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6º Galope
Na reciclagem da estupefacção a manifestação blandiciosa de um sistema de enganos mas também a manipulação bastarda do acontecimento que nos burla com ostentação para que a sumptuosidade do poder esmague qualquer iniciativa fora dos parâmetros controladores da ordem mercantil que exibem claramente a ficção da liberdade com o fascínio das fronteiras do gosto da moda do cânone imposto em cada temporada para que seja obsoleto na seguinte e o dinheiro rode imundo através do endividamento dos deslumbrados com o novo feito do velho sem que a novidade seja real na estrutura do produto que nos consome o espírito e nos lança para a decepção do desejo incumprido e a consequente violência no espaço doméstico e público ao espelho da inveja e da codícia como factores incontornáveis da desordem psíquica no seio de comunidades à deriva no pântano social de aparências que escondem misérias caseiras e destroem equilíbrios provocando conflitos onde se exibem as falaciosas democracias musculadas contra quem os sustenta nos poleiros dourados como contra-indicação de serviço público que alimenta a cleptocracia protegida por ordens sinistras que através dos apelidos dominam há séculos contra a tranquilidade convivial de um planeta que se revolta com pandemias e caóticas manifestações do clima escancarando a tragédia para que o excesso seja travado à lei da morte e o desapego do essencial seja forçado na deambulação pelas ruas cinzentas e os novos horizontes sejam miragens como montras inacessíveis exibidas nas artérias da penúria exposta despudoradamente nas televisões à hora dos banquetes dos seus promotores que a história condecorará nas suas páginas se a revolução não regressar rapidamente à ordem do dia
Luís Filipe Sarmento, «Rouge – galopar», 2020
Foto: Isabel Nolasco
