civilizações altamente tecnológicas desapareceram sem se saber porquê, vemos como sociedades altamente desenvolvidas foram alvo de enormes convulsões quando o fosso entre os extremos se acentuava como acontece hoje.

Mais de 3 meses depois do furacão Lorenzo as lojas de víveres (sem receberem navio há um mês) estão vazias nas Flores (e no Corvo) à espera de um navio que há de vir por estes dias, quando vier, se vier, e nada foi feito, e houve mesmo quem pedisse a intervenção das Forças Armadas (Força Aérea) dentre as muitas alternativas de transportar os materiais e mantimentos de que as ilhas precisam, mas vivemos dias de reatividade não de proatividade.

Daqui a uns meses haverá eleições e é preciso começar a anunciar melhores estradas, mais equipamentos desportivos, mais habitação, que deveriam ter sido construídos nos últimos três anos, mas que se guardaram sempre para o ano de eleições como é costume desde sempre.

E o povo que se habituou ao papel de esmoler de subsídios e apoios, desde que começou a era das vacas, deixou de cultivar os campos preferindo importar os alimentos de que carece (até por ser mais barato) e é cada vez menos autossuficiente, e nas ilhas mais pequenas a desertificação humana levou ao êxodo dos mais jovens e cabe aos mais velhos manter os campos arados.

Muito se anuncia e apregoa mas pouco é feito para evitar este calamitoso estado de coisas. Se – ou quando – uma nova guerra mundial eclodir (como agora parece ameaçar) os Açores que dependem de fora para quase tudo ficarão como as Flores de escaparates vazios e barrigas a dar horas., enquanto milhões e milhões são despejados no poço sem fundo das empresas públicas e parapúblicas como a SATA, LOTAÇOR, SINAGA, etc.…. cujos prejuízos somados dão um valor astronómico que bem poderia ter sido aproveitado para melhorar os baixos índices da economia, da saúde, da educação, da justiça que nos martirizam e hipotecam o futuro de todos os açorianos.

Que pena tenho de não ter seguido a carreira de juiz… (ou outra das que nunca se prejudicam).

Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713 [Australian Journalists’ Association MEAA]

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